Tem praia logo ali, mas é bem possível que esse programa fique em segundo plano. Com o fim do Carnaval, as ruas estreitas e íngremes de Olinda estarão abertas para quem procura mergulhar na história de uma das cidades mais antigas do país, que, fundada em 1535, ainda preserva seu patrimônio histórico e cultural.
Conhecer Olinda não carece da companhia de guias. Uma maneira mais confortável de enfrentar o sobe e desce das ladeiras é usar um par de tênis, já que o calçamento é antigo, feito de pedras.
Faz sol e calor praticamente o ano todo, e as chuvas só chegam entre abril e julho.
Um fim de semana pode ser suficiente para conhecer o conjunto de igrejas barrocas e observar o colorido casario colonial, no qual muitos edifícios abrigam hoje cafés e ateliês.
Por toda parte, pinturas, esculturas, xilogravuras e os tradicionais bonecos gigantes adornam a área histórica.
As múltiplas cores que enfeitam as fachadas das casas, como o azul, o vermelho, o verde e o ocre, contrastam com o cinza das ruas e se misturam aos tons de verde dos quintais e do mar.
“O casario foi transformado, sobretudo, ao longo de todo o século 19, quando observamos um processo de modernização de suas fachadas. Hoje, podemos inserir essas casas num repertório mais próximo ao eclético”, explica o arquiteto Roberto Salomão do Amaral e Melo, do CAU/PE (Conselho de Arquitetura e Urbanismo, de Pernambuco).
Duas características chamam a atenção do arquiteto: o traçado e a ocupação do território do sítio histórico de Olinda (cidade antiga), de forte tradição e influência lusitana. A arquitetura colonial foi preservada, sobretudo, em monumentos religiosos, igrejas e conventos das principais ordens religiosas à época, como os beneditinos, os franciscanos e as carmelitas.
O ponto de partida para esse descobrimento é o Alto da Sé.
Lá se encontra o destaque de Olinda, a catedral, com sua fachada branca e amarela. Construída em taipa, em 1540, foi substituída por um templo de alvenaria em 1584, quando recebeu capelas secundárias. A igreja foi restaurada pouco depois da metade dos anos 1970, período em que as suas feições originais da transição entre a Renascença e o barroco foram recuperadas.
Vale falar do concorrido terraço, de onde se descortina a vista litorânea, com quintais, coqueiros, igrejas e casarios, tendo a capital, Recife, e o mar como pano de fundo.
Em frente à igreja, ficam as tradicionais tapioqueiras de Olinda, que preparam a iguaria em fogo de carvão.
A cerca de 700 metros dali, o caminho conduz à igreja mais rica da cidade, a Basílica de São Bento. Ela ostenta um altar de madeira entalhado em estilo barroco, revestido com 28 kg de ouro, e seis tribunas laterais cobertas por dosséis dourados. Nas tradicionais missas de domingo, às 10h, costuma haver apresentações de canto gregoriano.
Por volta das 18h, os sinos das igrejas avisam que é hora de seguir ladeira abaixo. Conforme o sol se despede, outros sons embalam Olinda, vindo de caboclinhos, maracatus, cocos e, é claro, frevos, estilos musicais de Pernambuco.
Talvez o mais animado ponto de encontro do entardecer seja a região dos Quatro Cantos, onde está preservado o casario mais característico da cidade. Ali ocorre o cruzamento de quatro das ruas mais conhecidas da zona histórica: Amparo, Prudente de Morais, Bernardo Vieira de Melo e Ladeira da Misericórdia.
Em meio a ateliês, lojas de artesanato, pousadas, restaurantes e cafés, a Amparo guarda um endereço simples, porém concorrido, que costuma agregar tanto forasteiros como nativos: a Bodega de Véio, mistura de bar e mercearia, uma instituição da boêmia pernambucana, onde se toma cerveja gelada de garrafa em copo americano.
Depois, é espiar o interior dos velhos casarões, de telhados seculares, e os quintais, muitas vezes distribuídos em mais de um plano devido à topografia acidentada do lugar.
Além de aproveitar esses encantos que são tão caros à cidade, o visitante pode ficar à vontade para expressar sua indignação com a política, pois encontra eco na tradição de Olinda, cujo Carnaval leva à risca a velha máxima latina “ridendo castigat mores” (é rindo que se corrigem os costumes).
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