Painel discute desafios da educação na América Latina
CÁSSIO AOQUI
DA FOLHA DE S.PAULO, EM CARTAGENA
Como atingir o sucesso em educação na região com a maior desigualdade social do mundo, a América Latina?
Esse foi o tema discutido no workshop "Educação e Conhecimento: As Novas Commodities", na tarde desta quinta-feira, no Fórum Econômico Mundial na América Latina.
"Vale lembrar que a desigualdade de renda é amplamente explicada pela desigualdade em anos de estudo. Temos uma taxa de desistência enorme, especialmente no ensino médio, em toda a América Latina. Em todos os rankings, países como Brasil, Colômbia, Argentina e México aparecem com os piores resultados em educação. Algo de errado estamos fazendo", ressaltou o Jovem Líder Global e CEO do Cinepolis (México), Alejandro Ramirez, que apresentou diversas estatísticas sombrias sobre os descaminhos da educação latino-americana.
Ainda que o cenário seja negativo, mudanças são possíveis. A fim de comprovar isso, empreendedores sociais de diversos países compartilharam suas experiências e sugestões para que melhoras sejam efetivamente alcançadas na região. Veja a seguir alguns de seus comentários.
"Inovação tem tudo a ver com aprendizado. É preciso olhar para o futuro e além do horizonte. As pessoas pensam erroneamente que inspiração é o principal caminho para a mudança social. Mas nada acontece sem muita resolução de problemas e trabalho duro, execução. Algumas palavras-chave para obter sucesso na educação que eu sugeriria são: parcerias com grandes empresas, colaboração, financiamento, ecossistema, visão, foco de longo prazo, relacionamentos, mercados mundiais. Acima de tudo é importante manter o foco na visão e não se deixar levar pelo ziguezgue com que nos deparamos todos os dias."
Nancy Knowlton, CEO da Smart Technologies (Canadá)
"Para melhorar a educação é preciso repensar e redesenhar o que estamos fazendo -e não filosoficamente falando, mas na prática. Temos de mudar os paradigmas para um aprendizado colaborativo e diferente. Na Escuela Nueva, por exemplo, adotamos cartilhas reutilizáveis, por meio das quais os alunos dialogam entre si. É preciso pensar sistematicamente, desde as políticas públicas nacionais de grade curricular até o treinamento de professores, em direção às habilidades do século 21, como aprender a aprender, cumprir prazos, tomar iniciativa, trabalhar em grupos, sintetizar informações e aprender democracia em sala de aula."
Vicky Colbert, diretora-executiva da Fundación Nueva Escuela Volvamos a la Gente (Colômbia) e Empreendedora Social de Destaque da Fundação Schwab
"Os fatores-chave de sucesso de qualquer instituição na área educacional são: 1) ter a missão definida pela sociedade; 2) ter uma comunidade empresarial comprometida com a educação; 3) ter programas acadêmicos ligados às necessidades organizacionais em termos nacionais; e 4) usar tecnologia na educação de forma eficiente."
Patricio Lopez, presidente da Virtual University e do Monterrey Institute of Technology and Higher Education (México)
"O segredo é saber usar a tecnologia como direito do cidadão de baixa renda ter sua vida melhorada. Para isso, é fundamental fazer uma parceria localmente com as comunidades. Aos poucos, agentes de transformação surgem, na medida em que os estimulamos a obter maior entendimento do mundo, a pesquisar dados, a planejar ações, a se mobilizarem no intuito de agir e a medir seu impacto. Eu acredito muito no poder da tecnologia para transformar e criar uma nova sociedade. Temos um caso de um ex-traficante, conhecido por ter inventado o conceito de sequestro no Brasil, que se tornou um empreendedor social, sendo líder de uma franquia nossa e hoje se tornou 'fellow' da Ashoka. Essa transformação deve ser a nossa utopia."
Rodrigo Baggio, Jovem Líder Global e diretor-executivo da ONG brasileira CDI (Centro para a Inclusão Digital)