Carta
CBN
Oscar Freire
“Seu comentário sobre a reforma da calçada
da rua Oscar Freire foi muito oportuno. Acho que outras ruas
seriam bem mais agradáveis se o exemplo fosse seguido.
Quero, porém, ressaltar alguns fatos com relação
a essa rua, dado que moro muito perto dela e costumo freqüenta-la
bastante. Numa nova oportunidade, esse assunto poderia ser
discutido no ar.
O calçamento custou muito caro, o valor foi veiculado
na época da reforma, mas já há várias
pedras rachadas. Mesmo sendo uma rua que foi destinada a pedestres,
não há sinais de trânsito para eles.
Sendo sempre o tráfego de carros prioritário
em qualquer esquina, os motoristas quase passam em cima dos
pedestres que estão atravessando as ruas transversais
(claro que isso é em toda a cidade, mais um ponto a
ser discutido). Nem na rua Augusta, a mais importante e movimentada
da região, existe sinal para que os pedestres atravessem
sem perigo.”
Maria Tereza Murray –
terezamurray@hotmail.com
Aluguel de Cães
“Sou protetora independente em São Paulo. Conheço
muita gente de ONGs, listas de discussões, simpatizantes
da causa e muitos, mas muitos mesmo, seres "humanos"
sem a menor deferência para com os animais. Acredito
ser nossa obrigação de seres "conscientes"
colocar-nos no lugar dos outros seres que habitam este planeta,
sejam eles animais, vegetais ou mesmo outros seres humanos.
Essa experiência também acontece em São
Paulo com o aluguel de cães para guarda e não
é novidade. A questão é que não
se considera de modo algum o sofrimento alheio. Por que não
colocar, em vez do cão, a criança que espera
adoção e vai de lar temporário para lar
temporário, até acabar num abrigo à espera
da maioridade? Será que não há sofrimento?
No caso especifico dos cães, eles são adestrados
e, aparentemente, não têm sentimentos além
do amor "incondicional" - e continuamos acreditando
que amor é descartável e "alugável".
Mas ninguém quer ver o que acontece quando o animal
"não serve mais": desde atropelamentos e
abusos de todo tipo até a simples morte por deixar
o animal amarrado em algum parque público. Tenho muitas
fotos que ilustram o que eu digo - mas ninguém quer
vê-las.
Sou totalmente contra essa prática, pois vejo muitos
cães que sofrem de depressão e solidão,
mesmo porque o cão é um animal que gosta de
viver em grupo e trata o ser humano como um "igual",
mesmo que para nós essa idéia seja inconcebível.
Basta ler um pouco sobre psicologia e comportamento animal.
É claro que deve funcionar bem nos EUA, onde tudo
está à venda, e São Paulo não
deixa de seguir as tendências da moda. Mas há
muita coisa a fazer na cidade antes de olharmos com o devido
respeito aos demais, de qualquer espécie.”
Gabriela V. Nemirovsky -
gabinemi@yahoo.com
Segurança
“Gostaria de deixar registrado que os próprios
policiais instruem as pessoas a não fazer BOs quando
não há vítimas ou grandes prejuízos.
Vou relatar duas situações minhas:
1 - Há alguns anos, tive meu apartamento assaltado,
com minha família presente. Por sorte, nada de grande
valor foi levado. Ao chamarmos a polícia, eles nos
instruíram a não fazer BO, já que nada
de grande valor tinha sido levado.
2 - Há um mês, estava dirigindo em uma avenida
e, de repente, uma pedra foi arremessada em meu vidro lateral
traseiro (por sorte, a pedra não me atingiu na cabeça).
Ao parar o carro junto a uma viatura de polícia que
estava de guarda nas proximidades, descrevi o ocorrido aos
policiais - que, mais uma vez, disseram que não era
necessário fazer o BO, pois eles já estavam
na busca do "meliante". Fiquei indignada e já
ia me dirigir a uma delegacia de qualquer maneira quando outros
policiais apareceram com o indivíduo e fomos todos
para lá.
