'Visitei 39 praias em 4 estados e só vi óleo em uma', diz jornalista

Em férias pelo Nordeste, repórter passa por lugares atingidos e escapa por pouco de manchas

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São Paulo

Minha passagem aérea para João Pessoa já estava comprada quando surgiram as primeiras notícias de manchas de óleo em praias nordestinas.

O plano era percorrer de carro o litoral de Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas. Depois de 22 dias de viagem, o destino final seria Maceió, de onde eu e meu namorado pegaríamos o voo de volta para São Paulo.

Às vésperas da saída para as férias, em 28 de setembro, todos os estados do Nordeste tinham sido afetados, exceto a Bahia —o que nos fez pensar na possibilidade de mudar o roteiro e dirigir até lá. Dias depois, o óleo também começava a alcançar a costa baiana.

Mancha de óleo na praia de Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres, no dia 16 de outubro
Mancha de óleo na praia de Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres (AL), no dia 16 de outubro - Carolina Muniz/Folhapress

O jeito foi ir e torcer para que tudo desse certo. Era nossa primeira viagem grande juntos, depois de anos sem conseguir conciliar as férias.

Chegamos apreensivos. Nas areias de João Pessoa, não encontramos nada de óleo. Nenhum vestígio também nas praias do Amor, de Coqueirinho e de Tambaba, que ficam ao sul da capital paraibana.

Na parada seguinte, Natal, vi em um telejornal local que um banhista havia se sujado de óleo na praia de Redinha Nova, no município vizinho de Extremoz. Mas, naquela região, também não cruzamos com nenhuma mancha. 

Num passeio às piscinas naturais de Maracajaú, marinheiros do barco nos disseram que, depois da limpeza dos resíduos da areia, o óleo não havia sido mais visto por ali.

Em 7 de outubro, ao nadar rodeada por golfinhos na praia de Pipa, a 80 quilômetros da capital potiguar, tive convicção de que, naquela parte do litoral nordestino, o pior já havia passado.

 

Seguimos assim por Recife, Porto de Galinhas, Carneiros e Maragogi. Até que, ao chegar a Porto de Pedras, em Alagoas, soubemos que o óleo tinha voltado a atingir o estado.

Ao visitar o santuário do peixe-boi marinho, no estuário do rio Tatuamunha, um guia nos mostrou um vídeo no qual ele havia gravado pequenas manchas na praia. Sua grande preocupação era que o óleo pudesse afetar os animais, ameaçados de extinção.

Em São Miguel dos Milagres, encontramos na praia de Porto da Rua uma única mancha, pouco maior do que uma moeda, em 16 de outubro.

Já hospedados em Maceió, que estava livre de óleo, vimos a triste notícia de que a substância cobria as areias de alguns dos lugares mais bonitos pelos quais passamos: Maragogi e, mais tarde, Carneiros.

Isso nos mostrou que o desastre é mesmo imprevisível. Locais que já sofreram com o problema uma vez ainda não estão a salvo. De 39 praias visitadas nos quatro estados, nos deparamos com uma pequena mancha em apenas uma delas. Mas a incerteza continua. 

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