REDENÇÃO(CE)-
Distante 52 quilômetros de Fortaleza,o município
de Redenção entrou para história pelo
pioneirismo na libertação dos escravos. Foi
em primeiro de janeiro de 1883, um ano antes da escravidão
ter acabado oficialmente no Estado e cinco anos antes da Princesa
Izabel assinar a Lei Áurea, decretando a libertação
dos escravos no Brasil.
Pelas datas, percebe-se o quanto é antiga essa história.
Um pouco dela, entretanto, está preservada fora das
páginas dos livros, num casarão do Século
XVIII, mantido quase intacto em Redenção, onde
funciona a “Senzala do Negro Liberto”. O Museu
existe oficialmente desde o ano passado. Tem servido como
base para muitas aulas de campo das escolas do Município
e de cidades vizinhas. Agora, neste período de alta
estação, conseguiu atrair muitos turistas, inclusive
estrangeiros.
A uma primeira vista, a atração parece ser
o próprio casarão com suas formas coloniais,
seus incontáveis cômodos e a instalação
num engenho de açúcar. Mas se engana quem pensa
assim. Ao entrar no prédio, passa-se pelo piso em pedra
portuguesa, vê-se as grossas paredes com mais de 50
centímetros de espessura, e se adentra à senzala.
É ela o maior atrativo. Para começar, a escuridão
recebe o visitante. Depois, vem a história.
O barulho do chicote, o arrastar das correntes e os gritos
no tronco não existem mais. A memória das torturas
no período da escravidão, entretanto, permanece
viva no local onde os negros ficavam confinados. Vãos
escavados nas paredes que funcionavam como celas solitárias
para o castigo, algemas, tronco e chicotes se espalham na
área. Estão desativados, mas provocam curiosidade
e mal estar a quem os vê.
De fato, é tudo muito chocante, admite a diretora
do Museu, Valéria Muniz. Entretanto, continua ela,
por mais doído que seja, não se pode furtar
a verdade. E talvez seja justamente por isso, diz, que é
uma das idealizadoras do “Senzala”, que o empreendimento
venha atraindo tanta atenção. Prova disso é
a quantidade de visitantes.
Nos primeiros meses, Valéria conseguia levar até
três ônibus com visitantes por mês, recebendo,
então, cerca de 150 pessoas. De dezembro do ano passado
até agora, entretanto, através de parceria com
agência de turismo, aumentou esse número para
500 visitantes. Isso, porém, não significa dizer
que está tudo bem.
O Museu de propriedade particular — funciona no Engenho
Livramento, da família Muniz Rodrigues, onde se fabrica
a cachaça Douradinha — se mantém as custas
do preço das visitas (R$ 2,00 adultos, R$ R$ 1,00,
crianças e escola) e da venda de souvenirs numa loja
instalada no casarão. Como nem sempre é alta
estação, Valéria teme pelos meses de
visitação mais fraca. “A gente vai sempre
dando um jeitinho, mas não sabe até quando”,
diz, enfatizando, entretanto, que por ela o Museu ficará
centenário como o casarão.
ERILENE FIRMINO
do jornal Diário do Nordeste, Fortaleza- CE
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