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Precisamos falar sobre crimes corporativos

Diante de tragédias, é importante trazer à tona o debate dos crimes corporativos

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Rafael Alcadipani
São Paulo

O combate ao crime praticado por pessoas comuns é um tema prioritário da agenda nacional.

O Brasil paga anualmente um preço altíssimo pelas perdas materiais, monetárias e principalmente humanas por causa das suas altas taxas de criminalidade.

O tema está cotidianamente na mídia, na preocupação dos políticos e nas políticas desenvolvidas pelos agentes públicos.

Porém, todos os dias pessoas adoecem em razão de más condições de trabalho, o ambiente é degradado por algumas atividades empresariais e pessoas perdem vidas por causa de ações diretas ou indiretas de corporações.

O fato concreto é que, desde as suas origens, as corporações estão envolvidas em ações que causam grande dano ambiental, material e humano no mundo à sua volta e tais ações raramente são enquadradas e consideradas como criminosas.

A lógica dominante é que pessoas físicas comentem crimes, mas as corporações não.

Tal fato chama atenção, pois corporações podem causar tanto ou mais danos do que a criminalidade comum.

Vivemos em uma sociedade dominada por corporações ao ponto de aspectos importantes da vida humana, como a alimentação, serem hoje dependentes daquilo que as corporações produzem.

Além de dominar a cadeia produtiva de bens fundamentais para os seres humanos, as corporações são as instituições mais poderosas do mundo contemporâneo: elas financiavam campanha de políticos que, quando eleitos terminam por se preocupar mais com o interesse corporativo do que com a sociedade, investem grande quantidade de recursos na mídia e chegam até mesmo a financiar formadores de opinião.

Corporações moldam o ambiente à sua volta para que ele beneficie os seus interesses corporativos e deixe de lado o benefício maior da sociedade.

O resultado é que temos assistido nos últimos trinta anos ao surgimento e à consolidação de um discurso de responsabilidade social corporativa como se as corporações fizessem somente o bem da sociedade.

Diante de tragédias como a que assistimos no Brasil, é importante trazer à tona o debate dos crimes corporativos para que não apenas as pessoas físicas seja punidas por crimes mas também para que as corporações sejam investigadas e, se o crime corporativo for constatado, a pessoa jurídica também seja responsabilizada criminalmente.

A lei deve ser para todos.
 

Rafael Alcadipani é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

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