Docentes
que estiveram em programa de capacitação não
conseguiram que seus alunos tivessem melhor desempenho no
Saeb, diz pesquisa
É consenso que o professor precisa estar atualizado
para ampliar conhecimentos e aperfeiçoar práticas
pedagógicas. É recomendável que a instituição
para a qual ele trabalha estimule e, de preferência,
forneça oportunidades para isso. No entanto, quando
se trata do ensino público, e dos cursos de capacitação
oferecidos aos professores dessas redes, a constatação
é que eles não estão fazendo diferença
no desempenho dos alunos, apesar de geralmente serem divulgados
como uma das iniciativas para melhorar o ensino.
O fato aparece no estudo Determinantes do Desempenho Escolar
do Brasil, adiantado ontem pelo Estado e que será apresentado
hoje no seminário Remuneração, Gestão
e Qualidade da Educação, organizado pela Fundação
Lemann, pelo Instituto Futuro Brasil e pelo Ibmec São
Paulo. “Esses cursos de capacitação não
têm influência. Pelos resultados dos alunos no
Saeb, esses cursos não aumentaram a eficácia
do professor na hora de dar aula”, afirma o economista,
Naércio Menezes Filho, autor da pesquisa, cruzamento
dos resultados do Sistema Nacional da Avaliação
Básica (Saeb).
“Isso quer dizer que os estudantes que tiveram aulas
com professores que recentemente passaram por cursos de atualização
e capacitação tiveram o mesmo desempenho dos
estudantes que tiveram aulas com professores que não
fizeram nada disso”, explica Menezes, que é professor
do Ibmec São Paulo e da Faculdade de Economia e Administração
da USP. “Eles geralmente não são focados.
E o professor vai, fica ouvindo sobre várias linhas
pedagógicas e no fim não aprende nada que consiga
usar”, diz ele.
A falta de foco no ambiente de trabalho do professor de muitos
programas é apontada como dificuldade pelo próprio
setor da educação. “É muito importante
que o professor tenha uma formação contínua,
mas que ela tenha como foco o ambiente de trabalho”,
afirma Juçara Dutra Vieira, presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
“Na prática, o professor acaba fazendo muitos
cursos fragmentados, tendo muitos certificados e isso não
responde aos desafios da sala de aula”, complementa.
Para Maria Lúcia de Almeida, do Centro do Professorado
Paulista, o professor recebe cursos formatados e não
tem oportunidade de sugerir o que precisa. “Há
um descompasso entre quem está fora da escola e pensa
o curso e o professor.”
Seja como for, mais do que investimento por aluno ou mesmo
salário dos professores, a maior diferença observada
na rede pública, segundo Menezes, está numa
gestão que cobre resultados e motive os professores.
No Rio, uma das escolas apontadas como iniciativas de sucesso
pelo Aprova Brasil, do Ministério da Educação,
atribui seus bons resultados ao envolvimento de quem ensina.
Nas escolas municipais Minas Gerais, na Urca, na zona sul,
e a Madri, em Vila Isabel, na zona norte, com apoio dos diretores,
os professores usam a criatividade para tornar as aulas mais
interessantes e incentivam a participação em
atividades extra-classe. Nas duas escolas, a infra-estrutura
física deixa a desejar. “Em termos estruturais,
temos todas as mazelas que a escola pública tem”,
disse Regina. Por outro lado, acrescenta, os professores conhecem
todos os alunos pelo nome e fazem questão que os pais
venham à escola quando o rendimento está ruim.
Cada rede organiza seus programas de capacitação,
geralmente em parceria com universidades. Este ano, o ministério
transferiu a capacidade de formação de docentes
da educação básica para a Capes, responsável
pelo ensino superior. Além de pretender treinar dois
milhões de professores no Universidade Aberta, com
aulas de educação à distância.
Simone Iwasso
Colaborou Fabiana Cimieri
O Estado de S.Paulo
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