Códigos de ética construídos por diversos públicos têm maior adesão

MÔNICA HERCULANO
da redeGIFE (www.gife.org.br)

A construção e adoção de um código de ética, especialmente quando tem o público interno envolvido no processo, pode contribuir para a inserção dos princípios defendidos no sistema de gestão. No entanto, apenas essa ferramenta não é suficiente, mesmo que implantada em organizações que tenham firme propósito de aderir ao movimento da responsabilidade social e do investimento social privado.

Essa é a conclusão da tese "Código de Ética - Uma ferramenta para inserção de princípios de responsabilidade corporativa na gestão das organizações", apresentada pela consultora em recursos humanos Kátia Périco na conclusão do curso MBA Empresarial, da Fundação Dom Cabral. O objetivo foi abordar se e em quais circunstâncias a construção e implementação de códigos de ética em empresas e ONGs podem contribuir para a inserção de princípios de responsabilidade social no sistema de gestão.

Segundo ela, mesmo que a empresa já tenha na sua cultura a prática do diálogo e compartilhamento constante com seus colaboradores, se divulgar um código de ética construído em "gabinete" ou apenas traduzido da matriz, terá essa ferramenta pouco aceita e utilizada. "O envolvimento do público interno durante a construção de um código de ética propicia uma adesão mais efetiva aos princípios e diretrizes nele contidos, visto que representam as crenças desse público e uma tendência do compromisso do mesmo em sua implementação. O ideal seria que houvesse representantes de todos os stakeholders na construção e na revisão do código de ética."

Para o coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getúlio Vargas (Cets/FGV), Luiz Carlos Merege, o papel de um facilitador externo seria importante para evitar a timidez dos participantes no processo de criação. "O código de ética poderia ser usado como um verdadeiro contrato social para uso do público interno e para conhecimento e cobrança do público externo de uma empresa."

Entretanto, nem todas as organizações terão o mesmo modo para construir seu código de ética, já que isso depende muito da cultura e do modo de gestão de cada uma, lembra Hélio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Além da participação dos diversos públicos interessados, existem dois pontos essenciais neste processo: a transparência e o realismo.

"Transparência no sentido de que a construção do código de ética deve ser um processo onde os objetivos, critérios e processos estejam claros e sejam conhecidos de todos os envolvidos. Independentemente de como cada um participa, é fundamental que o código de ética resulte de um processo de reflexão e discussão, para que seja de fato assimilado pela organização em todos os seus níveis", explica. E realismo, diz ele, no sentido de que o código represente o que de fato a empresa valoriza e é capaz de colocar em prática. "De nada adianta um código de ética maravilhoso, mas que cai imediatamente em descrédito por ser incompatível com a realidade da empresa. É preciso encontrar um ponto onde a superação das imperfeições da empresa esteja contida no documento, incorporada como uma meta a ser atingida, e não como uma idealização impossível ou uma simples hipocrisia."

Fundações e institutos - Para Kátia, a construção do documento deve conter "rituais" típicos de cada empresa. O formato/tamanho, grau de detalhamento e conteúdo também devem refletir a cultura organizacional, caso contrário o código fica "descolado" da realidade em questão e, assim, torna-se difícil garantir a adesão do público interno e permitir que ele norteie as práticas cotidianas.

"O código de ética de uma empresa não só deve ser casado com o da sua fundação ou instituto, como deve ser o mesmo. Ele é uma declaração formal das expectativas de conduta que uma empresa possui frente a seu quadro funcional. Ora, se o instituto e a fundação representam o elo de relação da empresa com a comunidade, acredito que essas diretrizes devam estar no mesmo documento. Isso contribui também para que a empresa não se aventure apenas a ter belos projetos sociais geridos por seu instituto e deixe de se ocupar dos possíveis impactos gerados a outros públicos na condução de seu negócio", afirma Kátia.

Terezinha Rios, filósofa e autora do livro Ética e Competência, concorda que, embora se reconheça a especificidade de cada uma das organizações, o código é uma referência para as ações e relações, por isso, é necessário que a base da orientação seja comum. "É estranho pensar que, sendo uma carta de princípios, o código da empresa guarde diferenças essenciais com o de sua fundação ou instituto", afirma. Ela entende que a maioria daqueles que são denominados códigos de ética são, na verdade, códigos de moral. Neles se destacam, principalmente, normas ou regras que devem ser seguidas pelos indivíduos e grupos que fazem parte das organizações ou que com elas se relacionam.

"Um código será efetivamente de ética quando nele estiverem presentes, de maneira destacada, princípios nos quais se sustentam as normas ou regras que se propõem. Um exemplo: a regra 'todos devem ser pontuais' se sustenta no princípio do respeito - aqueles que não chegam no momento combinado estarão prejudicando o trabalho dos demais. É com base nos princípios que se instituem as regras, e os princípios servem como referência para as ações e relações dos indivíduos envolvidos pelo sistema de gestão. Na verdade, então, o código não insere princípios, ele explicita princípios nos quais a organização acredita e quer ver presentes no seu contexto."

Revisão - As organizações, segundo Terezinha, devem ainda manter uma vigilância crítica sobre seus códigos de ética, para perceber quando há necessidade de atualização e reafirmação de princípios. "Os códigos de ética trazem indicações para as ações e relações dos indivíduos e grupos de uma organização, de uma categoria profissional, de um segmento social. É necessário que se realize uma reflexão constante sobre o que se propõe. O código se aplica a uma realidade que é dinâmica e é, portanto, um documento histórico, que tem sua vigência num contexto que sofre constantes modificações."

Se o descumprimento de alguma diretriz fere os princípios e valores da empresa e passa desapercebido, o código de ética pode cair em descrédito, adverte Kátia Périco. Por isso, é fundamental que a empresa disponha de mecanismos de acompanhamento e monitoramento. "As empresas que não o fazem muitas vezes é por não disporem de uma estrutura formal para tal, porque isso envolve custos altos. Muitas vezes é necessário um canal de denúncias interno e externo, uma auditoria independente, um comitê de ética, etc. Por isso, os gestores e colaboradores em geral deveriam ser os guardiões do código, com a certeza de que não sofrerão represálias ao fazer denúncias identificadas", explica.

Ciro Torres, responsável no Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) pelo tema Responsabilidade Social e Ética nas Organizações, completa que todas as pessoas novas na empresa devem ser devidamente sensibilizadas e capacitadas para interiorizar estas normas, conhecendo seus direitos e deveres. "As gerências e a direção também devem dar o exemplo, praticando, cotidianamente, aquilo que se encontra na missão e no código de ética da sua empresa."

Para ele, códigos de ética são muito importantes para institucionalizar os valores e sistematizar normas de conduta e padrões de atuação de uma empresa, mas devem estar coerentes ou ir além das leis que asseguram os direitos e deveres sociais, ambientais e trabalhistas da empresa e sua gente. "A gestão da responsabilidade social começa dentro de casa, ou seja, nas relações internas e na hora de produzir, operar ou disponibilizar bens, produtos e serviços com ética transparência e responsabilidade", afirma.

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