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CBF impõe 'novo julgamento' do Atlético-PR

Por Mário Magalhães 18/06/97 19h23
Agência Folha
Do Rio de Janeiro

Numa atitude inesperada, consequência das maiores pressões que já recebeu em sua gestão à frente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, pediu nova intervenção do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) no caso da arbitragem.

A pedido de Teixeira, o tribunal se pronunciará quinta-feira sobre como o Atlético-PR deve cumprir a suspensão de 360 dias por suposta ''armação'' de resultados.

Tecnicamente, é um mero esclarecimento. Na prática, um novo julgamento. A sessão do STJD começa às 18h30.

Sexta-feira, a partir das 9h, a diretoria da CBF se reúne no Rio para decidir quantas e quais equipes disputarão o Campeonato Brasileiro de 1997.

Pelo regulamento, são 24, incluindo o Atlético-PR. Com a suspensão do clube paranaense, poderiam ser 23. Com a sua substituição por outro time, como o Fluminense, novamente 24.

Num arranjo para evitar maiores choques políticos, 26 clubes, com a presença do Atlético-PR, do Fluminense e do Náutico (PE). Até o Bragantino (SP) tem chance.

Na CBF, funcionários e dirigentes falavam quarta-feira, com ironia, do Campeonato Brasileiro de 1979, com 96 clubes.

A entidade era dirigida pelo almirante Heleno Nunes, apoiador do regime militar então em vigor no país. O partido do governo era a Arena.

Nas ruas, se dizia: ''Onde a Arena vai mal, mais um clube no Nacional. Onde vai bem, também''.

No último mês, houve um dos maiores ''lobbies'' futebolísticos da história do país.

Entre os políticos que pediram pelo Atlético-PR, estão o ministro da Justiça, Íris Rezende, e o governador do Paraná, Jaime Lerner.

Ricardo Teixeira recebeu ligações pró-Fluminense do ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo, Francisco Dornelles, e do prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde.

Quarta-feira, foram à CBF o presidente da Federação Pernambucana, Carlos Alberto Oliveira, e o presidente do Náutico.

Entre os ''torcedores ilustres'' do Náutico, figuram o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), e o ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause.

O Bragantino tem o apoio de um dos vice-presidentes da CBF, Nabi Abi Chedid.

Em outra época, Ricardo Teixeira já teria tomado a decisão. Com as pressões, voltou às pressas da Bolívia e ontem continuava ouvindo pedidos.

Por mais técnica que seja, a decisão do STJD terá forte caráter político. O CBDF (Código Brasileiro Disciplinar de Futebol) permite ao tribunal tanto afastar como manter o Atlético-PR no Brasileiro.

O STJD suspendeu o clube por 360 dias. O artigo 207 do CBDF, porém, diz que o clube é obrigado a jogar, perdendo o mando, o torneio em que estiver inscrito.

O artigo remete a equipe à pena do artigo 301: perder os pontos de todas as partidas para o adversário, conforme mudança na legislação decretada pela CBF em 15 de janeiro de 1997.

Mas, em seus comentários ao CBDF, o jurista Valed Perry afirma que não era esse o objetivo do legislador. Para Perry, não há sentido em o clube jogar a competição e perder os pontos.

Se o STJD quiser, pode fazer o Atlético-PR jogar o campeonato e perder os pontos. Se quiser, pode manter o time na competição, apenas jogando fora do Paraná.

O artigo 213 permite que, como o Atlético-PR foi suspenso e multado, seja aplicada apenas a multa.

O tribunal também pode definir se o Atlético-PR está ou não inscrito no campeonato.

O regulamento do Brasileiro-96 dizia que os 22 primeiros colocados jogariam em 96. O Atlético-PR participou do conselho técnico que aprovou a fórmula de 97.

Como nenhum clube ainda inscreveu seus atletas, o STJD pode entender que nenhuma agremiação ainda foi inscrita -o Atlético-PR ficaria fora do campeonato.

Ou seja: como o CBDF tem contradições e omissões, os 11 membros do STJD, todos nomeados por Ricardo Teixeira, têm vários caminhos a escolher.

O esclarecimento do STJD sobre o cumprimento da suspensão do Atlético-PR não definirá totalmente a fórmula do Brasileiro.

Se o tribunal disser que o clube paranaense tem que jogar, Fluminense e Náutico, hoje na segunda divisão, só seriam promovidos com a participação de 26 times no torneio. A decisão será da diretoria da CBF, sexta-feira, quando Ricardo Teixeira completa 50 anos.

A direção da entidade inclui, entre outros, o governador de Goiás, Maguito Vilela, e um filho do senador José Sarney, Fernando Sarney.

O estatuto da CBF limita em 24 os clubes na primeira divisão. Para ter mais dois times, é preciso mudá-lo.

Ao enviar o caso de novo para o STJD, Ricardo Teixeira tenta evitar desgaste com sua base eleitoral, ''lavando as mãos''.

Mas a decisão será dele, por ter controle político das decisões da diretoria.


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