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Quero Ser Mãe

13/05/2004

A infertilidade e o desequilíbrio emocional

Mais uma pesquisa deixa claro o impacto emocional que a infertilidade representa na vida dos casais. Dessa vez o estudo foi conduzido pelo Fertility (Centro de Fertilização Assistida) com 300 pacientes da clínica. A pesquisa detectou que 33% deles relatam sofrer de problemas de convívio social desde que iniciaram o tratamento da infertilidade.

Outros 20% dos entrevistados revelaram que o tratamento tem provocado problemas, inclusive na vida sexual, e outros 20%, alterações no rendimento profissional. Curiosamente, um sexto dos pacientes apontam problemas em conciliar o tratamento com as suas convicções religiosas.

Outro dado interessante é que os casais têm muita dificuldade de encarar a possibilidade de insucesso do tratamento, embora devidamente orientados pelo corpo médico da clínica de que as chances de sucesso do tratamento estão hoje entre 30% e 50%.

O especialista em reprodução humana assistida e diretor do centro, Assumpto Iaconelli Junior, diz que 65% dos casais entrevistados não admitem a possibilidade de um resultado negativo. No frigir dos ovos, a despeito das informações transmitidas aos pacientes, menos de 10% deles entram em contato com as reais possibilidades do tratamento.

Os resultados dessa pesquisa mostram o quanto é importante que os serviços de reprodução assistida disponham de um programa de apoio psicológico realmente sério, que acompanhe o casal em todas as etapas e que esteja à serviço, não do departamento comercial das clínicas, mas do bem-estar mental desses casais.

É muito importante que essa fase das tentativas de gravidez seja compreendida em todo seu contexto, que certamente abrangerá questões emocionais muito anteriores às que aparecem no momento atual, que só é a ponta do iceberg.

Alguns profissionais da saúde mental já começam a trabalhar os filhos desses casais que sofreram dificuldades de gravidez e estão percebendo o tamanho das seqüelas que essas crianças podem herdar em razão de tanta ansiedade e distanciamento entre os casais. Mas isso é assunto para uma outra coluna.

De momento só gostaria de acrescentar que julgo ser muito importante que tenhamos a mente aberta para perceber esses problemas psíquicos e procurar orientações sobre eles. Chega de preconceito. A psicanálise está aí há mais de cem anos e já mostrou que pode ser muito útil na compreensão de alguns buracos dessa nossa existência. Abraços e boa semana a todas.

** Espaço do leitor - Gente, mais uma vez peço desculpas pela demora nas respostas das mensagens. A demanda tem sido imensa e o tempo, curto demais para conciliar tantas atividades. O mesmo tem acontecido com os médicos parceiros da coluna.

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  • Especialistas lançam livro sobre infertilidade
    Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

    E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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