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Brasília Online

05/06/2005

Lula recebe cartão amarelo

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Pesquisa Datafolha que avalia os dois anos e cinco meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva traz um claro recado da população ao presidente e ao PT. O alto cacife político sofreu um revés. Se os petistas souberem fazer uma leitura correta do levantamento, haverá boa chance de recuperar prestígio ou estancar uma sangria perigosa. Do contrário, poderá ser mais um passo de uma caminhada para fora do poder central.

Em seis meses, a aprovação a Lula caiu dez pontos. A maior queda ocorreu entre os entrevistados com maior renda e mais escolaridade. Cresceu a chance de Lula se submeter novamente a um segundo turno para se reeleger. Na comparação com o mesmo período de governo de Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, Lula ostenta pior avaliação, ainda que não seja uma goleada do tucano.

Uma leitura atenta da pesquisa deixa claro que os entrevistados começam a se convencer de que Lula não promoverá um governo de mudanças, discurso com o qual se elegeu em 2002 e pelo qual será cobrado. Daí ser menos importante hoje levar em conta os cenários de simulação da eleição presidencial, pleito que vai acontecer apenas em outubro do ano que vem. Importa mais analisar os dados que podem, para usar metáfora ao gosto de Lula, resultar num cartão vermelho em 2006.

São eles: a aprovação a Lula está menor nas áreas social e econômica, 59% acham que o presidente deixou de defender as idéias que pregava antes de chegar ao poder, e 62% julgam que a vida permaneceu igual. Resumindo, Lula não está cumprindo o que prometeu na avaliação dessas parcelas dos entrevistados.

Está surgindo, portanto, a oportunidade de a oposição construir um discurso com amparo na realidade. Em 15 meses, tempo para a eleição de 1° de outubro de 2006, primeiro turno do pleito, o cacife político de Lula e do PT poderá ser corroído.

Como diz o deputado Delfim Netto (PP-SP), a oposição tem imposto desgaste ao governo, mas os petistas continuam imbatíveis nesse sentido. Lula, porém, merece ser incluído entre os que mais prejudicam Lula. Os erros do presidente e do PT já foram exaustivamente apontados nas colunas anteriores e não vale a pena listá-los novamente.




Vale a pena impedir a CPI?

As recentes suspeitas de corrupção em estatais, que o governo combate tentando enterrar a CPI dos Correios no Congresso, podem despedaçar o vaso ético petista trincado no caso Waldomiro Diniz. Nesse sentido, Lula e o PT devem se indagar até que ponto vale a pena abafar uma CPI se a própria Polícia Federal tem feito operações que prenderam petistas. A CPI será tão pior assim? Existe uma caixa-preta que não pode ser aberta?

As operações da PF reforçam o argumento do governo de que não há interferência política na sua polícia. No mínimo, ela é menor na gestão Lula do que nas anteriores.

Mérito, aliás, de Márcio Thomaz Bastos, o melhor ministro da Justiça da história recente do país. Bastos já foi acusado em reuniões internas no governo de não controlar a PF. Ainda bem que não a controla.




Chirac e Lula

Amigos que acompanham atentamente a política francesa enviaram mensagens dizendo que a comparação entre Lula e o presidente francês, Jacques Chirac, feita na Pensata de sexta-feira (03/06), foi infeliz.

Disseram que a troca de premiês em menos de 48 horas como resposta ao não à Constituição européia foi mera jogada de marketing. Chirac mudou para deixar tudo como está. Cobrar de Lula gesto semelhante seria abraçar a mesma saída. Agradeço os comentários.

Simbolicamente, porém, Chirac fez um gesto para dizer que entendera o recado das urnas. O presidente brasileiro nem isso. Assiste inerte faz meses a uma crise política que se tornou crônica e a maior ameaça ao seu governo.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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