Texto Anterior | Índice

Advogados negam suborno de técnico em CPI

ELES ALEGARAM QUE OBTIVERAM DE MANEIRA LEGAL AS CÓPIAS DE GRAVAÇÃO DOS DEPOIMENTOS DE CHEFES DA POLÍCIA PAULISTA

BRASÍLIA - Os dois advogados acusados de subornar um servidor terceirizado da Câmara dos Deputados para obter a cópia de um depoimento sigiloso negaram ontem que seus clientes sejam líderes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em depoimentos tumultuados, Maria Cristina Rachado, que defende Marcos Camacho, o Marcola, e Sérgio Weslei Cunha, advogado de Leandro Carvalho, confirmaram que receberam uma cópia do depoimento de delegados paulistas em que eles relatavam atividades do PCC. Mas negaram ter pago R$ 200 ao técnico de áudio Arthur Vinicius Silva, alegando que acreditavam ter direito à cópia e que a recebiam de maneira legal.
Maria Cristina, nervosa e dando explicações que arrancaram risadas dos deputados, chegou a afirmar que nunca soube que seu cliente fosse integrante do PCC. "Ele nunca me disse que era de facção nenhuma. Não frequento presídio", declarou. Cunha, que falou depois, declarou que "não tem cliente do PCC". "O Leandro diz que não pertence [ao PCC]. Eu como advogado tenho que acreditar."
Há duas semanas, durante o depoimento à CPI dos delegados Godofredo Bittencourt e Rui Fontes, ambos do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), os advogados foram retirados da sala. Do lado de fora, abordaram o técnico pedindo uma cópia. "Eu estava subentendendo que a cópia estava autorizada pela comissão. Eu tenho o direito constitucional de ter acesso ao depoimento do meu cliente", disse Cunha.
Após a sessão, os advogados e o técnico pegaram um táxi e foram a um shopping center, onde copiaram dois CDs com o áudio. Na versão de Silva, a advogada lhe pagou R$ 200 pelo serviço. Ontem, ela negou o suborno, afirmando que só pagou pelas gravações (R$ 18,50), além do táxi. Foram exibidas imagens que mostram os advogados e o técnico saindo juntos da Câmara e caminhando pelo shopping.
Cunha disse que ouviu o CD com a gravação da sessão secreta e afirmou que ela não tem "nada demais". "Nada do que está na fita desencadeou essa operação", disse, em referência aos ataques do PCC às polícias de São Paulo, dois dias após o depoimento.
Apenas metade da transcrição dos depoimentos veio à tona. Em um trecho, os delegados dão detalhes das atividades da facção, mas não afirmam claramente que haveria transferência de líderes do PCC de cadeias, que teria sido o estopim para a crise.
Na semana passada, alguns dos integrantes da CPI confirmaram que a transferência foi assunto dos depoimentos, mas ontem disseram que o assunto pode ter sido discutido "informalmente" -ou seja, sem ter sido gravado.
O depoimento da advogada foi cheio de inconsistências. Ela disse que é paga por uma tia de Marcola, de nome Maria Aparecida, recebendo R$ 2.000 por mês, mas não quis dar detalhes. "Eu tenho medo, posso ser morta", disse. Afirmou que trocou e-mails com o servidor porque queria contratá-lo para acompanhar processos no STF (Supremo Tribunal Federal). (FSP)



Texto Anterior: Governo agora reduz mortos do PCC pela polícia
Índice

Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.