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25/06/2008

Conheça o dorama que conquistou os gays japoneses

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

O que um jovem gay está comentando hoje no Japão? Com certeza, o final de "Last Friends" na semana passada, na Fuji TV, a Globo de lá. No Japão, a denominação de novela é drama, ou melhor, "dorama", como eles pronunciam. É semanal, dura três meses (11 capítulos, no máximo). A cada estação, estréia um novo dorama.

Divulgação
Fios vermelhos unem personagens de "Last Friends", uma referência ao filme "Dolls"
Fios vermelhos unem personagens de "Last Friends", uma referência ao filme "Dolls"

"Last Friends" (ou "Rasuto Furenzu", como os japoneses falam) começou em abril (início da primavera por lá), às quintas-feiras, a partir das 22h, e virou um assunto obrigatório na comunidade gay. Logo no começo, o dorama mostrou um beijo entre duas meninas, provocando muita polêmica, já que no Japão ainda é tabu beijar ou mostrar emoções em público. Imagina com pessoas do mesmo sexo. As novelas japonesas, por exemplo, costumam mostrar beijos héteros bem discretos, selinhos, e só no último capítulo.

O dorama acertou em cheio o coração dos admiradores do gênero. Logo na abertura, "Last Friends" faz uma referência ao cultuado "Dolls" (2002), filme-chave do cineasta Takeshi Kitano: um fio vermelho que une os personagens, representando a união de uma pessoa com sua alma-gêmea, independentemente de sua orientação sexual.

A música de abertura ("Prisoner of Love") é interpretada por Utada Hikaru, uma das cantoras jovens mais populares do Japão, e embala o drama de Michiru, garota que sai da casa da mãe e vai morar com o namorado ciumento e controlador. Ela começa a sofrer violência doméstica, enquanto se envolve com Ruka, uma amiga de infância, de visual masculinizado, corredora de motocross, com trauma que a impede de se envolver com homens.

Durante as 11 semanas de exibição, criou-se no país uma divisão de torcidas. Os conservadores não queriam que Ruka se assumisse e ficasse com Takeru, enquanto a comunidade gay torcia pelo final feliz. A atriz Juri Ueno, que interpretou Ruka, arrasou no papel, que lhe exigiu cabelos curtos, e inspirou meninas, lésbicas ou não, a entender melhor os diversos caminhos de sua sexualidade. É realmente invejável ver a TV japonesa superando preconceitos seculares abordando temas que, em países como o Brasil, ainda esbarram na caretice e no medo da rejeição de telespectadores e anunciantes.

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Ouça minha conversa com Estefanio e João, criadores do blog Glamaddict. Falamos sobre banheirão e sobre a criação de personas.

Sérgio Ripardo

Colaborou Daniel Miyagi, do Japão

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