Empreendedores latinos perdem espaço com barreira da linguagem, diz diretora da Fundação Schwab

CÁSSIO AOQUI
DA FOLHA DE S.PAULO, EM CARTAGENA

Enquanto os empreendedores sociais da Venezuela entrarão com força em 2010 para a seleta rede da Fundação Schwab, que organiza o Prêmio Empreendedor Social em mais de 20 países, os atuais participantes discutem a criação de uma entidade internacional que tenha como foco o estímulo ao empreendedorismo social.

É o que afirma a diretora-executiva da Fundação Schwab, entidade parceira da Folha na realização do Prêmio Empreendedor Social no Brasil, Mirjam Schoening.

Em entrevista à Folha, Schoening compara o momento atual do empreendedorismo social na América Latina e no Brasil com outras regiões em que a fundação trabalha, aponta qual o perfil buscado pela organização e ressalta as dificuldades que os latino-americanos têm com a barreira da linguagem.

FOLHA - No ano passado, no Fórum Econômico Mundial na América Latina, que aconteceu no Rio, a Fundação Schwab anunciou mudanças no processo de premiação na região, agrupando todos os países em uma só competição, exceto o Brasil e o Chile. Um ano depois, como avaliam a mudança? Haverá mudanças -incluindo o Brasil?

MIRJAM SCHOENING - Nós tipicamente gostamos de mudança e a cada três anos fazemos uma reavaliação do que fizemos em termos de seleção que funcionou ou não. Mas definitivamente manteremos o formato regional por ora, ou seja, teremos menos países selecionados que terão do Prêmio Empreendedor Social -e o Brasil é certamente um deles.

Em relação à América Latina, um país que tem se fortalecido é a Venezuela, que é um mercado interessante. Assim lançaremos o processo nesse país neste ano.

Continuaremos com o Chile com uma premiação exclusiva e, para os demais países, manteremos a escolha de três empreendedores sociais que serão apresentados no encontro regional, durante o fórum da América Larina.

FOLHA - Em 2009, a Fundação Schwab criou uma plataforma na internet para aproximar os empreendedores sociais. Como está seu funcionamento?

SCHOENING - A plataforma, chamada de "Welcome World Economic Leaders Network" já existe e é como um Facebook para a comunidade do Fórum Econômico Mundial. Nós a lançamos em agosto para os empreendedores sociais, com uma comunidade para eles.

Para dizer a verdade, ainda não está no formato que desejamos. O objetivo é apoiar a rede de eventos como este entre os encontros, para que possam trocar ideias, documentos etc. Estamos trabalhando para reforçá-lo.

Há tanto acontecendo e tantas interconexões que esse tipo de ferramenta é essencial para o nosso aprendizado.

FOLHA - Como a sra. avalia o empreendedorismo social na América Latina e especificamente no Brasil em comparação com outros países e regiões em que a Fundação Schwab atua?

SCHOENING - Neste ano fiquei particularmente feliz com os candidatos que encontramos. Houve um grande aumento de inscrições na região em relação aos anos anteriores. Provavelmente em relação ao resto do mundo, a América Latina fica no meio.

A Índia é o país que tipicamente tem os empreendedores sociais mais surpreendentes, mas tem tamanho diferente.

Estamos contentes em ver que os empreendedores sociais da última edição apresentam muito bem o perfil procurado de negócios sociais no lugar do modelo mais tradicional de organizações sem fins lucrativos. Esse tipo de projeto é muito mais difícil de ser encontrado na África. Já o Oriente Médio é um mercado em sua fase inicial, assim como o Sudeste Asiático e a China.

É uma pena, contudo, que sempre temos de tentar superar os desafios da língua no caso dos empreendedores sociais latino-americanos. Este encontro [na América Latina] funciona bem, mas quando nós realmente tentamos integrá-los em um nível global em Davos ou no encontro da China, perdemos muitos dos empreendedores latino-americanos que não conseguem se comunicar.

FOLHA - Quais são as metas e planos da Fundação Schwab para os próximos anos?

SCHOENING - Algo em que estamos empenhados nos últimos tempos e que culminará no fim de maio e início de junho é um esforço do Fórum Econômico Mundial, no qual os empreendedores sociais apresentam grande importância, chamado Iniciativas de Líderes Globais.

É uma ideia inovadora lançada no Rio em 2009 em que perguntamos a empresas internacionais e a outros participantes: "Se pudesse redesenhar o mundo numa folha em branco, o que faria?"

Nós desafiamos os empreendedores sociais em nossa rede e recebemos 35 propostas, que passaram por um processo de seleção, e oito deles irão para um encontro especial em Doha, no Oriente Médio, no fim de maio. É uma iniciativa interessante ver tais ideias.

Também temos um grupo de empreendedores sociais que surgiu com a ideia de entender como promover empreendedorismo social. Nós começamos do fato de que existe um braço das Nações Unidas voltado a promover o microcrédito e que tem feito um intenso trabalho nesse sentido, então por que não haver um voltado para empreendedorismo social? Ou seja, criar uma entidade internacional focada em fazer pesquisas sobre empreendedorismo social, lobby em organizações internacionais, agências etc.

FOLHA - As inscrições do Prêmio Empreendedor Social estão abertas no Brasil. Poderia informar aos potenciais candidatos qual o perfil que a Fundação Schwab busca atualmente?

SCHOENING - O critério permanece. Tem de ser alguém que surgiu com uma ideia inovadora, pelo menos no contexto brasileiro, que ataque a causa do problema e não apenas ofereça um serviço. Que tenha o resultado esperado e um foco forte nessa avaliação de resultados. Além financeiramente autossustentável.

Outro ponto é o modelo de negócios sociais, que está ganhando mais e mais força. E, pelo nosso conceito, diferentemente do de Muhammad Yunus, as empresas sociais podem, sim, distribuir lucros aos seus acionistas.

FOLHA - Qual orientação daria para candidatos que neste momento estão ponderando se vão se inscrever ou não?

SCHOENING - Que se inscrevam. E tenham em mente que o primeiro formulário é curto, não precisa ser demasiadamente elaborado. Ainda que não estejam prontos para passar para as próximas fases, ficarão no nosso sistema e é bom estar em nosso radar para ver o que acontecerá nos próximos anos.

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