O ano era 1970, em meio a ditadura militar no Brasil
A seleção brasileira masculina de futebol participava da Copa do Mundo no México e seria tricampeã, tornando-se o país do futebol
E uma canção foi o tema da seleção de 70, lembrada por muitos até hoje: "Pra Frente, Brasil"
A canção pouco tem a ver com o sucesso de Pelé e companhia nos gramados mexicanos, mas sim com uma suposta ideia de progresso e unidade nacional, o que também foi alardeado pelo governo militar à época
Nenhuma outra "música de Copa" teve tanto sucesso. A canção se instalou no imaginário do torcedor brasileiro, principalmente devido ao ineditismo das transmissões ao vivo do Mundial na TV
A Globo, que buscava se consolidar como a principal emissora do país, realizou um concurso musical que escolheria a canção oficial da seleção no México
Composta pelo publicitário Miguel Gustavo, que já havia trabalhado em composições com o cantor Moreira da Silva, a letra de "Pra Frente, Brasil" ganhou a melodia do trombonista Raul de Barros e venceu o concurso da Globo
A musica é poderosa, né. Tem uma introdução forte, uma coisa meio militaresca, varonil, ufanista. E uma letra perfeita, que Dorival Caimmy assinaria, sabe? Faço uma comparação com 'Uma Partida de Futebol', do Skank, que te leva para frente
Beto Xavier, autor do livro "Futebol no país da música"
A letra ufanista, somada ao triunfo brasileiro no México, caiu como uma luva nas mãos da ditadura militar
O governo de Emilio Garrastazu Médici aproveitou o sentido patriótico da canção para propagandear o chamado "milagre econômico"
A canção também trazia versos como "Parece que todo o Brasil deu a mão!", passando uma falsa imagem de unidade justamente no auge da repressão, endurecida com o AI-5 instituído em 1968
E não traz boas lembranças a todos. Em entrevista à coluna de Juca Kfouri em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff diz sentir dor ao ouvir "Pra Frente, Brasil", por associar com a tortura que sofreu na época
Reação muito diferente da que tem Regina Duarte, atriz e ex-secretária de cultura do governo Bolsonaro. Ela se lembra com saudade dos tempos da ditadura e cantou a canção em entrevista à CNN
"Pra Frente, Brasil" fez escola. A partir dela, as músicas do gênero deixaram de exaltar pessoalmente este ou aquele jogador. O mote principal passou a ser a emoção do torcedor
TEXTOS
Bruno Rodrigues Thales de Menezes
IMAGENS
Roberto Stuckert e Acervo UH/Folhapress Reprodução/Fifa e CNN Brasil Xinhua/Pictures USA/ Zumapress Popperfoto/Getty Images