Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/09/2011 - 07h40

Cemitério histórico de Cingapura dá lugar a prédios

BERNICE HAN
DA FRANCE PRESSE, EM CINGAPURA

O cemitério Bukit Brown, um dos mais antigos de Cingapura, vai fechar as portas: os corpos serão exumados e os túmulos, destruídos, para serem erguidas, em seu lugar, grandes torres habitacionais.

Mas a decisão, mesmo num país densamente povoado, está mobilizando os defensores do patrimônio.

"Bukit Brown contém, sem dúvida, as mais antigas sepulturas chinesas de Cingapura", declara Irving Johnson, professor da Universidade Nacional.

Roslan Rahman/France Presse
Estátuas de guardas Sikh guardam túmulo no Bukit Brown, um dos mais antigos cemitérios da Cingapura
Estátuas de guardas Sikh guardam túmulo no Bukit Brown, um dos mais antigos cemitérios da Cingapura

"Um cemitério não é, apenas, um lugar para enterrar as pessoas. Fala, também, da história e do passado, um significado que vem sendo muito negligenciado no país", completa ele.

O local, situado numa colina coberta de bosques desta cidade-estado, cobre uma superfície de 86 hectares, num dos bairros mais caros de Cingapura --um país no qual a densidade populacional está entre as mais elevadas do mundo, com 7.126 habitantes por quilômetro quadrado.

A demanda de casas, para seus 5,08 milhões de habitantes, é sempre crescente.

O Departamento de Desenvolvimento Urbano preveniu que, tendo em vista a falta de terrenos disponíveis, a prioridade será dada às necessidades mais imediatas, entre elas a habitação e a infraestrutura.

"Medidas sérias devem ser tomadas", disse um funcionário de alto escalão. "A transformação dos cemitérios em locais apropriados à construção de imóveis nos permitirá reciclar os terrenos e responder às novas necessidades".

O calendário para a transformação ainda não foi decidido.

DE 229 A 60

Segundo dados do governo, o Bukit Brown, utilizado desde o início do século 20, é um dos 60 cemitérios ainda existentes em Cingapura. Mas apenas um aceita novos enterros.

E o único neste caso, o cemitério de Choa Chu Kang, na zona norte da cidade, limita as concessões a 15 anos. Após esse período de tempo, os ossos são cremados e colocados em columbários. Para aqueles cuja religião proíbe a cremação, são sepultados novamente, mas em partes menores do terreno.

Em 1952, Cingapura possuía 229 cemitérios, mas a maior parte deles foi fechada e os terrenos, aplainados, para acolher prédios habitacionais e comerciais ou estradas.

Um dos centros comerciais mais famosos da cidade-estado é o de Ngee Ann City, que se ergue sobre um antigo cemitério.

Os defensores do patrimônio consideram que Bukit Brown deva ser poupado, para preservar o pouco que resta do passado, com a atenção voltada às jovens gerações.

"Vocês podem imaginar o que representa a história de Cingapura para as crianças. Não se deve perder isso", lamenta o professor universitário. "Para mim, Bukit Brown é uma herança, à qual deveremos dar uma segunda chance".

PRESERVAÇÃO

"Em 40 anos, vimos a destruição de quase 200 cemitérios", lembra Kevin Tan, presidente de uma associação que luta pela preservação do legado histórico do país.

"Tendo em vista a falta de espaço, é inevitável a desativação de muitos, mas poderíamos tentar preservar outros", segundo ele. "Bukit Brown parece ser o candidato ideal, devido a seus elementos culturais e históricos, além de sua fauna e flora".

Entre as 80 mil sepulturas está a de Ong Sam Leong, um mercador rico enterrado em 1918, seguido de sua mulher, em 1935.

As estátuas, em tamanho real, de dois guardas indianos Sikh, armados com fuzis, zelam pelo túmulo, numa réplica dos guardas que os ricos da cidade tinham o hábito de empregar, na época.

Mosaicos de cores desbotadas pelo tempo recobrem a sepultura, com paredes ornamentadas por imagens de deuses chineses em relevo e poemas antigos. A decoração faz com que a tumba seja chamada de a "oitava maravilha de Cingapura".

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página