Foi então que entendi a provável razão
pela qual os policiais dão a instrução
de não registrar o BO: burocracia. Levam-se horas para
fazer um simples BO. E há a agravante de os recursos
serem escassos. Com poucas viaturas, os policiais dão
prioridade a estar na rua vigiando, não a ficar na
delegacia preenchendo papéis.
Acho que a melhor solução para essa burocracia
seria implementar o modelo do Poupatempo nas delegacias. Infelizmente
não é a solução para a questão
da Segurança, mas o BO é a nossa única
arma, a única prova e justificativa que possuímos
para pleitear mais recursos às autoridades.”
Adriana Albarella -
adriana.albarella@br.abb.com
***
“Um dos motivos que talvez levem muitos a não
procurar uma delegacia pode ser o seguinte: já ouvi
pessoas dizerem que o fizeram e, ao chegar a uma delegacia,
o descaso foi tanto que as pessoas chegaram a dizer que lá
foram tratadas como marginais, não como vitimas. O
comentário acaba levando outros a não ir até
uma delegacia.
Então acredito existir, sim, uma falta de credibilidade
-- e discriminação também.”
Cleivande Silva – cleivande@linkservice.com.br
***
“Os furtos não registrados demonstram a nossa
falta de confiança na polícia. Eu sou um exemplo:
há alguns anos, na casa noturna Valle Sports Bar, no
Itaim, parei o carro na rua, poucos metros à frente
da entrada da casa, com seguranças, movimento. Quando
voltei, lá estava – ou melhor, lá não
estava – o vidro do lado do motorista de meu carro.
Estilhaços por todos os lados, CDs e CD Player roubados,
mala de ginástica com roupas também. Simplesmente
fui para casa e, no dia seguinte, fui substituir o vidro.
Por que não fui a delegacia? A resposta vem na forma
de outra pergunta: por que eu iria à delegacia? Para
engordar estatísticas? Bem, engordo mais essa que a
CBN apresentou hoje.”
VeraLú – vera.lucia.santos@br.abnamro.com
***
“Minha sogra foi visitar meu sogro no hospital e ouviu
o alarme do carro. Saiu correndo gritando que era ladrão
e o "cara", quando a viu, depois de quebrar o vidro
para tentar roubar o carro, saiu correndo. Não conseguiu
roubar o carro. Ela ficou somente com o prejuízo do
vidro. Isso foi às 14h e, quando ela foi à noite
novamente, viu o "meliante" na lanchonete próxima
do hospital. E não fez nada.
Eu disse a ela que deveria ter chamado a polícia para
que fossem tomadas as providências e ela disse que jamais
faria isso, pois tinha de ir todos os dias visitar seu marido
e, com certeza, a polícia não iria fazer nada
e ela ainda corria o risco de que eles mesmos fizessem alguma
coisa (como entregá-la para os bandidos). Na polícia,
existe uma máfia muito grande. Há policiais
que, em vez de estarem do nosso lado, estão contra
nós. Disse que não faria o boletim, pois sabia
que passaria horas na delegacia e nada seria feito. Então
levou o carro para colocar o vidro e arcou com o prejuízo.
Foi muito triste ter de concordar com minha sogra e ver que,
por medo, ela passou a ir de ônibus, pois não
poderia nem ao menos entregar o "meliante" com medo
da polícia. Não existe mais confiança
na polícia. Infelizmente eles se sujaram muito por
dinheiro e hoje praticamente nossa polícia não
tem crédito com a população. Eles não
se esforçam para acabar com essa situação
de violência e é devido a isso que se explica
o fato 50% das pessoas que sofrem com a violência não
irem até a delegacia.
