Descrição de chapéu férias

Passageiros e comissários precisam ter 'respeito mútuo', dizem profissionais

Funcionárias de companhias aéreas relatam casos absurdos e curiosos a bordo

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São Paulo

Com a possível retomada do turismo e um maior número de voos surgindo no horizonte dos próximos meses —ainda que a recente ameaça da variante ômicron possa colocar novo freio no setor—, mais uma vez comissários(as) de bordo e passageiros estarão frente a frente irritando uns aos outros. Uns solicitam, outros desobedecem, aqueles dão ordens, esses acatam, muitos fingem que não ouvem.

É claro que não precisa ser assim, e "respeito mútuo" é a saída para que essa convivência atinja os altos níveis da velocidade de cruzeiro, segundo as comissárias ouvidas nesta reportagem. Elas também comentaram como parece que algumas das piores facetas do ser humano vêm à tona quando ele voa.

Passageiros causando no avião 3 x 2
Ilustração Luciano Veronezi

Vanessa [nome fictício] passou por muitas situações curiosas quando voava pela Emirates, companhia dos Emirados Árabes Unidos, entre 2008 e 2016. De engraçado, ela lembra quando, em um voo noturno no A380, ouviu um "fup, fup, fup" em algum lugar da cabine econômica e foi averiguar.

"Na calada da noite, um passageiro havia ido até a porta da aeronave e começou a encher um colchão inflável para poder dormir. Eu nem consegui ficar brava, pois achei aquilo tão genial... Embora tenha sido uma ideia imbecil. Isso porque não é à toa que você deve ficar sentado e com cinto de segurança. Pode acontecer uma despressurização (que é raro, eu nunca peguei uma), uma perda de altitude severa (passei por uma e fui jogada para o teto e para o chão) ou uma turbulência (o que acontece todo dia)."

"Essas situações podem machucar demais uma pessoa. Certa vez, em uma turbulência forte, algumas mulheres foram jogadas para o teto e tiveram seus cabelos presos no compartimento que solta a máscara de emergência. Quando caíram de volta, partes do cabelo ficaram grudados lá em cima com pedaços do couro cabeludo. Foram escalpeladas e espalharam sangue pela cabine. Não teria acontecido se estivessem de cinto", ensina.

"Mas, voltando ao egípcio, expliquei também que ele não poderia bloquear a saída de emergência, quanto mais dormir ali. E quem ficou bravo foi ele, pois era egípcio e ‘não tomava bronca de mulher’. Tive que chamar um tripulante homem para ele sair."

Larissa Belkis, que trabalha em uma companhia brasileira, acha que as pessoas ficam muito tensas voando. "Talvez por não ser algo natural da gente, né?".

Ela dá dicas do que você precisa saber para um voo tranquilo: "Não faça ligações em viva voz ou assista vídeos sem fone de ouvido. É impressionante a poluição sonora e é absurdo como em algumas regiões do Brasil não se respeita o espaço do outro".

"Se alguém estiver colocando as malas no bagageiro na sua frente, por favor aguarde a pessoa terminar. Não tente passar por ela, não saia atropelando. Outra coisa, sacola é bagagem de mão. Não adianta trazer travesseiro, cobertor, sacolas e mais sacolas achando que elas não contam. O que as companhias permitem é a mala pequena e uma bagagem de mão, apenas."

"Mas o mais importante é respeitar os outros, sejam comissários ou outros passageiros. Não vejo pessoas sendo gentis com mulheres, nem com idosos. É uma exceção quando alguém ajuda o outro a levantar a mala. E aquele desespero para sair, então?", suspira Larissa.

"Recentemente, uma colega pediu para que todos ficassem sentados até que as primeiras fileiras saíssem do avião, o que é uma recomendação para não aglomerar. Um passageiro levantou e deu um tapa nela, dizendo que sairia quando quisesse. O capitão fez com que ele pedisse desculpas, mas isso poderia ter ido parar na Polícia Federal."

Voando há poucos meses por outra aérea brasileira, Karen [também nome fictício] já teve tempo suficiente para passar por situações críticas. "Esses dias, um passageiro embriagado ficou cantando durante o voo noturno. Ele dizia ser o sertanejo Leonardo (o que não era) e queria se levantar todo o tempo e brincar com as comissárias. Os amigos dele estavam morrendo de vergonha. Conversando com jeitinho, a gente deu um jeito."

Mas tem horas que o jeitinho não dá tempo. A Vanessa da Emirates passou por uma situação dessas em um voo que levava trabalhadores braçais da Índia para Dubai. "Eram pessoas muito pobres, muito humildes, gente que vivia em vilarejos, sem banheiros, sem nada. As empresas pagavam essas passagens para ter mão de obra barata. De repente, uma mulher de sari vai até a porta de saída e fica de cócoras. Quando a tripulação percebeu já era tarde demais."

Após oito anos na Emirates, Vanessa voltou ao Brasil e ingressou em uma companhia daqui. "Acho que o perfil do passageiro brasileiro é melhor. Tem mais senso de humor, costuma entender a situação. Não digo que seja bem educado, porque isso não é. E piorou com a pandemia. É o jeito de você confrontar o funcionário", diz.

"As pessoas chegam armadas, prontas para brigar, loucas para entrar em picuinhas. Atualmente, a Anvisa não permite refeições e só podemos servir água. É preciso que o passageiro entenda que a poltrona é apertada, um bebê vai chorar, a pessoa do seu lado vai levantar para ir ao banheiro. É um inferno", diz ela, sem meias palavras.

Talvez nós, passageiros, precisemos baixar as expectativas quando sairmos de férias. O passeio começa para valer quando chegamos no destino. Já o voo, não passa de um último esforço antes da bonança.

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