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Como calcular os riscos de viajar durante a pandemia

Toda etapa de uma viagem deixa o turista vulnerável à Covid-19, mas há formas de reduzir a exposição ao vírus

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Sara Aridi
Nova York e São Paulo | The New York Times

Em 2020, viajar parece muito diferente. Abaixo, algumas respostas para ajudá-lo a decidir se realizar uma viagem em meio à pandemia é algo que pode ser feito confortavelmente.

Você se colocaria em risco, ou colocaria outras pessoas em risco?

Mesmo que você não seja parte da população vulnerável —as pessoas de 65 anos ou mais, ou as portadoras de problemas de saúde pré-existentes—, tenha em mente que algumas pessoas que entram em contato com o vírus podem transmiti-lo antes de exibir sintomas, ou podem nem mesmo desenvolver sintomas. Por isso, o mais seguro é que você se comporte como se fosse portador do vírus.

Levando isso em conta, considere a saúde de qualquer pessoa com quem você possa ter contato durante sua viagem ou depois dela —todo mundo, dos frentistas nos postos de gasolina aos seus amigos e parentes. Você pode colocá-los em risco. Por isso, garanta respeitar o distanciamento social e use máscaras, quando apropriado.

E ao retornar, o recomendado é que você se mantenha em quarentena por pelo menos duas semanas. Se você viajar sozinho, garanta que exista um espaço em sua casa no qual você possa fazer quarentena sem contato com os demais moradores, ou garanta alojamentos em outro lugar antes de viajar.

Para onde você vai?

Se o nível de contágio do lugar em que você está for alto, você corre o risco de carregá-lo com você para seu destino. De forma semelhante, se você viajar a algum lugar que está passando por um surto, você estará se colocando em risco e pode trazer o vírus para casa ao voltar.

Com que rigor o local de destino de sua viagem tratou as precauções de segurança? Se você foi extremamente cauteloso, se sentiria confortável ao visitar uma área que não está aplicando o distanciamento social ou na qual as pessoas não estejam usando máscaras?

Quais restrições de viagem estão em vigor?

Muitos países aplicaram regras especiais para viagens a fim de conter a difusão do coronavírus. No momento, residentes do Brasil não estão autorizados a entrar na União Europeia ou na Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein, países europeus que não integram a união, assim como nos Estados Unidos e em diversas outras nações, inclusive na América do Sul.

O que estou autorizado a fazer ao chegar ao local de destino?

Se você está visitando algum lugar para ir a um parque aquático ou espaço cultural, descubra se eles estão abertos e recebendo visitantes.

“Pense em como seria visitar Nova York agora”, disse Rebecca Acosta, diretora executiva da Traveler’s Medical Service, uma organização com escritórios em Nova York e Washington que fornece vacinas e outros serviços médicos de viagem para pessoas e empresas. “Você pode ir ao Central Park, e ele provavelmente terá menos visitantes que o High Line. Há muitas coisas divertidas que você pode fazer —mas os museus estão todos fechados”.

Quando sua data de partida for se aproximando, procure atualizações no site do governo municipal, estadual ou nacional do lugar que pretende visitar. “As coisas vêm mudando rapidamente”, disse Acosta. “O que é válido hoje pode ser muito diferente dentro de seis semanas”.

Onde você vai se hospedar?

Se você precisa ficar em quarentena compulsória ao chegar, isso pode ser difícil caso planeje se hospedar na casa de alguém. Pense no custo de um quarto de hotel ou de acomodações no Airbnb. E pense também em como minimizar os riscos.

Antes de reservar qualquer coisa, pesquisa medidas de segurança. Alguns hotéis adotaram procedimentos de check-in e check-out sem contato humano; outros não permitem que seus funcionários ou novos hóspedes entrem em um quarto menos de 24 horas depois da saída do hóspede anterior. Se você está inclinado a escolher o Airbnb, pergunte ao anfitrião se o espaço estava ocupado imediatamente antes de sua chegada.

De qualquer forma, leve seu travesseiro e carregue com você um desinfetante para limpar frequentemente as superfícies que você venha a tocar. A médica Lin Chen, presidente da Sociedade Internacional de Medicina de Viagem e diretora da clínica de viagem do Hospital Mount Auburn, em Cambridge, Massachusetts (EUA), também sugere abrir todas as janelas de suas acomodações e deixar que o ar fresco entre, assim que você chegar.

Você terá muito contato com pessoas em seu local de destino?

Dada a importância do distanciamento social, Arijit Nandi, professor associado de epidemiologia na Universidade McGill, de Montreal (Canadá), sugere que as pessoas se perguntem se existe alguma parte da viagem durante a qual vão estar em um espaço fechado na companhia de outras pessoas, ou mesmo em um espaço aberto no qual não seja possível manter o distanciamento social.

“Se for possível evitar essas situações, melhor”, ele disse.

A melhor escolha seria aproveitar os grandes espaços abertos. Visite um lugar em que você possa ir à praia, fazer caminhadas ou acampar. Todas essas opções devem ser mais seguras do que ficar em espaços fechados.

E quanto ao sistema de saúde?

Caso você venha a contrair o coronavírus durante sua viagem, é importante ter uma ideia da infraestrutura de saúde pública disponível no local de destino. A área vem conseguindo cuidar de seus moradores? Tem boas instalações para exame? Está rastreando os contatos de pessoas contagiadas? Os hospitais estão superlotados de pacientes do coronavírus?

Outro fator a considerar é seu acesso pessoal a serviços de saúde. Se você adoecer em outro país, seu seguro cobrirá o custo do tratamento?

Você planeja viajar de avião?

Antes de comprar a passagem, descubra como transcorreria o seu voo. Comece verificando as regras adotadas pela companhia de aviação. Muitas anunciaram medidas robustas de desinfecção, e a maioria requer que os passageiros usem máscaras enquanto estiverem a bordo de seus aviões.

Quais são as regras das companhias de aviação quanto a passagens?

Se você está com pouco dinheiro sobrando, considere a probabilidade de ter de reordenar seus planos de voo, e se você teria dinheiro para isso. A maioria das companhias de aviação oferece crédito para futuros voos, e não restituições, em caso de cancelamento.

Se você não conseguir encontrar um voo com mais espaço livre mas pode bancar passagens de classe executiva, caso o voo seja internacional, pense em fazer um upgrade. Isso garante mais distância com relação aos demais passageiros.

O que mais preciso saber antes de embarcar em um avião?

Diversos especialistas disseram que é cedo para determinar o ritmo de transmissão do vírus durante viagens aéreas. Mas enfatizaram que o ar do avião passa por um filtro HEPA, que apanha 99% dos micróbios transportados pelo ar. “No entanto, se houver uma pessoa infectada sentada bem ao seu lado”, disse Nandi, “o filtro não vai ajudar”. Por isso, o distanciamento social é vital.

Se você está viajando com crianças pequenas, garanta que elas estejam de máscara o tempo todo e que não levem as mãos ao rosto durante todo o voo. “Embora as férias costumem servir para aliviar o estresse, no momento parece que elas seriam algo muito estressante de fazer ou administrar”, disse Theresa Fiorito, diretora da Clínica Familiar de Viagem no Hospital Winthrop, da Universidade de Nova York.

Mesmo para os adultos, usar uma máscara por toda a duração de um voo —especialmente se for longo— pode ser desconfortável. Seria útil testar por quanto tempo você consegue usar uma máscara continuamente em casa, para que você saiba o que esperar antes do embarque.

E quanto ao aeroporto?

Embora as viagens tenham sido dramaticamente restringidas pela pandemia mundial, e deixado alguns aeroportos fantasmagoricamente vazios, você ainda precisa ficar atento a todos os pontos de toque no terminal. “Não acho que estar no avião seja necessariamente a maior preocupação”, disse a médica Qanta Ahmed, professora associada de medicina na Escola de Medicina de Long Island, parte da Universidade de Nova York. “E sim estar no aeroporto”.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) publicou uma cartilha com dicas para deixar as viagens mais seguras, por exemplo, usar máscara durante toda a viagem e manter distanciamento de 2 metros nas filas.

Alguns países, como Áustria, Grécia e Islândia, oferecem exames de coronavírus nos aeroportos aos recém-chegados. Se os resultados forem negativos, o visitante fica dispensado de cumprir as regras de quarentena. Caso você tenha a opção de ser examinado no aeroporto de destino, descubra se terá de pagar por isso.

Se a sua viagem for longa, Ahmed sugere voos sem escalas, de preferência a voos com escalas ou conexões. “Pessoas embarcam, desembarcam, equipes entram para limpar o avião”, ela disse. “Acredito que, quanto mais interações houver, maior será o risco”.

E sobre viajar de ônibus?

Talvez um voo esteja fora de questão para você. Embora a frequência das partidas possa ter diminuído, a maioria das linhas de ônibus continua disponível no Brasil.

“O risco é semelhante ao de voar, porque pode haver áreas de espera lotadas, passageiros vindos de lugares diferentes, superfícies que são tocadas frequentemente e estações sem grande ventilação”, disse Chen.

