Nordeste ainda é a região mais buscada para o Ano-Novo

Vazamento de óleo que atinge praias desde o fim de agosto preocupa setor, mas destinos seguem em alta

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Pessoas em praia com água verde-clara

Turistas na piscinas naturais de Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE), em setembro de 2018  Adolfo Santos Sonteria/Folhapres

São Paulo

Apesar das manchas de óleo que têm surgido no litoral nordestino desde o fim de agosto, a região continua sendo o sonho de consumo dos brasileiros para passar o próximo Réveillon. 

Segundo um levantamento feito no último dia 17 pela CVC, 6 dos 10 destinos mais procurados pelos clientes da agência para o período de Ano-Novo estão no Nordeste, incluindo o primeiro lugar, Maceió (AL).

O buscador de passagens aéreas Kayak também aponta a preferência pela região. Dos 10 lugares mais buscados para a data, 5 estão ali. 

A cidade de Ipojuca (PE), onde fica Porto de Galinhas, terceiro destino mais procurado pelos clientes da CVC, foi uma das atingidas pelo vazamento de óleo.

Foram duas ocorrências. A primeira delas, menor, aconteceu há seis semanas. Na sexta-feira (18), uma nova e maior leva de óleo chegou à cidade. A mancha não atingiu as piscinas naturais de Porto de Galinhas, mas ficou acumulada em praias vizinhas. A limpeza começou ainda na sexta e seguiu até o domingo (20). 

"Foi uma operação de guerra", diz Artur Maroja, vice-diretor da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) de Pernambuco e dono de duas hospedagens na cidade. Defesa civil, moradores, comerciantes e até turistas foram mobilizados. 

Maroja afirma que as praias da cidade estão limpas e que quem pretende visitar o local não precisa se preocupar. 

"Hoje, Porto de Galinhas está com uma ocupação de 85% nos hotéis, e os turistas estão aproveitando a praia quase normalmente", diz.

Em nono lugar no ranking de destinos mais buscados na CVC, Maragogi (AL), famosa por suas piscinas naturais, também foi afetada pelo óleo, a partir do dia 16 deste mês. Ainda há vestígios do material por lá.

Barco flutua sobre mar cristalino
Galés de Maragogi, a cerca de 130 km de Maceió (AL)  - Marco Ankosqui/MTur

A praia de Carneiros (PE) —que de acordo com a operadora registrou aumento de 400% na procura de turistas para o Ano-Novo em comparação com o ano passado— foi mais uma das afetadas. 

Lá, o óleo chegou no início de setembro e foi retirado. No final da semana passada, porém, apareceram novas manchas. A praia foi limpa, mas os visitantes ainda podem encontrar pequenos resíduos sob a areia. 

O setor turístico está preocupado com uma onda de cancelamentos de reservas e uma queda na procura por novas viagens no verão

Segundo Marina Figueiredo, vice-presidente da Braztoa, associação que reúne operadoras de viagem, se o problema continuar nas próximas semanas, a tendência é que as vendas para o Nordeste diminuam, mesmo em cidades que não foram afetadas pelo vazamento. Em outubro e novembro é feita a maior parte das vendas para a alta temporada.

Marina afirma que pode acontecer alguma mudança nos destinos procurados pelos viajantes. "Dificilmente as pessoas deixarão de viajar."

Na agência de turismo Teresa Perez já existe procura por lugares fora do país com perfil parecido com o do Nordeste, como o Caribe.

No segmento de luxo, os principais destinos na região —sul da Bahia, Jericoacoara e Fernando de Noronha— foram pouco ou nada afetados pelo vazamento, pelo menos até agora.   

Parte dos clientes de luxo vem do exterior, mas por lá a divulgação do vazamento não está forte, segundo Martin Frankenberg, presidente da BLTA (associação nacional de turismo de luxo). 

Ele espera que até dezembro a questão já esteja resolvida. "Ter um problema dessa natureza nessa época do ano é a pior notícia possível, porque o setor ganha dinheiro agora para se sustentar na baixa temporada", afirma. 

Além dos hotéis e das agências de turismo, uma queda no número de viajantes na região afetaria também os moradores locais que trabalham com o turismo, como vendedores de quitutes, motoristas, artesãos e pescadores. "O desastre é ambiental e social", afirma Maroja.

Ao menos 200 locais de 77 cidades, em todos os estados nordestinos, registraram a presença do óleo —a última atualização oficial sobre a incidência do material, feita pelo Ibama, é de sábado (19).

Mesmo as praias que já foram limpas podem ser fonte de contaminação para os visitantes. Segundo Olívia Oliveira, diretora do Instituto de Geociências da UFBA (Universidade Federal da Bahia), depois que as manchas de óleo são retiradas elas deixam micropartículas que os seres humanos não conseguem enxergar. Além disso, o petróleo pode ficar escondido sob a areia. 

"Às vezes, a pessoa anda três metros na praia e fica com o pé manchado, porque a substância está um centímetro abaixo da superfície."

O material pode causar alergias. Quem tiver contato com o óleo deve limpar a pele com água e sabão e, caso não saia, usar óleo vegetal ou mineral.

Mesmo regiões que não registraram manchas podem ter resquícios do material nas águas. "Não é porque você não está vendo que a praia está totalmente livre do óleo", afirma Oliveira.

De acordo com a pesquisadora, a tendência é que o petróleo que ainda está no mar se solidifique cada vez mais, o que facilita a sua retirada. Porém, a contaminação estará presente durante anos, principalmente em rochas e nas regiões de mangue. 

O Procon-SP se pronunciou sobre eventuais cancelamentos de reservas para as praias do Nordeste. Segundo o órgão, os fornecedores turísticos, como hotéis, agências e companhias aéreas, não são obrigados a ressarcir os clientes em caso de desistência, já que a situação no litoral não foi causada por eles.

Mesmo assim, é indicado que as empresas ajam com boa-fé e busquem um entendimento com os consumidores, com opção de mudança na data da viagem ou de devolução de valores. 

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