Iacanga: o Woodstock brasileiro

Fuscas paravam no meio da grama e deles saltavam hippies desgrenhados em shortinhos, biquínis e muitos já sem roupa alguma

No Woodstock brasileiro, que tomou forma numa cidadezinha do interior paulista, chá de cogumelo vinha disfarçado em garrafa de café e banho de lama rolava à beira do rio Tietê

O repórter da Folha, Bruno Molinero, explica por que o festival chamou tanta atenção

O ex-mutante Arnaldo Baptista, fotografado repousando entre caixas de som, não guarda lembrança do festival, pelo que diz em entrevista

Marisa Orth é outra: “Nossa, faz tempo.”

O filme documentário “O Barato de Iacanga”, de Thiago Mattar, pode ajudar a clarear as coisas

Conta como um rapaz de 22 anos, Antonio Cecchin Jr., o Leivinha, atraiu um contingente de bichos-grilos para a fazenda de sua família, em Iacanga, a 378 km de São Paulo

Com edições entre 1975 e 1984, os festivais de Águas Claras se firmaram como a grande convenção de desbundados nos anos da ditadura militar

Mattar costura depoimentos de moradores que se viram surpreendidos pela vinda de gente alternativa e dada a “muita depravação”, como diz uma delas

“O público era formado por andarilhos, estradeiros, malucões”, diz o documentarista. “Não tinha hippie de butique. Era genuíno, era a reunião de tribos que não tinham outra forma para se encontrarem.”

A primeira edição, em 1975, ainda no rescaldo psicodélico da década anterior, reuniu bandas hoje pouco memoráveis de rock progressivo e algo em torno de 10 mil pessoas

Os militares se assustaram tanto que o evento só pôde se repetir em 1981, com uma embalagem mais brasileira —uma forma de iludir o regime e desviar o foco daquilo que o governo acreditava ser um encontro de roqueiros subversivos

Foi quando Raul Seixas, Alceu Valença, Jards Macalé, Jorge Mautner e Luiz Gonzaga deram as caras. Dois anos depois, um feito ousado: escalar João Gilberto

Na última edição, em 1984, desfecho melancólico. Uma tempestade arruinou a estrutura precária, impedindo Luiz Melodia e Clementina de Jesus de subirem ao palco

E marcas de cerveja já estavam de olho no potencial comercial daqueles shows, prenúncio do que, no ano seguinte, daria origem a eventos caça-níqueis como o Rock in Rio

Hoje, entrar na fazenda parece ficção científica. O carro passa por um banho químico e as pessoas são obrigadas a lavar as mãos e a sola do sapato com água sanitária para evitar que alguma praga devaste as 160 mil laranjeiras da propriedade

Em 2011, o Folhateen procurou por jovens que frequentaram o festival. Com algumas exceções, a maioria deles "encaretou"

Um dos grandes nomes da contracultura brasileira, Raul Seixas esteve envolvido em polêmica com o escritor Paulo Coelho durante a ditadura militar

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Bruno Molinero

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