Nas eleições de 1996, uma novidade: em 57 cidades brasileiras, o voto seria feito não por papel, mas através de um equipamento eletrônico
"O procedimento é simples, como operar um telefone ou um caixa eletrônico de banco", noticiou a Folha na ocasião
A invenção causou um rebuliço no sistema eleitoral do país
Foi desenvolvida por uma comissão do Tribunal Superior Eleitoral apelidada de "Os Ninjas"
Como na equipe três pessoas tinham ascendência japonesa e todos se comportavam de forma meio misteriosa, ganharam o apelido
O representante da equipe foi Giuseppe Janino, na época analista de sistemas do TSE. Além dele, o time era composto por três técnicos do Inpe e um do CTA
O primeiro nome do aparelho era “coletor eletrônico de voto”, uma pérola do antimarketing, depois mudado para o mais amigável “urna eletrônica”
- A engenhoca tinha de ser uma única peça, para facilitar transporte e dificultar perda de alguma das partes
- Precisava ser “stand alone”, ou seja, capaz de funcionar autonomamente, sem fontes externas de energia
- Tinha de ser fácil de usar
Após muita discussão, os “ninjas” chegaram a três diretrizes:
Poucas pessoas tinham familiaridade com computador em 1996. Quase ninguém tinha em casa. O teclado então seguiu o mesmo layout do telefone, com a mesma disposição de números
Giuseppe Janino, o "pai da urna", em entrevista à Folha em 2018
O risco de fraude na produção das urnas não existe, segundo Janino
Todo o sistema é desenvolvido pelo TSE, e fabricação, cujo contrato é da empresa alemã Diebold, é acompanhado por técnicos do tribunal
O cartão de memória que carrega os resultados é protegido por um lacre especial feito pela Casa da Moeda. “É impossível haver violação sem deixar rastros”
“Ouço muito uma pergunta: se invadem a Nasa e o Pentágono, por que não invadiriam a urna? Simples, porque a urna não está em rede”, explica
A urna eletrônica veio para solucionar três grandes problemas na apuração dos votos: lentidão, erro e fraude
Desde 1996, o aparelho emagreceu de 12 kg para 9 kg, é cerca de 20% menor e tem autonomia de bateria de 12 horas, 50% a mais do que no início
Transportada para 460 mil seções eleitorais pelo país, suporta todo tipo de desafio logístico. “Tem que resistir a impacto, salinidade, calor”, diz Janino
A urna veio onze anos após o fim da ditadura militar no Brasil, em 1985. O movimento das Diretas Já foi importante nesse processo
Gil Passarelli, Pedro Ladeira, Lucas Lacaz Ruiz, João Wainer, Lalo de Almeida e Silva Junior/Folhapress Acervo Folha Mateus Bonomi/AGIF Tribunal Superior Eleitoral MillMotion/Giphy