Diretores
de unidades que perseguem metas e monitoram cumprimento de
aulas melhoram desempenho escolar
Gerenciar bem os recursos na escola faz mais diferença
para um bom desempenho dos estudantes do que apenas investir
muito dinheiro. A afirmação, óbvia para
economistas e administradores, mas ainda tabu no setor pedagógico
por envolver conceitos como metas, objetivos, avaliações
e resultados, é uma das principais conclusões
de um estudo inédito feito a partir de dados do Sistema
Nacional da Avaliação Básica (Saeb) e
da Prova Brasil, aplicados pelo Ministério da Educação.
“O cruzamento mostra que não há relação
direta entre os recursos e a nota dos alunos”, explica
o economista Naércio Menezes Filho, autor da pesquisa
“Determinantes do Desempenho Escolar do Brasil”,
obtida com exclusividade pelo Estado e que será apresentada
amanhã em evento em São Paulo. Um exemplo dessa
constatação é o caso de municípios
que gastaram quase R$ 1 mil por aluno ao ano e tiveram estudantes
da 8ª série com média de 250 pontos em
matemática no Saeb, enquanto outras cidades obtiveram
o mesmo resultado com R$ 250. “É claro que dinheiro
é importante, mas diferenças na gestão,
na forma de alocá-lo são mais importantes para
explicar melhores resultados do que a simples quantidade de
recursos”, diz Menezes Filho, que é coordenador
do Centro de Pesquisa Acadêmica do Ibmec São
Paulo e professor da Faculdade de Economia e Administração
da Universidade de São Paulo.
O professor comparou as notas dos exames, divulgadas pelo
ministério, com os recursos no orçamento da
educação dos municípios, que constam
no Tesouro Nacional. O Saeb é uma prova feita a cada
dois anos por amostragem para alunos da 4ª e 8ª
séries do ensino fundamental e 3º ano do médio.
Avalia o aprendizado de língua portuguesa e matemática.
Já a Prova Brasil foi feita pela primeira vez em 2005
em todas as escolas públicas de Estados e municípios
que aderiram ao projeto.
A eficiência
Pelo cruzamento, o município de São Paulo gastou
ao ano por aluno da 4ª série R$ 1.060 e teve média
de 168 pontos na Prova Brasil - o que quer dizer que eles
conseguem só fazer soma e subtração,
não chegando à multiplicação.
Por outro lado, os estudantes de Rio Branco (AC), com média
de 177 pontos, custaram R$ 589. Já os de Porto Alegre
custaram R$ 843 e tiveram média de 184 pontos - nessa
escala, o aluno faz multiplicações simples,
mas não lê as horas num relógio de ponteiros.
Variações maiores são percebidas no
interior. O município de Areias (SP) investiu R$ 2.681
e seus alunos tiveram 167 pontos; em Presidente Kennedy (ES),
foram R$ 2.254 e 165 pontos. Na outra ponta, Birigüi
(SP) teve bom resultado: média de 209 pontos e investimento
de R$ 889. A partir dos 200 pontos, eles usam relógio
de ponteiros e multiplicam números de dois algarismos.
“A partir de outros relatórios tínhamos
mesmo esse indicativo de que o gasto não influenciava
diretamente o desempenho. O que esse cruzamento faz agora
é reforçar o conceito de que um dos grandes
problemas da educação é a falta de gestão”,
diz a secretária da Educação do Distrito
Federal, Maria Helena Guimarães de Castro. Ela também
comprovou essa indicação numa pesquisa recém-concluída.
“As melhores escolas que encontramos aqui foram as que
o diretor estava empenhado”, diz Maria Helena. “Todas
recebem o mesmo valor, mas o desempenho do aluno varia até
30% entre elas. E algumas das melhores estavam em bairros
periféricos”, afirma. As variantes percebidas
pela secretária como diferenciais são as mesmas
encontradas no cruzamento feito por Menezes: diretor estável,
que independe da iniciativa da secretaria, controla faltas
de professores e monitora o cumprimento das aulas.
“O ambiente dos educadores ainda rechaça a visão
de que a educação é um serviço,
que deve prestar contas de seus resultados e ter uma gestão
profissional. Temos dados de uma pesquisa que vamos divulgar
que mostram que os professores, quando trabalham na escola
pública e na privada, admitem faltar muito mais na
pública, porque na privada são cobrados por
suas faltas”, afirma Ilona Becskeházy, diretora-executiva
da Fundação Lemann, que atua na formação
de gestores da educação.
Resultados de um dos projetos da fundação,
aplicados em 2005 em Santa Catarina e São Paulo, mostraram
acréscimo de 18% nas notas de português dos alunos
da 4ª série depois que diretores receberam aulas.
O processo foi repetido ano passado com resultado semelhante
em Tocantins e Ceará. No entanto, segundo Ilona, ainda
estamos longe da profissionalização, já
que nomeação direta ou política para
diretor é comum em pelo menos oito Estados, como na
Bahia. “Se dependesse só de volume de recursos,
era para a situação ter mudado. Prestar contas
não é só mostrar nota fiscal, é
ter resultado”, diz Maria Auxiliadora Resende, secretária
da Educação de Tocantins e presidente do Conselho
Nacional de Secretários da Educação.
Em Tocantins, com mudança na gestão (metas para
professor, controle de falta e nomeação de diretor
por capacidade técnica) houve, de 2001 a 2005, melhora
de 30% no Saeb.
Simone Iwasso
O Estado de S.Paulo
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