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Quero Ser Mãe

03/03/2005

Aspectos psicológicos do tratamento de reprodução assistida

LUCIANA LEIS
Especial para a Folha Online

Dificilmente os casais quando se unem imaginam que possam ter dificuldades para gerar uma criança, porém, um diagnóstico de infertilidade pode vir a abalar profundamente o lado emocional destes, levantando uma série de questionamentos para tentar compreender o porquê não podem ter filhos como os outros casais.

Deste modo, muitas feridas individuais e conjugais podem se abrir, iniciando-se também a separação de algo perdido: a capacidade de engravidar naturalmente. Todo esse processo gera dor e sofrimento, sendo necessário tempo e suporte emocional para elaborá-lo.

Para muitas pessoas não é fácil aceitar o fato de não poder ter filhos naturalmente e, enquanto isso não puder ser "digerido" e aceito, fica complicado buscar uma saída alternativa para o problema. Cada indivíduo tem um tempo diferente para aceitar e aprender a lidar com essa nova situação, sendo que, os tratamentos de reprodução assistida podem ser vistos como uma forma de se atingir o objetivo (gravidez) através de caminhos diferentes.

Nos tratamentos de reprodução assistida mudamos toda a dinâmica da reprodução natural, uma vez que há a entrada de um terceiro: o médico, o qual estará auxiliando o casal no caminho de busca do filho.

Desta maneira, não só o encontro dos gametas e a formação do pré-embrião se darão diferente, todo o processo de construção emocional dessa criança também se dará de outra forma. No tratamento, a primeira consulta já é para o filho, assim como cada medicação tomada, cada injeção aplicada... O filho ainda não existe, mas a vivência emocional já é da existência de um bebê, o qual vai sendo construído no psiquismo dos possíveis pais durante as consultas médicas.

Porém, é interessante destacar que, geralmente os tratamentos de reprodução assistida tendem a excluir o homem, principalmente porque a maior parte dos procedimentos se dá com a mulher. Assim, caso o homem não se atente para esse fator (marcando seu lugar, indo às consultas e participando junto com a esposa) corre-se o risco de todo esse processo se dar somente entre o médico e a mulher, o que não é o ideal nem para o casal e nem para essa futura criança, que começa seu processo de formação com um pai pouco presente. Costumo brincar com os casais que atendo dizendo de "neném a gente só faz junto", sendo que no processo de reprodução assistida não é diferente.

A aceitação do tratamento e a procura de um sentido positivo para essa experiência deixam toda essa busca mais leve. Os tratamentos existem para ajudar na dificuldade de gravidez; ao invés de se tentar o bebê em casa tentamos no hospital/clínica com a ajuda da equipe médica (a qual fará as vezes de uma trompa que pode estar obstruída, de um espermatozóide que está um pouco lento entre outros).

A cumplicidade, o companheirismo e a afetividade entre o casal durante o tratamento, dividindo suas angústias, medos e dúvidas, será um grande diferencial positivo nesse processo. O filho pode ser constituído fora do ato sexual, porém, dentro de um laço afetivo e de amor entre seus pais.

Email: luciana_leis@hotmail.com

Luciana Leis é psicóloga do Centro de Reprodução Humana do Hospital São Lucas
e da Corplus


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    Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, é mestre em História da Ciência pela PUC-SP e autora dos livros "Por que a gravidez não vem?", da editora Atheneu, e "Quero ser Mãe", da editora Palavra Mágica. Escreve quinzenalmente na Folha Online.

    E-mail: claudiacollucci@uol.com.br

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