Indicadores de riqueza devem ser repensados, avaliam palestrantes

Especialistas defendem rompimento com o passado visando à melhoria da qualidade de vida no Brasil e no mundo

CÁSSIO AOQUI
DA FOLHA DE S.PAULO

Recentemente, o Brasil entrou oficialmente em recessão -se considerada a definição técnica que a conceitua como dois períodos seguidos de decréscimo do PIB (Produto Interno Bruto).

Contudo, para os palestrantes da mesa redonda "Redefinindo riqueza e pobreza numa nova economia global", que aconteceu na manhã de ontem (17/6) na Conferência Internacional Empresas e Responsabilidade Social do Instituto Ethos, esse cenário apresentado -tendo o PIB como referência- é falho e incompleto. É preciso que novos indicadores sejam construídos, defendem.

"Nós não estamos medindo qualidade de vida, e sim a intensidade de fluxo de recursos", resume Ladislau Dowbor, professor titular no departamento de pós-graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).

Para explicitar sua avaliação, Dowbor apresentou uma série de exemplos. "Quando há menos doentes numa localidade, o PIB diminui, uma vez que as empresas de comércio de saúde ficam sem seus clientes. A diminuição do acesso ao lazer, como na Riviera de São Lourenço [condomínio de luxo no litoral paulista], por outro lado, aumenta o PIB local com a cobrança de taxas que inexistiam. É isso o que queremos?", questiona.

Na visão do acadêmico, o cálculo dos recursos deve mudar radicalmente, por meio da criação de sistemas descentralizados locais. "Precisamos distribuir conhecimento na reorganização social e econômica. O PIB é uma conta errada. Trata-se de nós."

Há um problema entre a renda e a felicidade -ou qualidade de vida-, ressalta Dowbor. Quando não se tem acesso ao mínimo, um pouco de aumento de renda melhora drasticamente a qualidade de vida. Uma vez que satisfez esse nível, a curva de qualidade de vida se iguala. "Significa que o dinheiro que vem lá embaixo gera muito mais qualidade de vida e felicidade para a soma da felicidade do que o que vai para especulações financeiras. Cerca de 25 milhões de pessoas morreram de Aids, milhões de crianças morrem por causas ridículas. Isso não é crise?"

O básico, conclui, é a sociedade organizada em torno de seus interesses. "O que estamos enfrentando é o problema de governança."

Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o desafio de implantar uma nova base de indicadores e conceitos é que "não se trata de um problema de ausência de indicadores, mas de enorme resistência de rompimento com base estatística que temos hoje".

"Sem contar o problema político, pois há interesses em jogo. Essa transformação passa pela esfera política", enfatiza.

O economista avalia que a falta de avanços significativos se deve primeiramente à força do passado. "O mundo é governado por 500 grandes corporações que têm faturamento equivalente a 50% do produto do mundo e estão presas ao passado", diz. Pochmann relaciona ainda o atraso da política -"nossos líderes políticos foram forjados com visão de mundo de 50 anos atrás" -e a dificuldade atual para construir uma convergência. "Temos diferentes saberes no mundo não congregados. Vivemos a crise do pensamento único -neoliberal- e de outro lado não estamos capazes de organizar o dissenso."

Ele reitera, entretanto, que o Brasil tem condições de protagonizar um novo modelo, com a participação de todos. "Nossa diferença é que somos um país em construção. Isso requer não apenas reflexão profunda, mas também atos", conclui.

Programa de indicadores e metas

Na busca por novas formas de medir qualidade de vida, o Movimento Nossa São Paulo, que nasceu do Instituto Ethos, parceira do Prêmio Empreendedor Social, da Folha de S.Paulo e a Fundação Schwab, visa reforçar o comprometimento com metas para elevar a qualidade de vida da população na capital paulista.

Após mostrar o trabalho realizado com os 33 Indicadores Básicos da Cidade de São Paulo, Oded Grajew, integrante do Movimento Nossa São Paulo, apresentou na mesa redonda o Irbem (Indicadores de Referência de Bem-estar no Município). "É a medida mais próxima possível da realidade sobre o que deve ser feito para satisfazer as necessidades de bem-estar da população em prol do desenvolvimento sustentável", afirma.

Caberá à população definir os fatores importantes para a qualidade de vida. Até 30 de setembro, a entidade consultará cidadãos nas escolas e universidades, nas empresas e na internet (www.nossasaopaulo.org.br). Os dados serão tabulados em outubro e, em novembro, o Ibope fará pesquisa a partir dessas informações para a construção dos indicadores. O trabalho será divulgado em janeiro de 2010, no aniversário da cidade.

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