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19/07/2007

Obras de ampliação sufocam Congonhas, diz urbanista

Para especialistas, obras favorecem concentração no aeroporto, em vez de desafogá-lo; Guarulhos seria opção se acesso melhorasse

Arquiteto diz que sucateamento de gestão e fiscalização de obras é paralelo entre tragédias de Congonhas e do Metrô

 

Enquanto Cumbica for de difícil acesso -sem transporte coletivo, à mercê de longos congestionamentos por uma simples chuva-, Congonhas continuará a ser favorecido em São Paulo, apesar de não apresentar segurança.

Arquitetos e urbanistas ouvidos pela Folha confirmam a tese, acusando as obras de ampliação de Congonhas de só aumentar o uso de um aeroporto já sobrecarregado, em vez de desafogá-lo.

Para a urbanista Regina Monteiro, diretora da Empresa Municipal de Urbanismo e criadora do movimento Defenda São Paulo, a aviação executiva e seus jatinhos deveriam ser transferidos para o Campo de Marte, e parte dos vôos domésticos, a Viracopos. Congonhas só ficaria com a ponte aérea.

"Só quem nasceu ontem acha que a Infraero aumentou o terminal em 10.000 m2 apenas pelo conforto dos passageiros. As grandes empresas e os prédios de luxo que se concentraram na zona sul nos últimos anos querem continuar a ter Congonhas por perto", diz.

Mas uma transferência de tráfego para Cumbica depende de sua acessibilidade. "As distâncias não se medem mais em metros, e sim em tempo", diz o arquiteto Fernando de Mello Franco, do escritório MMBB.

"Se houvesse um sistema de mobilidade eficiente a Cumbica, de trem ou metrô, seria mais viável transferir as operações de Congonhas para lá, sem grandes prejuízos no tempo de deslocamento dos seus usuários", sugere o arquiteto.

Ele acha que as ferrovias "subutilizadas" às margens do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí poderiam ajudar na ligação com Guarulhos.

"As evidências são que Congonhas não oferece segurança. Provavelmente seria mais seguro com uma redução drástica de suas operações."

Sufocando Cumbica
A mesma crônica de construção acelerada e irregular que sufocou Congonhas já se repete em Guarulhos. "Basta ver que o entorno de Cumbica se adensa em uma velocidade surpreendente, em uma das áreas de maior favelização de São Paulo", diz Mello Franco.

Segundo Regina Monteiro, que é filha de aviador e é vizinha de Congonhas desde que nasceu, há 50 anos, o sufocamento de Cumbica se acelerou no final dos anos 60.

Ela diz que as pessoas reclamam do barulho, "mas a maioria dos que moram lá foram quando o aeroporto já existia e era movimentado".

Como costuma se repetir na história paulistana, especulação imobiliária e a concessão de alvarás sem planejamento deixaram Congonhas sem área para respirar, a área de escape necessária ontem para que o avião não chocasse com um prédio.

"Quando a prefeitura breca uma obra, o Departamento de Aviação Civil autoriza, e vice-versa. E assim o aeroporto ficou sufocado", acusa Monteiro.

Metrô
O arquiteto Mello Franco também traça um paralelo entre a tragédia nas obras do metrô, em janeiro último, quando as empreiteiras que executavam a obra eram as mesmas responsáveis em fiscalizá-las, e não o governo.

"Parece que parte do problema é que a obra da pista estava incompleta, sem as ranhuras. Isso demonstra negligência de quem construiu, de quem geriu e de quem deveria fiscalizar a obra", acusa.

"Há um sucateamento da construção civil. As formas de contratação de serviços e projetos pelo menor preço, sem controles, como se fosse papel higiênico. Segurança não é commodity. A tragédia do metrô aconteceu pelo mesmo sucateamento", diz.

Raul Juste Lores
Folha de S.Paulo.