A ascensão e destruição de Greenwood, comunidade de Tulsa, resume a história de segregação racial nos EUA, marcada por linchamentos de negros e pela proibição de que frequentassem os mesmos ambientes que os brancos
Em Tulsa, no final do século 19 e início do 20, a descoberta de poços de petróleo fez jorrar dinheiro na economia local
Isso teve um efeito secundário: enriqueceu, por tabela, Greenwood, majoritariamente habitada por negros
A comunidade foi criada em 1906, quando O.W. Gurley, um empreendedor negro que ganhou dinheiro especulando com terras, abriu negócios no lugar e atraiu outros afro-americanos
Eles começaram a trabalhar para famílias e empresários brancos em Tulsa. Com o boom do petróleo, passaram a gastar o dinheiro que recebiam nos hotéis, cinema, médicos, restaurantes e lojas de Greenwood
Tulsa ficou conhecida como o lugar em que negros podiam se dar bem
Até certo ponto, ressalva Scott Ellsworth, professor da Universidade de Michigan e autor do livro “Death in a Promised Land” , sobre a revolta de 1921
“Os brancos em Tulsa eram muito mais ricos que os negros em Greenwood. Não havia riqueza entre os negros igual à dos brancos. Mas alguns trabalhadores brancos não tinham carros, e os negros tinham, o que era motivo de controvérsia na época.”
Um caso típico de ciúmes e inveja, afirma Hannibal Johnson, autor de “Black Wall Street - From Riot to Renaissance in Tulsa’s Historic Greenwood District”
“Os brancos, na época, achavam os negros sub-humanos. Ter uma comunidade em que os negros tinham boas casas, pianos e roupas caras não era aceitável. Era uma ameaça direta à ideia de que eles eram sub-humanos”, afirma
Essa concepção permeou muitos dos linchamentos de negros, principalmente após a emancipação dos escravos, em 1863. Pairava um ambiente de justiçamento
Em 1920, Roy Belton, um branco de 18 anos, foi preso, acusado de sequestrar e matar um homem. Ele foi retirado da cadeia e linchado pela população branca
A revolta na Wall Street Negra tem uma origem parecida. Dick Rowland, um jovem negro, foi acusado por Sarah Page, uma jovem branca que trabalhava como ascensorista de um prédio, de tentar atacá-la —ela não prestou queixa
Rowland foi preso. No dia seguinte, há relatos de que o jornal local teria feito um editorial dizendo que “um negro será linchado hoje à noite”
Para evitar que isso ocorresse, moradores de Greenwood foram até a cadeia tentar proteger Rowland. Mas um grupo bem maior de brancos também foi ao local para agredi-lo. Alguns seriam membros da Ku Klux Klan
O resultado foi uma revolta em que os brancos invadiram o distrito, em 31 de maio de 1921. Queimaram casas, lojas, hotéis e tudo o que viam à frente
Mais de 10 mil negros ficaram desabrigados. O número de mortos varia de 40 a 300, porque vários corpos teriam sido enterrados nas covas coletivas
Na época, as seguradoras se recusaram a cobrir os prejuízos dos negros, estimados em US$ 2,5 milhões
Uma investigação local determinou que eles eram responsáveis pela revolta. Nenhum branco foi punido pelo episódio
O episódio é pouco conhecido. Ganhou notoriedade em 2019, quase um século depois, por ser retratado na série "Watchmen" da HBO
O prefeito de Tulsa , o G.T. Bynum, decidiu reabrir uma investigação sobre covas coletivas de negros mortos no massacre
“Devemos à comunidade saber se há covas coletivas em nossa cidade. Devemos às vítimas e aos membros de suas famílias.”
Símbolo de resistência, o cabelo black power também tem relação com a história da população negra