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Conheça o dorama que conquistou os gays japoneses
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
O que um jovem gay está comentando hoje no Japão? Com certeza, o final de "Last Friends" na semana passada, na Fuji TV, a Globo de lá. No Japão, a denominação de novela é drama, ou melhor, "dorama", como eles pronunciam. É semanal, dura três meses (11 capítulos, no máximo). A cada estação, estréia um novo dorama.
Divulgação |
Fios vermelhos unem personagens de "Last Friends", uma referência ao filme "Dolls" |
"Last Friends" (ou "Rasuto Furenzu", como os japoneses falam) começou em abril (início da primavera por lá), às quintas-feiras, a partir das 22h, e virou um assunto obrigatório na comunidade gay. Logo no começo, o dorama mostrou um beijo entre duas meninas, provocando muita polêmica, já que no Japão ainda é tabu beijar ou mostrar emoções em público. Imagina com pessoas do mesmo sexo. As novelas japonesas, por exemplo, costumam mostrar beijos héteros bem discretos, selinhos, e só no último capítulo.
O dorama acertou em cheio o coração dos admiradores do gênero. Logo na abertura, "Last Friends" faz uma referência ao cultuado "Dolls" (2002), filme-chave do cineasta Takeshi Kitano: um fio vermelho que une os personagens, representando a união de uma pessoa com sua alma-gêmea, independentemente de sua orientação sexual.
A música de abertura ("Prisoner of Love") é interpretada por Utada Hikaru, uma das cantoras jovens mais populares do Japão, e embala o drama de Michiru, garota que sai da casa da mãe e vai morar com o namorado ciumento e controlador. Ela começa a sofrer violência doméstica, enquanto se envolve com Ruka, uma amiga de infância, de visual masculinizado, corredora de motocross, com trauma que a impede de se envolver com homens.
Durante as 11 semanas de exibição, criou-se no país uma divisão de torcidas. Os conservadores não queriam que Ruka se assumisse e ficasse com Takeru, enquanto a comunidade gay torcia pelo final feliz. A atriz Juri Ueno, que interpretou Ruka, arrasou no papel, que lhe exigiu cabelos curtos, e inspirou meninas, lésbicas ou não, a entender melhor os diversos caminhos de sua sexualidade. É realmente invejável ver a TV japonesa superando preconceitos seculares abordando temas que, em países como o Brasil, ainda esbarram na caretice e no medo da rejeição de telespectadores e anunciantes.
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Colaborou Daniel Miyagi, do Japão
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