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26/08/2010 - 10h29

Pegar carona com tartarugas-gigantes era festa de Darwin

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA

Esqueça a careca, a barba branca, o aspecto venerando. Quando pensar em Charles Darwin e Galápagos, imagine um pós-adolescente de 26 anos, de chapéu na cabeça, escarrapachado no lombo de uma tartaruga-gigante.

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Adicione um ou dois estampidos de espingarda --desde moleque, Darwin era um ávido matador de aves-- e está pronto o retrato do naturalista quando jovem: alguém que tinha uma alegria quase pueril em interagir com a fauna das ilhas.

Jaime Borquez/Folhapress
Visitantes caminham ao lado de uma tartaruga-gigante apesar de restrições para se manter a distância
Visitantes caminham ao lado de uma tartaruga-gigante apesar de restrições para se manter a distância

Eis como ele descreve a cavalgada sobre os quelônios:

"Eu subia nas costas delas, dava algumas pancadinhas na parte de trás do casco, e então elas se levantavam e saíam andando. Uma das grandes andava 60 jardas [cada jarda tem uns 90 cm] em dez minutos, ou 360 por hora --nesse passo, o animal andaria quatro milhas [6,5 km] por dia, sem contar um pequeno descanso."

Está claro que o então desconhecido naturalista se divertiu um bocado nas ilhas, mas há um exagero considerável na ideia de que as Galápagos, praticamente sozinhas, "revelaram" a seleção natural a Darwin.

No começo, por exemplo, ele duvidou que cada ilha tivesse seu tipo único de tartaruga-gigante (hoje se sabe que são espécies diferentes) e nem se preocupou em catalogar a procedência dos agora famosos "tentilhões de Darwin" --pássaros descendentes de um ancestral comum que, adaptados a dietas e ambientes distintos, também se diversificaram feito doidos no arquipélago.

EXPERIMENTO NATURAL

O que realmente aconteceu é que os dados de Galápagos, somados aos dos outros pedaços do planeta visitados pelo naturalista a bordo do navio Beagle, acabaram deixando claro que os seres vivos não tinham sido criados separada e diretamente por Deus, mas haviam evoluído para tirar proveito das condições específicas de cada região da Terra.

Nesse ponto, as ilhas eram um experimento natural, um laboratório a céu aberto. Sem grandes herbívoros por perto, meros jabutis podiam virar monstrengos; iguanas "aprendiam" a nadar no mar e comer algas; avezinhas perdiam o medo de serem comidas --afinal, não havia predadores a temer mesmo.

O isolamento permitiu que formas esquisitonas e idiossincráticas, livres da competição, surgissem; esse mesmo isolamento --como, aliás, é o caso das demais ilhas oceânicas do planeta-- tornou essa biodiversidade vulnerável a espécies invasoras, mais cosmopolitas, trazidas pelo homem. Esse é o capítulo mais recente do experimento natural de Galápagos-- e provavelmente o mais desagradável de assistir.

Reinaldo José Lopes, 31, é autor do livro "Além de Darwin" (Editora Globo).

 

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