Este é o nosso país – infelizmente não
é de agora, mas de vários anos. Não temos
opção de governantes para tentar melhorar a
situação, pois aqueles ataques do PCC mostraram
claramente que inclusive o governo ganha com essa situação.
O governador foi falar com o líder do PCC e a situação
só melhorou quando foram dados os televisores de tela
plana (isso que nós ficamos sabendo, o que eu duvido;
creio que o governo abriu muito mais do que isso para o PCC).
Continuamos nessa situação, pois todos são
corruptos e a população fica sozinha. Que dureza
concordar com minha sogra.”
Petula Furquin - petula.furquin@infotreasury.com.br
***
“Creio que sei o motivo para tal fenômeno [50%
dos crimes não são denunciados]. Vou me utilizar
como exemplo: há alguns anos, numa discussão
banal entre vizinhos na qual eu entrei inadvertidamente e
quis fazer o papel do "deixa-disso", acabei sendo
ameaçado de morte por um vizinho, que, alias, foi até
minha casa armado e fez mais ameaças (ele era alcoólatra
e extremamente agressivo com sua família, mas não
era um bandido). Resolvi ir até uma delegacia para
que fossem tomadas providências. Como não sou
bobo e sempre soube que o mundo trata melhor quem se veste
bem, fui muito bem arrumado à tal delegacia. Para minha
surpresa, acabei interrompendo uma sessão de piadas
que estavam sendo contadas pelo escrivão. Após
contar todo o caso diante do escrivão, delegado e investigadores,
ocorreu o seguinte fato: o delegado abriu o Código
Penal em uma determinada pagina e o deu para o escrivão,
que me apontou um trecho da página onde estava escrito
"matar, pena de tantos a tantos anos". Em seguida,
ouvi as seguintes palavras: "Enquanto ele não
te matar, não poderemos fazer nada".
Recentemente minha esposa foi vítima de clonagem de
cartão bancário. Após termos ido ao banco
para verificar os registros dos endereços dos locais
de compra com o cartão clonado, fomos registrar um
boletim de ocorrência na delegacia do meu bairro, apenas
para termos uma chance maior de sermos ressarcidos pelo banco
(que até agora não nos pagou por compras feitas
em outros Estados). Mais uma vez, não quiseram registrar
o crime. Segundo o delegado, aquilo não era de sua
competência (crime de estelionato) e eles não
teriam como descobrir onde foram efetuadas as compras. Após
muito insistir e mostrar os endereços dos locais de
compra, e tão-somente depois de nos ouvir conversando
ao celular com um advogado amigo, ele resolveu efetuar o registro
da queixa.
Em matéria recente na revista Veja, descobri, sem
grandes surpresas, que a policia investiga apenas 2% dos crimes
de homicídio. Estou ciente de que policiais são
mal pagos, mal treinados, mal equipados e que muitos têm
de tomar conta de presos nas delegacias superlotadas, o que
torna inviável investigar qualquer crime (exceto os
que ocorrem com pessoas poderosas ou crimes de grande vulto
na mídia).
Hoje possuo uma situação financeira considerada
por muitos como confortável, possuo apartamento próprio
e vou ao trabalho sempre de carro e usando terno e gravata.
Imagine só como eu seria tratado se eu comparecesse
à delegacia com sandálias de dedo e um bilhete
único nas mãos. É provável que
me detivessem para averiguação antes de me dispensarem.”
Salvador – salvador.consultor@abyara.com.br
***
“Neste sábado à noite meu cunhado pegou
um menor dentro de sua casa na Vila Sônia. A polícia
foi chamada, mas só atendeu depois de um segundo chamado
e, quando chegou, levou o menor e recomendou que não
fosse aberto boletim de ocorrência, pois poderia haver
represálias dos colegas do menor. Caso isolado? É
claro que não, haveria muitos outros casos até
piores para contar. Mas não vale a pena nem me alongar
mais e perder nosso precioso tempo.”
Emilio de la Fuente – emilio@usp.br
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