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Turistas pegos de surpresa contam perrengues da quarentena no exterior

Com fronteiras fechadas, viajantes ficam presos em países como Arábia Saudita e Índia

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São Paulo

O fechamento das fronteiras por causa do coronavírus pegou vários viajantes desprevenidos. Não só quem estava de férias ficou preso no exterior, mas também pessoas que adotaram a viagem como estilo de vida ou profissão.

Foi o que aconteceu com Rafael Dallacqua, 33, que estava na Arábia Saudita havia um mês quando a quarentena começou por lá. Desde então, ele já se hospedou na casa de três pessoas diferentes em Riad por meio do Couchsurfing, plataforma que une quem procura hospedagem com quem tem lugar em casa.

No início, ele pretendia esperar o fim do período de isolamento para seguir viagem por Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque e Turquia. Agora, está em contato com o Itamaraty para voltar ao Brasil.

“Se é para não fazer nada, prefiro não fazer nada no Brasil. No segundo semestre, se tudo normalizar, eu retomo de onde planejava estar, na Ásia Central”, explica Dallacqua.

Quem também tenta voltar ao Brasil é o casal Rocío Quiroga, 31, e Wagner Adornetti, 32, que passou por uma situação crítica no litoral do Camboja. Os viajantes estavam em um resort, trabalhando por meio do Workaway, plataforma pela qual é possível conseguir um emprego em troca de hospedagem e alimentação.

No início da quarentena, o resort informou que continuaria aberto, mas não poderia arcar com o combinado. O casal teria que pagar pela hospedagem e cozinhar a própria comida. Após poucos dias, porém, eles foram expulsos.

Os dois, que estão na Ásia desde setembro, decidiram mudar de cidade e alugaram uma casa com outro casal. “Estamos fazendo nossas contas. Não sei até quando poderemos nos sustentar”, diz Rocío.

Segundo ela, houve oferta de um voo por cerca de R$ 9.000, de Bancoc para o Brasil, mas o casal não tinha condições financeiras nem autorização do governo cambojano para sair do país.

“Que tipo de providências serão tomadas? Estou esperando há três dias a resposta do Itamaraty”, diz Rocío.

Procurado, o governo brasileiro diz que está trabalhando para trazer de volta quem continua fora do país. Em nota, o Itamaraty afirma que quem estiver com problemas financeiros pode solicitar ajuda ao consulado ou à embaixada da região, que buscará, “de acordo com as limitações legais existentes, dar apoio aos nacionais em situação de hipossuficiência financeira”.

Na vizinha Tailândia, e sem planos de voltar para o Brasil, estão Larissa Chilanti, 29, e Charles Marsillac, 31.

Eles foram para lá depois de passar pela Índia, onde pretendiam ficar mais dois meses e seguir para Paquistão, Nepal e Mianmar.

Vendo que as fronteiras poderiam ser fechadas, o casal, que está há mais de um ano na estrada, seguiu para a Tailândia, onde conseguiu hospedagem em troca de trabalho. “Com o dinheiro da passagem, dá para viver por seis meses aqui”, diz Charles. Agora, esperam para decidir os próximos passos da jornada.

Outra viajante que não pensa em ser repatriada é Graziele Inacio, 41, que decidiu continuar na Índia. Ela monta expedições em parcerias com projetos sociais e ia ficar de janeiro até junho fora do Brasil.

Para esse período, ela tinha planejado viagens pelo Quênia, Indonésia e Índia. A três dias de começar a expedição no país, o governo local começou a vetar vistos, o que fez a viagem ser cancelada.

Graziele decidiu continuar por lá porque, além de ter uma reserva financeira, sabia que se movimentar pelo mundo poderia trazer riscos para ela e para a família, caso decidisse voltar para o Brasil.

“O maior desafio agora é esse sentimento de não poder ir e vir”, diz Graziele.

Apesar dos muitos relatos de hostilização a estrangeiros na Índia, ela afirma que sua situação é bem confortável. Diz ter sido bem acolhida pelos moradores por estar hospedada na região onde atua em um projeto social.

A pandemia não atrapalhou só os planos de quem já estava na estrada. Carolina Fernandes, 40, começaria em breve uma viagem de três anos com o marido, Alexis Radoux, 40, e a filha Amelie, 3. A ideia inicial era cruzar o Brasil de carro por um ano e depois percorrer a Europa de motorhome.

A família já tinha se desfeito do apartamento e estava hospedada na casa de amigos quando a pandemia explodiu.

O casal alugou uma fazenda em Brotas (SP), de onde acompanha o noticiário para decidir os próximos passos.

“É tudo incerto agora. Mas quando a gente viaja a longo prazo, nada é garantido, tem que estar sempre pronto a mudar os planos sem sofrer”, afirma Carolina.

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