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Vereadores dizem que 'lista da propina' é mentirosa

da Folha Online 01/04/2000 21h28
em São Paulo

Vereadores da bancada governista da Câmara Municipal de São Paulo que foram acusados de receber mesada da prefeitura afirmam que a lista com os valores das propinas é mentirosa.

Na “lista da propina” aparecem nomes de vereadores associados a supostos códigos que indicariam datas e valores de também supostos pagamentos de propinas.

A lista pode comprometer o secretário de Governo da prefeitura, Carlos Augusto Meinberg, no esquema de compra de votos de vereadores. Segundo depoimento da ex-primeira-dama Nicéa Pitta, o secretário intermediaria o suborno aos vereadores para que eles legislem conforme interesses do Executivo.

O Ministério Público de São Paulo recebeu a lista de fonte anônima, e anexou o documento à representação que originou os mandados judiciais de busca na casa e no gabinete de Meinberg.

Na representação, o MP diz que os números ao lado dos nomes representam valores de propina recebidos pelos parlamentares.

O MP também diz na representação que a lista teria vindo de computadores do gabinete e da casa de Meinberg.

Reportagem da revista “Isto É” divulgou a lista e informou que as mesadas pagas aos vereadores podem chegar a R$ 3,1 milhões nos últimos oito meses.

Estão no documento os vereadores Alan Lopes (PTB), Brasil Vita (PPB), Maria Helena Fontes (suspensa do PL), Toninho Paiva (PFL), Miguel Colasuonno e Milton Leite (PMDB) e Osvaldo Enéas (sem partido).

“Só estive sozinho com o Meinberg uma vez na vida, há dois meses”, afirmou Lopes. O vereador diz que tentava conseguir a liberação de um terreno para a construção da sede de uma associação de lutadores de judô. “Nem sei o que aconteceu depois que pedi. Agora qualquer um abre a boca e sou eu que tenho de provar?”

A vereadora Maria Helena afirmou que irá processar quem divulgou as informações. Ela teria recebido R$ 90 mil em julho de 99, logo após votar contra o impeachment do prefeito Celso Pitta (PTN), segundo a revista.

Maria Helena alega que votou a favor de Pitta por orientação do partido. Já o vereador Milton Leite afirmou à Rede Globo que tem votado contra o governo municipal e que não teria motivos para receber mesada. Colasuonno afirmou em entrevista à emissora que a lista é falsa.“Foi armação.”

O assessor de imprensa de Toninho Paiva informou que o vereador nega que tenha recebido qualquer dinheiro por parte da prefeitura. Paiva afirmou também que está disposto a quebrar seu sigilo bancário.

Oposição

Os vereadores da oposição Dalton Silvano, Éder Jofre, Aurélio Nomura e Gilson Barreto, todos do PSDB, também receberiam a mesada, que seria entregue pelo colega de partido Roberto Trípoli, diz outro documento recebido pelo Ministério Público, segundo a “Isto É”.

Colasuonno seria o intermediário da “caixinha” para cinco vereadores do PT, não identificados. O peemedebista ainda levaria o dinheiro para seu colega de partido, Ivo Morganti, e para José Izar (PST).

Os acusados da oposição da Câmara de São Paulo dizem que membros da prefeitura são responsáveis pelo envolvimento de seus nomes com as denúncias de corrupção.

O líder do PSDB na Câmara, Aurelio Nomura, disse que “é ridícula” a acusação de que alguns oposicionistas também receberiam mesada da prefeitura. “Não tem sustentação. Para que mesada se nós sempre votamos contra o prefeito? Ele (o prefeito Celso Pitta) é um cadáver político que está tentando se agarrar a qualquer coisa.”

Nomura informou que a bancada do partido se reúne na segunda-feira para tomar providências.

Izar alegou que desconhecia as denúncias. “Desconheço, não li a matéria, nem quero ler. Não quero falar sobre esse assunto e essas pessoas”. Ironicamente, ele perguntou: “Por acaso eu fui citado?”

Silvano disse à Rede Globo que as denúncias não são verdade. O vereador José Eduardo Cardozo (PT) garante que nenhum membro do partido recebe mesada da prefeitura.

Os vereadores Brasil Vitta, Osvaldo Enéas, Éder Jofre e Gilson Barreto e Ivo Morganti não foram localizados pela Folha Online.

Comentários

Outros parlamentares comentaram a “lista da propina”. “É gravíssimo, seríssimo. Não há mais como suportar toda essa situação. Não há como fugir de uma CPI”, afirmou Salim Curiati (PPB), que é de partido da base governista mas não apóia o prefeito Celso Pitta.

“Não li a revista, mas acho que toda denúncia tem de ser apurada. A base governista está toda em situação muito difícil. É preciso ouvir a parte dos acusados também. Quebrar o sigilo bancário pode ser um recurso de investigação, mas existem muitos artifícios para driblar isso”, afirmou Adriano Diogo (PT).

A vereadora Anna Martins (PC do B) disse que a denúncia é preocupante. Para Ítalo Cardoso (PT), se confirmado que o documento é verdadeiro, os vereadores devem ser cassados.

“Isso é mais um indício de que as denúncias de Nicéia tinham fundamento. É necessário fazer uma investigação para comprovar as denúncias”, afirmou o vereador Carlos Neder (PT).

Leia mais sobre o Pittagate na Folha Online.


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