No
Estado, rendimento de professora da rede pública pode
ser 22% superior
Para especialistas, maior qualidade do ensino na rede
privada vem do fato de essas escolas trabalharem com perfil
segmentado
O mesmo exercício comparativo entre os rendimentos
de professores das redes privada e pública no Brasil
foi repetido especificamente para São Paulo. A conclusão
dos autores do estudo sobre diferenciais de salário
entre os docentes é que, em São Paulo, o rendimento
ao longo da carreira e levando em conta a aposentadoria são
ainda mais vantajosos para a rede pública do que o
verificado no resto do país.
No Brasil, quando incluídos os vencimentos na aposentadoria
e os descontos previdenciários, os rendimentos de uma
professora da rede pública de 1ª à 4ª
série ao longo da vida são 12% superiores em
relação a suas colegas da rede privada em uma
das simulações feitas. Em São Paulo,
esse diferencial sobe para 22%.
Para o mesmo perfil de professor, mas do sexo masculino, o
diferencial a favor do setor público é de 7%
em todo o Brasil. Especificamente em São Paulo, ele
sobe para 18%.
Em São Paulo, assim como para todo o país, as
médias da rede pública no Saeb e no Enem são
piores do que as verificadas em escolas privadas.
Para a presidente da CNTE (Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação), Juçara
Dutra Vieira, é preciso considerar nessa análise
também que boa parte do diferencial em termos de qualidade
do ensino na rede privada vem do fato de essas escolas trabalharem
com um perfil segmentado de aluno por serem pagas.
No caso do ensino público, pondera Vieira, as escolas
atendem a todo o perfil de aluno, o que torna o trabalho do
professor mais difícil.
"Achamos que não é muito científica
a tese generalizada de que as escolas privadas são
muito superiores às públicas. Além disso,
há muita interferência de outros fatores que
ajudam a explicar por que uma escola pública tem rendimento
menor do que uma particular nos exames nacionais", diz.
Para o economista Samuel Pessoa, um dos autores do estudo,
esse argumento faz sentido."O fato de a escola privada
cobrar mensalidade faz com que muitos alunos, especialmente
os mais problemáticos ou muito pobres, não se
matriculem nela. Mas eu suspeito que, mesmo numa escola privada
que atende ao mesmo perfil de aluno do que uma pública,
os resultados vão ser melhores no setor particular,
talvez por uma pressão maior exercida pelos pais dessas
escolas", afirma.
Pessoa diz que, como o regime de trabalho é mais favorável
ao professor na rede pública, era de se esperar que
os resultados também fossem melhores. "Na rede
pública, o professor tem estabilidade, pode faltar
várias vezes e não é cobrado por desempenho.
Suas condições de trabalho, nesse sentido, seriam
até mais favoráveis."
Folha de S.Paulo.
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