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Caraíva quer manter essência de paraíso intocado no pós-pandemia

Depois de cinco meses fechada, vila enfrentou pico de visitantes e busca turismo mais sustentável

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Caraíva (BA)

Os 36 quilômetros de estrada de terra a partir de Trancoso se encerram nas margens do rio Caraíva, ponto final para carros. A partir dali, as canoas são o único transporte para atravessar o rio e chegar à vila de Caraíva, um dos destinos turísticos mais charmosos da Costa do Descobrimento, na Bahia.

Vista da vila de Caraíva, em península com mar e rio; o lugar deve ter grande movimento de turistas no final de ano, depois de quase dois anos de pandemia - Eduardo Knapp/Folhapress

Com cerca de 600 moradores, população que chega a dobrar nos períodos de alta estação, a vila, que fica no sul de Porto Seguro, enfrentou um período de total esvaziamento no início da pandemia seguido da chegada de hordas de turistas a partir de setembro de 2020.

Agora, trabalha para reforçar a sua essência de paraíso intocado, reforçando o ideal de um turismo mais sustentável no pós-pandemia.

"A nossa luta é para manter esse clima de tranquilidade. A essência de Caraíva é essa", afirma a empresária Hermínia Van Tol, proprietária da Pousada Lagoa e moradora da vila desde 1984.

O desejo é resultado do aprendizado da pandemia. Em março de 2020, a vila fechou-se para visitantes por cinco meses, período no qual pousadas e restaurantes ficaram fechados e pessoas de fora da comunidade não entravam.

A experiência fez os laços comunitários se reforçarem. Famílias ajudavam umas às outras e moradores em situação de vulnerabilidade tiveram apoio com cestas básicas e equipamentos de proteção contra a Covid-19.

Na sequência, contudo, a vila enfrentou momentos difíceis durante o Réveillon, quando a vila ficou apinhada de visitantes, parte deles descumprindo regras sanitárias de distanciamento e uso de máscaras.

O cenário de aglomeração gerou reações, incluindo uma carta aberta enviada à prefeitura de Porto Seguro pela Associação dos Nativos de Caraíva.

Com ruas de terra batida, a vila costuma ser refúgio dos turistas que não estão à procura de badalação. Veículos automotores são proibidos de circular, com exceção dos quadriciclos da polícia e da coleta de lixo. Internet e sinal de celular são instáveis na vila.

Turistas cruzam de barco o rio Caraíva para chegar à vila onde carros não entram - Eduardo Knapp/Folhapress

Para refletir o clima de tranquilidade da vila, pousadas oferecem serviços que vão de massagens a aulas de ioga. Em parte delas sequer há televisão nos quartos.

A principal praia fica na foz do rio Caraíva, onde águas escuras do rio misturam-se às águas verdes e mornas do mar e a faixa de areia se abre em formato de triângulo, onde ficam barracas que vendem bebidas e comidas típicas, além de uma quadra de beach tênis.

Durante o dia, além do banho de rio e mar nas proximidades da vila, o turista pode fazer passeios de lancha para outras praias da região, como a Praia do Satu, ou de bugue até a Ponta de Corumbau.

A turista carioca Tatiana Goulart, 33, faz alongamentos na praia de Caraíva - Eduardo Knapp/Folhapress

Outra opção de passeio é o Centro Cultural Porto do Boi, onde durante as manhãs e tardes é possível participar de uma vivência com indígenas pataxós e aprender mais sobre a cultura das tribos locais.

O entardecer é uma atração à parte, com o céu ganhando tonalidades entre o rosa e o roxo que se refletem nas águas do rio Caraíva. Bares e restaurantes costumam ficar lotados no fim de tarde. Mais tarde, também possível curtir um show de forró em uma pequena casa de shows no local.

Numa quinta-feira da última semana de novembro, praias, bares e restaurantes estavam cheios, mas não lotados.

Como a faixa de areia é extensa, era possível curtir a praia evitando aglomerações. O casal gaúcho Alexandre Abreu, 38 e Andréa Rios, 39, por exemplo, escolheu um ponto isolado da praia, onde era possível tirar as máscaras e curtir o sol e o mar.

"A gente viaja normalmente uma vez no ano. Mas dependendo do lugar, você não se sente à vontade porque uma parte do pessoal não respeita protocolos de saúde. Por isso, escolhermos uma viagem com passeios em lugares abertos", diz Andréa, que veio de Porto Alegre para passar oito dias na região.

Prestadores de serviço comemoravam a retomada do turismo nos últimos meses e a expectativa de um verão movimentado —no último, apesar do pico do Réveillon, o movimento caiu a partir da segunda onda da pandemia em janeiro.

"Ficamos seis meses sem receber ninguém. Depois, de lá para cá, o pessoal voltou a vir, mas teve uma nova queda no início do ano. A expectativa é que esse ano a gente tenha um verão melhor", dia Alerkan Santos, 32, que faz parte da diretoria da Associação de Bugueiros Pataxós.

Movimento de turistas no início da noite em bar/restaurante na vila de Caraíva, com o rio ao fundo - Eduardo Knapp/Folhapress

Após pressão da comunidade, a prefeitura limitou as festas de fim de ano a um público de 850 pessoas, a despeito do decreto estadual da pandemia em vigor permitir eventos com até 5.000 pessoas.

Sentado em frente à sua casa próxima à Igreja de São Sebastião, principal da vila, o pescador Antônio Borges da Silva, 87, comia uma melancia para se refrescar do sol do meio-dia.

Nascido e criado na vila, ele afirma que durante a pandemia conseguiu reviver um pouco da tranquilidade da Caraíva de sua juventude. Mas diz saber ser impossível que a vila volte a ser o que era no passado: "Antes até tinha inverno e verão. Agora é como se só tivesse verão".

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