O ano era 1904. O Brasil enfrentava vários surtos de doenças
O presidente Rodrigues Alves colocava em prática sua política de higienização do Rio de Janeiro, então capital do país, que desalojou milhares de famílias
Para justificar sua política de mudanças, enviou em 1903 a seguinte mensagem ao Congresso: “Os defeitos da capital afetam e perturbam todo o desenvolvimento do país”
Ele se referia à disseminação de epidemias por toda a cidade. Quando os navios atracavam no porto do Rio, tripulantes e passageiros evitavam desembarcar por medo do contágio
Para comandar o combate a essas doenças, o presidente escolheu Oswaldo Cruz para o cargo de diretor de Saúde Pública, o equivalente a ministro da Saúde
Dotado de “poderes inquisitoriais” o médico definiu como alvos principais a febre amarela, a peste e a varíola
O poder público conseguiu erradicar a febre amarela e a peste com relativo sucesso
Mas, quando a imunização contra varíola se tornou compulsória, o ambiente se inflamou
Em 9 de novembro de 1904, o governo federal publicou a regulamentação da campanha contra a varíola. No mesmo dia, o jornal A Notícia divulgou pontos do documento que assustaram os cariocas
Oswaldo Cruz previa uma campanha rápida e passava a exigir atestado de vacinação para matrícula na escola, admissão no emprego, viagem e até casamento
Além disso, uma questão de honra: os chefes de família não queriam que agentes de saúde aplicassem a vacina nos braços e pernas de seus filhos sem sua presença
Além da questão moral, os habitantes do Rio temiam a truculência dos funcionários da saúde pública
Havia ainda a forte oposição política a Rodrigues Alves, que incluía jovens militares e monarquistas
Em 10 de novembro, um dia depois da regulamentação, protestos tomaram espaços públicos. Oradores acabaram presos por policiais, que receberam pedradas dos manifestantes
No dia seguinte, um comício no largo de São Francisco de Paula reuniu uma multidão. Palavras de ordem contra a vacina se juntavam às vaias à brigada policial, que reagiu violentamente
Daí em diante, a região central foi tomada por uma enorme rebelião
Com a cidade em obras da reurbanização, os manifestantes arrancavam pedras dos novos calçamentos para atirar nas autoridades, destruíam as lâmpadas da iluminação pública e incendiavam os bondes
Diante do caos, o governo convocou tropas fluminenses, paulistas e mineiras do Exército e da Marinha e dos bombeiros
No dia 16 de novembro, o governo revogou a obrigatoriedade da vacina de prevenção à varíola e as manifestações diminuíram sensivelmente até o seu esgotamento
Historiadores argumentam que não foi apenas a vacina que motivou os protestos, mas uma série de medidas como o arrocho da economia, desemprego e o desalojamento de famílias
14 anos depois, a gripe espanhola assolou o Rio de Janeiro. Entenda: