Possibilidade e restrições da internet são discutidas em seminário
Ferramentas não chegam a grande parte da humanidade, diz cofundadora da Associação Palas Athena
MARIANA IWAKURA
DA FOLHA DE S.PAULO
O seminário "Novas tecnologias, velocidade e poder" trouxe à tona a discussão sobre a inclusão digital e o papel da internet no empoderamento da sociedade. O painel foi parte da programação do segundo dia (3/6) do Unomarketing - Comunicação Consciente - Feira e Seminário Internacional de Marketing Sustentável, que acontece até hoje (4/6) na Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).
Na opinião de Abel Reis, presidente e COO (principal executivo de operações) da AgênciaClick, a lógica do tempo real do software pode ajudar a resgatar a democracia direta. "Acredito que nós vamos viver uma era em que seremos responsáveis pelas nossas opções de consumo", disse. "[Será] um novo modelo, em que o consumidor influenciará o produto desde na forma até no conteúdo."
Ele observou que o software é um "objeto cultural". "As corporações nunca mais serão as mesmas depois do e-mail; o comércio nunca mais será o mesmo depois da Amazon ou do eBay."
No debate, Lia Diskin, cofundadora da Associação Palas Athena, ressaltou: não é suficiente termos instrumentos para a comunicação em tempo real sem que se disponibilizem essas ferramentas para grande parte da humanidade.
De 12% a 15% da população do planeta, disse Diskin, tem um nível de consumo que, se fosse estendido ao resto das pessoas, demandaria mais algumas Terras. Quem sustenta o consumo dessa pequena parcela do mundo "são aqueles que não consomem -grande parte da humanidade", observou. "Para dar poder de decisão a alguém [é preciso dar] no mínimo capacidade de decisão, de informação sobre decisão", concluiu Diskin.
Felipe Soutello, presidente da Fundação Prefeito Faria Lima - Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal), questionou a dinâmica individualista da internet, em que o usuário acessa somente aquilo em que tem interesse. "Que cidadão é esse que abdica da visão mais holística para ter uma leitura cada vez mais segmentada, mais restrita?", indagou.
Ele citou o uso da internet para a mobilização dos eleitores norte-americanos durante a eleição de Barack Obama. A rede, diz, tem uma "potencialidade enorme" de os cidadãos fazerem exigências ao poder público. Mas, mesmo no Estado de São Paulo, o mais rico da federação, ressaltou, não há transmissão de internet de boa qualidade para todos os municípios. "Estamos [no Brasil] num estágio anterior."
São 62 milhões de internautas no país, que usam a rede no ambiente de trabalho ou em espaços públicos, em sua maioria, disse Abel Reis. "Independentemente de ter ações falidas de políticas públicas de informatização, as pessoas se incluíram. Acho que os meios digitais são instrumentos de letramento das pessoas."
No entanto, apontou Reis, os meios digitais explicitam a pobreza de articulação mental em e-mails e comunidades de sites. "Há esse lado revelador -as pessoas se expressam dentro de suas possibilidades."