A descoberta de César Lattes

Em 1947, na Universidade de Bristol, na Inglaterra, a equipe do físico Cecil Powell tentava capturar um fragmento ainda desconhecido da matéria

Cecil Powell

Eles estavam em busca de uma partícula subatômica que explicaria por que os prótons, que têm carga elétrica positiva, não se repelem e, com isso, explodem o núcleo do átomo

Entra em cena o físico brasileiro Cesare Mansueto Giulio Lattes, então com 23 anos. Lattes teve aulas na USP com um dos membros da equipe de Powell, o italiano Giuseppe Occhialini

Cesare Lattes

A equipe de Bristol usava placas fotográficas especiais para capturar a trajetória e a desintegração de partículas subatômicas. A ideia era encontrar o tal fragmento desconhecido 

Pesquisadores de Bristol

Na Inglaterra, Lattes pediu que o fabricante colocasse um pouco mais do elemento químico boro na composição das emulsões das chapas fotográficas 

Deu algumas dessas novas emulsões a Occhialini, para que fossem expostas nos Pirineus franceses, onde seu ex-professor ia esquiar. Isso porque as chances de "captura" são maiores em altas atitudes

Giuseppe Occhialini

Na volta, ao revelar as chapas, Occhialini descobriu as primeiras evidências da partícula que todos buscavam: o méson pi (ou píon)

Entusiasmado, Lattes apostou que, no monte Chacaltaya, na Bolívia, ainda mais alto, ele poderia capturar mais mésons pi

Lattes no monte
Chacaltaya

O laboratório pagou a passagem até o Rio de Janeiro e, de lá, o brasileiro se viraria para chegar ao seu destino. Do pico andino, Lattes trouxe centenas de mésons

Trajetória de
um dos mésons 

Foi uma das descobertas mais importantes da física no século 20. Apesar do sucesso de Lattes, quem levou o Nobel de física foi Cecil Powell, o líder do grupo

No ano seguinte, Lattes estava em Berkeley, Califórnia. Lá, com seu colega norte-americano Eugene Gardner, detectou, em pouco mais de uma semana de análises, as trajetórias de píons produzidos em um acelerador de partículas 

Lattes e Gardner

Na década de 1960, o físico descobriu novos fenômenos, estabeleceu vários laboratórios no Brasil e no exterior e concretizou uma série de colaborações internacionais

Foi o nome de Lattes e suas grandes descobertas que possibilitaram a fundação, em 1949, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro 

Lattes poderia ter feito carreira no exterior, mas optou por seu país. "Prefiro ajudar a construir a ciência no Brasil do que ganhar um Nobel", disse

O cientista recebeu várias homenagens, mas a faceta mais famosa é a plataforma acadêmica de currículos. Lattes morreu em 2005, aos 80 anos

Especialistas da área apontam que foi injusto Lattes não ter levado o Nobel. O mesmo aconteceu com Fernanda Montenegro, só que com o Oscar. Saiba mais sobre a atriz:

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TEXTOS

Folha de S.Paulo

IMAGENS

Acervo UH, Luiz Carlos Murauska/Folhapress, Alfredo Marques/CBPF, Arquivo Nacional, Domínio Público, Wiki Commons

PRODUÇÃO DE WEB STORIES

Ana Luísa Moraes