ciência
19/05/2008

"Radiação teleguiada" ataca câncer raro

Técnica em teste reduziu sintomas em pacientes de tumor carcinóide que reagiram mal a outros tipos de tratamento

Novo método em teste no hospital A. C. Camargo usa elemento radiativo ligado a moléculas que procuram as células tumorais no corpo

 

Um grupo de médicos está testando em São Paulo um novo tratamento contra um tipo de câncer raro. A técnica, que pode ser descrita como um "veneno radiativo teleguiado", conseguiu abrandar os sintomas de 13 pacientes dos chamados tumores carcinóides -variedade persistente da doença que tem origem em células de glândulas ligadas ao sistema nervoso. O método está agora em fase final de validação.

Para desenvolver a técnica no Brasil foi necessária a participação do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), conta o médico Eduardo Nóbrega, do Departamento de Imagem do Hospital A. C. Camargo (antigo Hospital do Câncer de São Paulo), um dos responsáveis pelos testes da técnica no Brasil (por enquanto ela só existe na Holanda e nos Estados Unidos).

A radioatividade usada pelos pesquisadores vem do elemento químico lutécio, que os cientistas ligam a uma molécula orgânica artificial batizada de octreotato. Os tumores carcinóides produzem grande quantidade de hormônios e provocam metástase, o espalhamento do câncer pelo corpo. A molécula criada pelos cientistas se vale justamente dessa característica para identificar o tumor e atacá-lo com lutécio-177, a variedade radiativa do elemento.

"A porção lutécio-177 [da molécula] consegue destruir as células do tumor em todos os locais onde ela se esconde [metástases]", diz o médico. Isso porque, com a fixação do elemento na superfície das células tumorais, a irradiação se torna bastante localizada.

Ainda não é a cura
Os teste da nova técnica no A.C. Camargo inspira otimismo. Um dos voluntários é um médico que voltou a clinicar, e outro é um estudante que agora frequenta as aulas. A palavra "cura", porém ainda não se aplica nestes casos, alertam Nóbrega e o seu colega de instituição Marcelo Cavicchioli.

A técnica é segura e eficaz -e já foi até oferecida em algumas instituições particulares- dizem eles, mas seu papel primordial é melhorar a qualidade de vida das pessoas.

"Estes tumores carcinóides surgem principalmente no trato gastrointestinal" conta Nóbrega. "A produção de hormônios determina a síndrome carcinóide, que se caracteriza pela presença de ondas de calor, rubor facial e diarréia constante e incontrolável", diz.

Último recurso
Apesar de os médicos não conseguirem precisar o benefício da técnica em números, ela fez com que os 13 pacientes ganhassem meses ou anos a mais de vida. "Esse tratamento é para quando não resta mais nada a fazer. Os resultados são animadores", diz Cavicchioli.

O primeiro paciente a ser testado em São Paulo recebeu a dose inicial em março de 2006. Ao todo, 18 pessoas começaram o estudo. Além de duas mortes -o estado dessas pessoas já era quase irrecuperável, segundo os médicos-, uma mulher engravidou e interrompeu o tratamento. Outros dois pacientes desistiram de tomar mais doses porque conseguiram melhora com técnicas mais comuns.

Nem todo paciente de tumor carcinóide pode suportar as infusões venosas da nova molécula terapêutica, diz Nóbrega. O método traz um certo grau de risco para os rins, entre outros problemas. Por isso, a lista de pré-requisitos para receber esse tratamento não é curta.

Outra opção em curso hoje é a intervenção cirúrgica. "O problema é que, às vezes, os tumores se instalam em locais inacessíveis, e a radioterapia e a quimioterapia já não respondem mais", diz o médico.

É nesses casos que técnicas novas como a testada por Nóbrega têm papel fundamental.

Eduardo Geraque
Folha de S.Paulo

   
 
   
 

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