Descrição de chapéu escalada

Podcast 'Pico dos Marins' reacende interesse pela montanha; saiba como subir com segurança

Local retratado em programa sobre escoteiro Marco Aurélio exige preparo físico e informação

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São Paulo

Sumiço de escoteiro, morte de estrangeiro e grupo de viajantes perdidos são notícias que poderiam afastar qualquer ponto turístico de interessados.

O efeito, no entanto, parece ser o contrário quando o assunto é o Pico dos Marins, montanha situada na Serra da Mantiqueira, em Piquete (a 207 km de São Paulo), que voltou a ganhar destaque recentemente com o lançamento do podcast "Pico dos Marins: O Caso do Escoteiro Marco Aurélio".

Pico dos Marins, em São Paulo - Arquivo Pessoal

O programa conta a história do jovem escoteiro Marco Aurélio, de 15 anos, que subiu a montanha com um grupo em 1985 e nunca mais foi visto. Marco foi escolhido para descer sozinho a trilha e buscar ajuda, depois que um dos escoteiros machucou o joelho e precisou ser carregado.

O caso segue como não solucionado nessas quase quatro décadas. Em 2021, a polícia decidiu reabrir o inquérito, depois que o pai do jovem desaparecido reuniu evidências de que seu filho poderia estar enterrado no terreno de uma fazenda no pé da montanha.

As escavações aconteceram em novembro passado —nada foi encontrado, o que faz com que o sumiço do escoteiro permaneça um mistério.

O guia de turismo Milton Gouveia Franco, 57 anos, notou o aumento na procura por passeios na montanha.

Administrador dos sites Acampamento Base Marins e Pico dos Marins, ele é guia na região da Mantiqueira há 18 anos, e por sete deles morou próximo ao Pico dos Marins.

"Tenho certeza de que essa reabertura do inquérito e o podcast ajudaram a aumentar o interesse pelo lugar. Meu site nesta época de baixa temporada tem entre 10 mil e 12 mil acessos, mas vi que agora tem mais de 17 mil. Tem muita gente só curiosa, mas também muita gente querendo conhecer a montanha", afirma o guia.

E, com o aumento da procura, aumentou também a preocupação dos guias com a segurança de quem deseja se aventurar na montanha, que já foi palco de outros incidentes.

Em 2018, o francês Gilbert Eric Welterlin, morreu durante escalada sozinho no local. E, no início de 2022, um grupo de 32 turistas liderado pelo coach Pablo Marçal se perdeu e teve que ser resgatado.

O cume do Pico dos Marins está a 2.420 metros acima do nível do mar. É preciso estar preparado física e psicologicamente para encarar os desafios e desfrutar da bela vista que encanta os montanhistas.

O pico é composto basicamente de rochas neoproterozoicas (formadas pela consolidação do magma em profundidade há cerca de 600 milhões de anos), de acordo com Patrícia Duffles, geóloga, docente da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), e autora de um estudo sobre o local chamado "Marins Granite".

O guia de turismo Anderson Sotero da Mota Dias, 38, dono da agência Desbravadores Trips, que atua na região há seis anos, conta ter presenciado turistas que, mesmo com preparo físico, cometeram erros, assim como visitantes "desavisados" que "travaram" diante da escalada das rochas.

"Tem muita gente que sobe de qualquer maneira, sem equipamento, com alimentação inadequada e que fica com medo dos paredões, porque não buscaram informações antes de ir fazer a trilha. A montanha anda uma bagunça com essa repercussão toda. Tem muita gente curiosa e isso aumenta os riscos", alerta.

O contador Bruno Larucci Saito, 39 anos, morador de São Paulo, faz trilhas há quatro anos. Em julho passado, decidiu conhecer o Pico dos Marins depois de pesquisar sobre o lugar em sites e agências de viagem. Mesmo acostumado com esse tipo de passeio, Saito conta que passou sufoco.

"Tive uma ótima experiencia, mas a trilha de cerca de seis horas é muito desafiadora. Senti uma sensação de vitória quando cheguei no pico, mas fiquei exausto. Tinha partes que tivemos que escalar a montanha", lembra.

"Senti muito frio durante a noite. A barraca congelou do lado de fora. Poderia ter levado mais blusa e manta, não levei comida suficiente. As pessoas compartilharam a comida comigo."

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Barraca congelada do turista Bruno Larucci no Pico dos Marins - Arquivo Pessoal/Bruno Larucci

No geral, o passeio valeu a pena, diz o trilheiro. "O tempo estava aberto. Nunca tinha visto tantas estrelas e a Via Láctea. O nascer e pôr do sol são mágicos. Como não pega sinal de internet, tive ótima interação com as pessoas que acamparam no pico."

E quem pensa que os desafios narrados pelos guias e montanhistas são um obstáculo para as crianças se enganou. De acordo com os guias entrevistados pela Folha, é muito comum pequenos acompanharem os pais nessa aventura, e apresentarem mais disposição e entusiasmo do que muitos adultos.


Como visitar o Pico dos Marins com segurança

Melhor época para ir

Entre abril e agosto (período de menos chuvas)

Duração

8h para subir e descer. É possível acampar e dormir na montanha, ou se hospedar em Piquete ou Marmelópolis para um "bate e volta" ao pico.

O que levar

Calçado e roupas adequadas para ambientes naturais

Medicamento de uso contínuo (avisar alguém do grupo)

Roupa de frio (evite peças de lã)

Garrafa d’água

Shit Tube (para acondicionar fezes de forma higiênica e não poluir)

Para acampantes: barraca (2.000 mm de coluna d’água), saco de dormir para zero grau ou –5 Cº, isolante térmico, manta, fogareiro

Alimentação

Frutas desidratadas ou cristalizadas

Barrinhas de cereais

Doces em barra

Lanche de embutidos, queijos ou tubérculos (evitar maionese e outros produtos que possam estragar)

Isotônicos e sucos de fruta

Cuidado com as crianças

Contratar um guia (para um "bate e volta", o valor médio é de R$ 900)

Fundamental que os responsáveis tenham experiência em ambientes naturais

Levar equipamentos adequados

Ter uma mochila à mão

Levar garrafa d’água

Alimentação adequada

Evite

Ir sem guia

Ir sem nenhum preparo físico

Ir sem pesquisar antes

Levar caixa de som

Fonte: Agência Acampamento Base dos Marins

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que afirmava o texto, a distância de São Paulo à cidade de Piquete é de 207 km, e não de 705 km. O texto foi corrigido. 

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