Até 2040, turista vai viajar sem mala, sem documento e com guia virtual

Roupa impressa sob demanda e reconhecimento facial devem marcar próximas décadas

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São Paulo

No futuro, as malas serão mais leves. Até o final dos anos 2020, o turista poderá alugar no seu destino boa parte das roupas que usará durante as férias, afirma Stefano Arpassy, da consultoria de tendências WGSN.

Esse comportamento segue a tendência da economia compartilhada, que deve continuar em alta.

Para Arpassy, além de possibilitar malas menores, isso pode ajudar o viajante a se misturar à cultura local, vestindo peças que são características do lugar.

O futurologista britânico Ray Hammond, em estudo para a empresa de seguros Allianz Partners, vai mais longe: até 2040, os turistas enviarão suas medidas para os hotéis nos quais ficarão, e as peças serão produzidas em impressoras 3D, tecnologia que deve se popularizar nas próximas décadas. Depois de usada, a roupa será deixada no hotel para reciclagem.

Como a preocupação com a crise climática deve crescer nos próximos anos, o turismo terá que se adaptar para diminuir seu impacto ambiental. 

Segundo Arpassy, a busca por viagens mais corretas do ponto de vista ecológico vai aumentar nos próximos anos e será uma demanda das novas gerações de viajantes.

Zé Vicente

A emissão de poluentes por aeronaves é um dos pontos que serão atacados. A alternativa para as próximas duas décadas, de acordo com Hammond, será a criação de aeronaves híbridas e elétricas, que vão poluir menos e serão usadas em voos curtos. Trens, pelo menos nos países adeptos desse meio de transporte, também serão mais utilizados para viagens internacionais e, por meio de inteligência artificial, circularão de forma mais rápida e coordenada.

Quando não for possível diminuir a emissão de poluentes, entrarão em cena os créditos de carbono, mercado que tende a crescer nos próximos anos. Nesse modelo, empresas basicamente compram o direito de poluir, pagando para companhias que plantam árvores, por exemplo.

Algumas agências de viagem já adotam essa estratégia. Uma delas é a australiana Intrepid Travel, que desde 2010 afirma comercializar viagens neutras em emissão de carbono. 

Conhecer lugares pouco explorados pelo turismo é outra tendência para as próximas décadas (veja abaixo). 

Aplicativos e dispositivos que traduzem idiomas vão se popularizar e facilitar as viagens para lugares com línguas pouco conhecidas, segundo o futurologista Hammond.

Já assistentes pessoais digitais, como os da Amazon, da Apple e do Google, ajudarão a encontrar o destino ideal.

Esses sistemas devem ser cada vez mais comuns e vão reunir dados sobre cada usuário, gerando indicações de viagens customizadas com base em inteligência artificial. As ferramentas poderão até coordenar datas e fazer reservas.

Antes de decidir o roteiro, os turistas vão poder testar a viagem por meio da realidade virtual. Com a tecnologia, será possível “caminhar” pelo destino e conhecer hotéis. 

Esse teste não vai substituir o ato de viajar, segundo Dario Caldas, do Observatório de Sinais. “É uma representação, outra experiência que vai acrescentar algo à viagem.”

A automação também chegará à hotelaria, mas vai depender do padrão da hospedagem, segundo o britânico. Estabelecimentos de luxo terão funcionários para receber os hóspedes, enquanto hotéis populares deverão abraçar a automação para cortar custos. 

Será comum fazer check-in via reconhecimento facial. A identificação digital é uma das apostas para diminuir filas em aeroportos e fronteiras, substituindo o uso de passaportes. A tecnologia, porém, enfrenta desconfianças pelo risco de perda de privacidade.

As próximas décadas devem marcar ainda o início do turismo espacial. A Virgin Galactic, do britânico Richard Branson, dono da companhia aérea Virgin Atlantic, quer levar seu primeiro passageiro ao espaço ainda neste ano —600 pessoas já reservaram um bilhete. 

Há também outros negócios no setor, como a Blue Origin, do fundador da Amazon, Jeff Bezos, e a SpaceX, de Elon Musk, dono da Tesla.

Segundo Hammond, na década de 2040 o turismo espacial será mais barato do que é hoje —um bilhete da Virgin custa US$ 250 mil, mais de R$ 1 milhão. 

Para Arpassy, porém, esse tipo de viagem ainda será algo excêntrico. “Temos muito para conhecer no nosso planeta”, diz o consultor da WGSN. Segundo ele, a crise climática deve deixar os visitantes com pressa. “Pode ser sua última oportunidade de ir para Veneza ou Lençóis Maranhenses.”

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