Nandi, por outro lado, diz que é provável que os aviões representem risco menor do que trens ou ônibus porque são bem ventilados. “Não é esse o caso em um ônibus ou no metrô”, ele disse.

Se você embarcar em um ônibus, tome as precauções usuais. Cuide de sua higiene antes e depois de embarcar, use máscara e pratique o distanciamento social sempre que possível. Você também pode carregar lenços de papel para limpar superfícies de uso comum, como apoios ou alças.

E esteja sempre atento a pontos de toque e potenciais interações. Se você estiver tomando um ônibus e precisar adquirir passagem, é mais seguro usar um quiosque eletrônico do que ir a um guichê e entregar dinheiro ou seu cartão de crédito a um atendente.

E quanto a viajar de carro?

Se você prefere viajar de carro, jornadas curtas são mais seguras. Jornadas longas significam que haverá mais pontos de toque ao longo do caminho. Você pode ter de parar para comer, encher o tanque e ir ao banheiro, e se hospedar em algum lugar para dormir, tudo isso usando máscara e respeitando o distanciamento social.

Para algumas pessoas, isso pode ser mais estressante do que realizar um voo curto. É algo que deve ser decidido com base em preferências pessoais. “Uma família pode preferir voar porque é mais fácil se manter hiperalerta por período mais curto”, disse Acosta, da Traveler’s Medical Service.

Que cara terá a viagem?

Se você tem de alugar um carro, telefone para a locadora com antecedência a fim de saber como eles estão desinfetando os veículos e reduzindo os pontos de toque no check-in. Limpar o interior do carro antes de pegar a estrada tampouco atrapalha.

Depois planeje se manter seguro se pretende parar para abastecer, comer ou usar o banheiro. Leve desinfetante suficiente. Use máscara ao sair do carro.

Se você planeja dirigir por longas distâncias, tente evitar passagens por áreas de alto contágio, especialmente se precisar parar para dormir.

Seria melhor evitar viagens?

Não importa que grau de segurança seja adotado nos ônibus, aviões e hotéis, você ainda pode se sentir inseguro caso saia para férias.

Se sua viagem acontece por motivos de trabalho e houver como evitá-la, converse com seu empregador.

Se você se sente compelido a participar de uma ocasião familiar mas não quer colocar a saúde de todos em risco, discuta a situação honestamente com as pessoas mais próximas.

Para aqueles que absolutamente não puderem adiar suas viagens, lembre-se de que usar máscara e respeitar o distanciamento social já ajuda bastante.

Ahmed, da Escola de Medicina de Long Island, estava ponderando sobre férias muito necessárias, em um rancho no Novo México (EUA), depois de dois meses de trabalho com pacientes do coronavírus em uma unidade de terapia intensiva. Mas as preocupações de segurança a convenceram a ficar.

Existe um lado positivo, no entanto: ela diz que, apesar de viver em Long Island há duas décadas, “essa foi a primeira vez que explorei a região”.

“Talvez essa seja minha oportunidade”, ela acrescentou, “de conhecer o lugar que escolhi como lar, e descobrir o que existe para fazer por aqui”.

Como outras pessoas tomaram suas decisões de viagem

“Eu excluí completamente o uso de qualquer meio de transporte que não seja andar ou correr”.
Danny Hajjar, 29, executivo sênior de atendimento em Washington; ele discorda da mulher, que está disposta a viajar de carro a Miami para um casamento.

“Eu ainda preciso ver a natureza e escapar por alguns dias”.
Alissa Kelly, 43, presidente-executiva de uma empresa em Las Vegas, que viajou de avião ao estado de Washington para se hospedar em uma cabana com amigos.

“Eu não queria contrair a Covid e terminar internado. É uma conta que não teria como pagar”.
Cornell Davidson, 24, que trabalha no setor de saúde no Texas e tinha reservado um voo para visitar a família na Flórida, mas cancelou a passagem um dia antes.

“Queríamos escapar das quatro paredes e ver algo diferente”.
Patricia Hager, 80, consultora de viagens no sul da Califórnia, que foi de carro à costa central do estado com o marido, para uma estadia curta.

“Não vou me hospedar num Airbnb. De jeito nenhum”.
Catherine McNeil, 40, do Illinois (EUA), que prefere ficar em hotéis porque acredita que eles mantenham padrões de segurança mais rígidos.

“Quanto menos nos movimentarmos, menor a chance de que alguma coisa se infiltre”.
Regina Griffith, 63, de Nova Jersey (EUA), que se dispõe a fazer viagens curtas de carro mas se preocupa com as paradas e com usar banheiros públicos.

Tradução de Paulo Migliacci

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