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Piscinas naturais debaixo de ponte histórica refrescam turistas na Espanha

Construída no século 15, Puente de Cuartos fica a 200 km de Madri; verão tem batido 35 graus

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Plasencia (Espanha)

A 200 km de Madrid, na Espanha, uma ponte de pedras de granito do século 15 dá as boas-vindas a quem chega fugindo das altas temperaturas do verão espanhol. É como um portal mágico para uma Espanha selvagem repleta de piscinas naturais, rotas pontilhadas de cerejeiras e aves de rapina prontas para um close-up.

A ponte romana de dois arcos, chamada Puente de Cuartos, fica em La Vera, à beira da estrada EX-203, aos pés da Sierra de Gredos e no nordeste da província de Cáceres, um destino mais explorado pelos locais que pelos turistas internacionais que rondam a capital.

Puente de Cuartos, na comarca de La Vera, à beira da estrada EX-203, no nordeste da província de Cáceres, na Espanha - Fernanda Ezabella

Debaixo da ponte, uma praia improvisada se forma às margens do rio. Jovens pulam nas águas cristalinas dando cambalhotas no ar, enquanto casais estiram suas toalhas nas pedras para um banho de sol.

Apesar de os motoristas pararem logo no acostamento, talvez desesperados por um mergulho refrescante, há no local um estacionamento generoso e dois restaurantes. Quem quiser sumir da vista da civilização pode explorar as trilhas rio acima, embora seja difícil largar as águas geladas no calor de mais de 35 graus que a reportagem enfrentou em junho.

Outra distração são as árvores abarrotadas de pontinhos vermelhos que reluzem nas estradas entre os meses de junho e agosto no Valle del Jerte, comarca vizinha a La Vera. Suas colinas são tomadas por mais de um milhão de pés de cerejeiras, cujas flores brancas pintam o horizonte entre março e abril.

O vale é um dos maiores produtores de cerejas da Europa, sua principal fonte econômica. Há um festival na época das flores, e outro na sequência na época dos frutos.

Cerejeiras na beira da estrada no Valle del Jerte - Fernanda Ezabella

As fazendas recebem visitantes para conhecer o cultivo e colher cerejas do pé, enquanto uma dúzia de restaurantes prepara pratos especiais com a fruta em uma jornada gastronômica aos finais de semana —destaque para muitos gazpachos e marmeladas.

Caixas de cereja são vendidas à beira das estradas e na entrada dos parques, como na Reserva Natural Garganta de los Infiernos, onde fica a piscina natural mais isolada e popular da região, a Los Pilones.

Para chegar, é preciso seguir uma trilha de quase uma hora de subida, tudo bem sinalizado e com bons trechos à sombra. O esforço vale a pena com a vista idílica do rio formando mais de dez pequenas piscinas de águas transparentes entre seus rochedos brancos.

Há quem venha pela caminhada e para um mergulho rápido, e há quem venha para ficar o dia todo, com cesta de piquenique, cachorros e eventuais topless. É muito fácil visitar por conta própria, mas companhias de turismo ecológico organizam passeios pelas fazendas de cerejeira com visita aos Los Pilones no final do dia.

O vale possui uma rota bem documentada de quase 20 banhos naturais. Não é difícil cruzar com algum deles sem querer, como o El Nogalón, bem no centrinho de Jerte, sem necessidade de nenhuma caminhada. A piscina no meio do rio Jerte é enorme, com direito a borda infinita e areia na praia artificial em uma das margens.

A região não passou incólume pelos incêndios florestais que devassam o país e já deixaram mais de 500 mortos. As águas do El Nogalón ajudaram os bombeiros a extinguir as chamas que tomaram um trecho da reserva Garganta de los Infiernos em meados de julho —as autoridades, no entanto, avisaram que os espaços já reabriram sem riscos aos visitantes.

A província de Cáceres, na fronteira com Portugal, também guarda um santuário para os observadores de pássaros em Monfragüe, um dos 16 parques nacionais da Espanha. Estão lá três tipos de abutres, como o inusitado abutre-do-egito, de penugem branca e cara amarela, e a raríssima cegonha-preta.

Com 18 mil hectares, o parque tem entrada gratuita e fica a 60 km do Valle del Jerte. A cidade de Plasencia fica no meio do caminho entre as duas regiões, com um centrinho medieval murado repleto de igrejas antigas, restaurantes e lojas.

Dá para experimentar as iguarias locais, como o tradicional queijo cremoso "torta del casar", feito com leite de ovelha, e o "pimentón de La Vera", um tempero primo da páprica.

Para aproveitar bem Monfragüe, é importante acordar cedo para pegar as temperaturas amenas, quando bandos de abutre-grifos, de cabeça e gola de penugem branca, sobrevoam os rochedos do Salto del Gitano, o mais popular dos vários pontos de observação do parque.

Com sorte, a turma da Sociedade Espanhola de Ornitologia, ou SEO, estará presente com suas lunetas de alta definição para apontar maravilhas que nossos olhos não achariam sozinhos, como um ninho com filhote de cegonha-preta, uma águia-imperial-ibérica, um falcão-peregrino e o enorme abutre-preto.

As trilhas pelo Monfragüe podem deixar o visitante ocupado por um dia inteiro. Do Salto del Gitano, um itinerário leva até o topo do Castelo de Monfragüe, que, na verdade, são ruínas de um forte islâmico do século 9.

No caminho montanha acima, uma caverna reserva um dos mais representativos exemplos de pintura rupestre da península ibérica. O local está fechado a chave, mas um guia do parque oferece tours (3 euros por pessoa) e explica cada uma das imagens antropomórficas e zoomórficas, algumas datadas de 9 mil anos atrás.

Já no topo das ruínas do castelo, onde os abutres voam bem de pertinho, há histórias um pouco mais recentes, do século 12.

O espaço é ponto de romaria para celebrar a Virgem de Monfragüe, uma imagem bizantina que teria sido trazida por cavaleiros das cruzadas na volta da Palestina. Se os abutres e as cegonhas não convencerem da magia de Monfragüe, é só procurar pela santa.

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