Descrição de chapéu pantanal

Pantanal faz turismo gastronômico em cenário de novela

Receitas tradicionais e vivências serão oferecidas por nove hotéis de Mato Grosso do Sul

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Entardecer no Pantanal Elis Regina Nogueira/Mirá Filmes

São Paulo

A partir de dezembro, quem quiser conhecer o Pantanal da novela terá um motivo extra para viajar —nove hotéis e pousadas e uma vinícola de Mato Grosso do Sul serão integrados em uma nova rota gastronômica.

O trabalho de selecionar receitas típicas e propor intervenções que valorizem os ingredientes e temperos locais está a cargo do chef e pesquisador Paulo Machado, autor do livro "Cozinha Pantaneira: Comitivas de Sabores" (Editora Bei) e uma das maiores autoridades do país no assunto.

Sarrabulho, um dos pratos que serão servidos na Rota Gastronômica Pantaneira - Elis Regina Nogueira/Mirá Filmes

Entre julho e agosto deste ano, Paulo visitou os empreendimentos para conhecer pessoalmente os cozinheiros, experimentar os cardápios e, de cada cozinha, selecionar uma receita que se tornará símbolo do lugar.

"O mais interessante desse bioma são as diferenças culturais. São 11 regiões distintas, e as receitas e ingredientes mudam completamente conforme as características hidrológicas, de solo e vegetação. A proposta da rota é mostrar essa diversidade e convidar o turista a conhecer diversos pantanais", explica o chef.

A rota gastronômica, elaborada em parceria com o Sebrae-MS e a Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur), terá seu lançamento oficial no dia 1º de dezembro no Bioparque Pantanal, em Campo Grande, e vai contemplar diferentes faixas de preço e perfis de visitantes.

Há hospedagens simples, como a Pousada Pioneiro, em Miranda, e opções sofisticadas como o Hotel-Fazenda Baía das Pedras, em Aquidauana, que lembra bastante os cenários da novela da TV Globo.

Lá, só se chega de avião monomotor ou veículo 4x4 —o trajeto terrestre a partir de Campo Grande dura sete horas e fica acessível somente no período da seca, de maio a dezembro.

Há até uma vinícola-cervejaria artesanal no roteiro, a Terroir Pantanal Wine & Beer, primeira do Mato Grosso do Sul, que passou a receber visitantes em março de 2022.

Os pratos selecionados por Paulo Machado poderão ser provados de várias formas, já que praticamente todos os empreendimentos promovem experiências ao ar livre. Vai ter piquenique, workshop culinário, caldo de piranha para tomar à beira do rio, durante uma pescaria, e macarrão preparado por um autêntico cozinheiro de comitiva.

O chef e pesquisador Paulo Machado, no Pantanal - Elis Regina Nogueira/Mirá Filmes

Além de receitas especiais, os hotéis e pousadas que fazem parte da rota vão apresentar o artesanato local aos hóspedes e sugerir passeios e vivências, como uma volta de charrete ou de caiaque, cavalgada, safári fotográfico, observação de aves e participação em uma comitiva de verdade.

A época escolhida para a viagem determina o roteiro. No verão, período das chuvas e das cheias, o Pantanal está especialmente quente e vibrante —é a hora certa para passear nos barcos que navegam na altura das copas das árvores e observar o balé das aves migratórias.

Mais fresco e seco, o inverno descortina outras paisagens: é quando se avistam animais como onças pintadas, cervos, jacarés, jaguatiricas, tucanos e capivaras. "Não sei dizer qual estação é mais bonita", derrete-se Paulo. "Melhor, mesmo, é visitar o Pantanal pelo menos duas vezes, em épocas diferentes."

No projeto de Paulo Machado tem comida para todo gosto, com os mais variados sotaques. Os pratos revelam influências árabe, portuguesa, espanhola e até japonesa, compondo um verdadeiro mosaico gastronômico.

O puchero, por exemplo, um cozido de carne com os ossos preparado com o espinhaço do boi, originalmente é feito com grão-de-bico, mas, na versão pantaneira, aparece sem o ingrediente.

Enquanto pescados e carne de jacaré formam a base da alimentação na região mais próxima a Corumbá, a carne bovina é a preferida de quem vive nas imediações de Aquidauana —as duas cidades ficam a 300 quilômetros de distância uma da outra.

"Onde se consome carne bovina, come-se o boi de cabo a rabo. A cabeça é considerada uma iguaria, e os miúdos entram na receita do sarrabulho, de origem portuguesa", diz o chef.

