ONGs devem captar recursos em fontes diversificadas
SILVIA DE MOURA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
Diversificar as fontes de recursos. Essa foi a principal saída apontada na mesa "Bye Bye Brazil: As ONGs Diante da Saída dos Recursos Internacionais", durante o 6° Congresso Gife, que termina hoje (9) no Rio de Janeiro.
Os debatedores disseram estar percebendo uma mudança no foco das doações internacionais. "Há uma diminuição pequena [dos recursos], mas não significativa. Não se confirma que a cooperação internacional esteja saindo do país, mas há uma mudança [de estratégia]. Atualmente, o tema ambiental é muito valorizado", disse Sergio Haddad, do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Bradford Smith, da Foundation Center, avaliou que está havendo uma "segmentação". De acordo com ele, "quem trabalha as questões de clima não terá problemas [de caixa]". "Os recursos [vindos da cooperação internacional] são orientados para uma estratégia global."
Smith apresentou alguns dados sobre aplicações de verbas. A Ford Foundation lidera o ranking das organizações estrangeiras que mais investem no país. O dinheiro doado vai em primeiro lugar para a Fundação Desenvolvimento de Pesquisa. O Instituto Socioambiental aparece na segunda posição.
Ele lembrou que as ONGs são apenas mais um dos atores em um cenário mais completo, que compreende ainda a filantropia individual e o governo.
Um problema ressaltado foi a falta de participação individual nas contribuições com o terceiro setor. Mesa e plateia concordaram que o brasileiro não tem o hábito de fazer doações regulares para as instituições.
No resumo das observações levantadas durante o debate, Marcelo Estraviz, da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), apontou que "a garantia de sobrevivência [das ONGs] está na importância de trabalhar a diversificação das fontes".
Na mesa "Aprendendo com os Erros: Fracassos no Investimento Social Privado", ficou claro que poucas instituições conseguem verificar os pontos falhos e a partir deles orientar suas ações.
"Conheço pouca gente que usa o relatório social e o balanço social como reformulação para o ano seguinte", disse José Pinto Monteiro, da JPMonteiro Responsabilidade Social Empresarial.
Ele avaliou como "custo barato" os erros cometidos desde os anos 1980, quando as instituições passaram a atuar mais efetivamente nas ações sociais, "porque as transformações sociais foram enormes".
"Ninguém gosta de discutir erros. Se o sucesso a gente divulga mal, a gente quase não divulga os erros", afirmou Monteiro.
Simone Coelho, do Ideca, lembrou que, "sem reflexão sobre os aprendizados, não se corrigem os rumos".