Nesta
eleição, o que está em jogo é
quanto o próximo prefeito estará à altura
do círculo virtuoso da cidade
Independentemente do prefeito que sair vitorioso das urnas,
São Paulo só tende a melhorar. Aumento a aposta:
vai melhorar muito. Os problemas evidentemente são
complexos e crônicos, ainda estamos submetidos à
selvageria urbana e ficaremos assim por muito tempo. Mas há
uma conjunção dos mais variados movimentos,
provocados pelas mais diferentes razões, que colocaram
a cidade num círculo virtuoso.
O aumento do Orçamento do município, gerado
pelo crescimento econômico, é um dos ingredientes
desse círculo. Mas não é o mais importante.
Na semana passada, o Ministério do Trabalho anunciou
recorde de geração de empregos formais. Um dos
puxadores desse recorde é a cidade de São Paulo.
Olhando com mais atenção, constatamos que boa
parte dos contratados tem alta escolaridade.
Se tomarmos como referência 2005, os desempregados a
menos que temos na cidade, cerca de 200 mil, dariam para lotar
quatro estádios do Morumbi. Aí está um
dos ingredientes do círculo virtuoso.
Combinam-se indicadores de emprego, renda e escolaridade com
mudanças demográficas. O crescimento da população
está diminuindo há décadas -e cada vez
mais rapidamente- por causa da queda da taxa de natalidade
e do menor fluxo de migração. Saem mais pessoas
do que chegam para morar em São Paulo.
Temos, assim, mais emprego, população mais velha
e com maior escolaridade. Como a cidade aprofunda sua vocação
como uns dos pólos da economia global, geram-se trabalhadores
mais preparados, estimulando os setores educacionais e culturais.
Fatores como diversidade cultural, ambiente criativo e redução
da taxa de homicídios -cerca de 80% desde 2000- ajudam
a atrair talentos e, portanto, empresas.
População mais velha significa menos violência,
devido à redução do número de
adolescentes. Significa também uma janela de oportunidade
para melhorar o atendimento à infância, já
que não é tão necessário construir
escolas.
Mais educação se traduz em maior produtividade
econômica, menos violência e gente mais crítica,
atenta e organizada, cobrando melhores serviços públicos.
É nesse contexto que surgiu, neste ano, um movimento
inusitado no Brasil, batizado de "Nossa São Paulo",
reunindo o que há de mais importante e representativo
da cidade. Pela primeira vez, foram estabelecidas metas -da
gravidez precoce ao número de bibliotecas por habitante-
para cada região. Os meios de comunicação
estão mais profundos na sua cobertura de temas técnicos,
muitos deles áridos.
O melhor exemplo disso é o caderno DNA São Paulo,
publicado pela Folha -é a mais profunda radiografia
jornalística já feita da cidade num ano eleitoral.
Por esse caderno, soubemos, por exemplo, que o ensino médio
está quase universalizado entre jovens de 16 a 24 anos.
Foi em São Paulo que se articulou, há dois
anos, a mais importante mobilização pela melhoria
da educação de que se tem notícia no
país. Uma demonstração do poder de articulação
do "Todos pela Educação" podia ser
visto, na terça-feira passada, no Museu de Arte Moderna,
no parque Ibirapuera, quando se apresentou uma campanha publicitária
para colocar na agenda dos candidatos a melhoria do ensino.
Nunca tantos e tão poderosos veículos de comunicação
se dispuserem a, voluntariamente, promover uma mensagem social.
Não por acaso se conseguiu implantar na rede estadual
o ousado projeto de remuneração de professores
a partir do desempenho dos alunos.
O círculo virtuoso paulistano é beneficiado
pela consolidação de uma série de consensos
-como o da educação. Governantes começam
a ser avaliados pelas notas dos alunos e, aos poucos, falam
menos em obras e mais em treinamento de educadores. O discurso
dos candidatos revela o consenso em torno do transporte público
em detrimento ao espaço para os automóveis.
Todos os principais concorrentes prometem dar dinheiro ao
metrô.
Também estão todos de acordo com o papel do
prefeito em facilitar o ambiente de negócios, reduzindo
impostos e burocracia. Vemos agora os candidatos falando em
ensino técnico. Entende-se isso com um dado que obtive
na semana passada: 96% dos formados em 2007 das Fatecs (Faculdade
de Tecnologia), na cidade de São Paulo, estão
empregados.
O que está em jogo nesta eleição não
é se São Paulo vai melhorar -mas quanto o próximo
prefeito estará à altura da cidade e conseguirá
apressar esse movimento.
PS- Como mostra o Datafolha, o futuro prefeito deve ser
Marta, Geraldo ou Gilberto. Podemos discordar, com fartos
argumentos, sobre se os três são ótimos
ou bons, mas teremos de concordar que, por sua experiência
administrativa, qualquer um deles é pelo menos regular.
O problema é que não sabemos se o vitorioso
usará a cidade como trampolim -e não ficará
à altura de um inovador movimento de construção
de uma comunidade contra a barbárie.
Coluna originalmente publicada
na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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