Patrimônio cultural de Aquidauana, a carne oreada é salgada e seca ao sol e pode entrar em diversos preparos. O porco Monteiro, raça europeia que se tornou selvagem no Pantanal, fornece uma carne escura e saborosa, além de banha para cozinhar.

São famosas as farinhas de mandioca produzidas pela Comunidade Quilombola Furna dos Baianos, em Aquidauana, e pela Colônia Pulador, em Anastácio, formada por imigrantes nordestinos.

Também tem muito milho, ingrediente principal da sopa paraguaia —que não é sopa de verdade, mas um bolo de milho salgado. Machado conta que, em suas intervenções, teve o cuidado de não alterar a essência dos pratos.

"As receitas são dos cozinheiros locais, sobretudo das cozinheiras, porque notei uma presença feminina muito marcante nas fazendas. Elas têm o tempero nas mãos. No máximo, sugeri a inclusão de alguns elementos, como a erva mate que entrou na paçoca ou o cominho que adicionei ao sarrabulho."

Enquanto o lançamento oficial da rota não chega, vídeos sobre a expedição do chef, com trilha sonora de Gabriel Sater, o Xeréu Trindade na novela, serão exibidos nas redes sociais e no Youtube.

A popularidade do remake da novela Pantanal, afirma o chef, tem sido fundamental para fomentar o turismo na região. Não por acaso, os dez hotéis e pousadas escolhidos para a rota gastronômica estão localizados ao longo da BR-262, o trecho pantaneiro que serve de cenário para a trama.

"O Brasil passou a olhar para o Pantanal com mais atenção nos anos 1990, quando foi exibida a primeira versão da novela. Agora, depois das queimadas e da seca histórica que enfrentamos, essa retomada tem sido especialmente importante."

Confira o que provar na rota gastronômica do Pantanal

Fazenda Refúgio da Ilha Ecolodge

Est. Parque, s/nº, Miranda (MS). Reservas: (67) 99245-5773. Pacote de três noites, para casal, a partir de R$ 5.540, com pensão completa e passeios (bebidas à parte). O que provar: Carne oreada com purê de abóbora e mandioca.

Fazenda San Francisco

BR 262, km 583, Miranda (MS). Reservas: (67) 3242-3333. Diária para casal, com pensão completa e três passeios, a partir de R$ 1.164. O que provar: Musseline de mandioca com ora-pro-nóbis e puchero de carne com muçarela de búfala e pequi.

Hotel-Fazenda Baía das Pedras

MS-228, Aquidauana (MS). Reservas: (67) 3382-1275. Diárias a partir de R$ 1.200 por pessoa em sistema all inclusive, com passeios e bebidas. O que provar: Sarrabulho pantaneiro.

Pantanal Experiência

BR-262, km 542, Miranda (MS). Reservas: (67) 98481-0132. Diária para casal, com pensão completa e dois passeios, a partir de R$ 1.280. O que provar: Filé de pintado com creme de cumbaru.

Pantanal Jungle Lodge

Est. Parque Pantanal, km 8,5, Passo do Lontra, Corumbá (MS). Reservas: (67) 99614-3603. Diárias a partir de R$ 995 por pessoa, ou pacote de dois dias e uma noite, com pensão completa e quatro passeios. O que provar: Caldo de piranha.

Pousada Aguapé

Rod. MS-171, km 54, Aquidauana (MS). Reservas: (67) 3258-1146. Diária de casal com pensão completa e dois passeios a partir de R$ 1.200. O que provar: Requeijão de corte com doce de leite e farofa crocante.

Pousada Pequi

Estrada MS-171, km 40, Aquidauana (MS). Reservas: (67) 99934-5781. Diárias a partir de R$ 570 por pessoa, com pensão completa e dois passeios. O que provar: Sopa paraguaia com ervas frescas.

Pousada Pioneiro

BR-262, km 535, Miranda (MS). Reservas: (67) 99986-1716. Diárias para casal com café da manhã e noite pantaneira, com jantar e música ao vivo, a R$ 600. O que provar: Macarrão de comitiva.

Recanto Vale do Sol

BR-262, km 17, Corumbá (MS). Reservas: (67) 99904-8325. Diárias para casal com café da manhã a R$ 280. O que provar: Paçoca de carne de sol com banana da terra.

Terroir Pantanal Wine & Beer

R. Carlos Camisão, s/nº, Aquidauana (MS). Agendamento da visita: (67) 99351-3464. Entrada no winebar com degustação de três taças de vinho (ou três calderetas de cerveja) a R$ 120 por pessoa. O que provar: Minitorre pantaneira de carne oreada, coalhada seca, chips de banana da terra e paçoca de pilão.

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