Nosso objetivo é fazer com que a bancada ruralista perca força, diz Sonia Guajajara

Ela, Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP) conversaram com a TV Folha sobre desafios da chamada bancada do cocar

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São Paulo

A partir de 2023, a Câmara dos Deputados contará com cinco parlamentares indígenas. Antes disso, poucos ocuparam o mesmo espaço, entre eles, Mario Juruna, morto em 2002, e Joenia Wapichana (Rede-RR), que não conseguiu se reeleger.

"Já estava passando da hora da gente ter um aumento da representatividade indígena", diz a deputada eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP). "Nosso objetivo é fazer com que ruralista perca força", diz.

Ela, Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP), três deputadas indígenas eleitas, conversaram com a TV Folha nesta terça (11) sobre os desafios da chamada bancada do cocar.

Sônia Guajajara (Psol-SP), candidata a deputada federal
A deputada eleita Sonia Guajajara (PSOL-SP) - Leonard Okpor/Divulgação

Em março deste ano, o movimento indígena articulou o Ato pela Terra, em Brasília, que contou com presença de Caetano Veloso, Daniela Mercury, Lázaro Ramos, Emicida, Criolo, Maria Gadú, Letícia Sabatella e Seu Jorge.

Ainda que o ato tenha tido repercussão, naquele mesmo dia, a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de urgência do projeto que libera mineração em terras indígenas.

"Ali foi uma demonstração de que o que vale é o poder do voto [parlamentar], a força do Parlamento, e não o que o povo está reivindicando", diz Sônia Guajajara. "Isso fomentou a nossa vontade de estar lá, de ocupar esse lugar também, que é o espaço de poder e decisão."

"Acho que uma coisa ele [Bolsonaro] fez de bom", diz Juliana Cardoso, que é veradora na cidade de São Paulo há quatro mandatos e agora vai para Brasília. "Acho que ele juntou todos os [indígenas] aldeados e não aldeados por uma luta um pouco mais ampla. A gente conseguiu pensar na importância de termos representações."

"Nós, indígenas, estamos preparados para assumir qualquer lugar, seja Cultura, seja Meio Ambiente, seja Educação", diz Célia Xakriabá, que foi eleita pelo PSOL de Minas.

Sobre a promessa de Lula de criar um ministério específico para tratar de causas dos povos indígenas, ela diz que "nós não queremos que o ministério seja algo somente para jogar no nosso colo".

"O ministério, para funcionar de verdade, precisa ter orçamento e ter uma política muito dialogada e fincada junto aos povos originários", diz Juliana Cardoso. "Nesses 14 anos na Câmara Municipal de São Paulo, eu aprendi duas coisas na marra: se não está escrito no papel que aquilo vai acontecer, não há avanço, e se não há orçamento vinculado, destinado para esse tipo de política, ela não vai conseguir avançar da forma imediata que a gente precisa ter nesse momento, com toda essa destruição do governo Bolsonaro."

"Sempre teve candidaturas indígenas, mas ainda há uma anulação dessas candidaturas dentro dos partidos", diz Guajajara. "A gente precisa travar duas brigas. Uma briga para você chegar no partido, ser aceita no partido e ter uma priorização tanto de apoio político do partido quanto de fundo eleitoral para apoiar a campanha. E a própria campanha em si, de conquistar as pessoas a confiar."

A Folha também convidou para esse debate a deputada eleita Silvia Waiãpi (PL-AP), mas não obteve resposta.

"A gente não pode contar com a Silvia Waiãpi como uma representação da nossa bancada. Ela é uma indígena assumidamente bolsonarista —e, se defende Bolsonaro, não defende as pautas coletivas dos povos indígenas", diz Guajajara. "Fomos eleitas em lugares diferentes e temos posições diferentes, oq ue é totalemnte natural, todo mundo tem suas escolhas. Se ela escolheu Bolsonaro, só lamento."

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