"Currículo educacional deve refletir a Carta da Terra", defende o Empreendedor Social 2007, Tião Rocha

Educação com sustentabilidade é tema de discussão em mesa redonda na Conferência Ethos

CÁSSIO AOQUI
DA FOLHA DE S.PAULO

"Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável."

A frase acima, que consta da Carta da Terra, bem poderia resumir o que foi defendido na mesa redonda "Saberes necessários para a formação do cidadão: o desafio da educação para uma sociedade sustentável", que aconteceu ontem (17/6) à tarde na Conferência Internacional Empresas e Responsabilidade Social do Instituto Ethos, evento que termina hoje em São Paulo.

"Da pré-escola à pós-graduação, este país deveria ter apenas um currículo: o da Carta da Terra. Todos os princípios básicos estão ali. Todos. Não escapa nada", ressalta o vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2007, Tião Rocha, mentor do CPCD (Centro Popular de Educação e Cultura). "Temos todas as TIC - tecnologias de informação e comunicação-, mas precisamos chegar à TAC -tecnologia de aprendizagem e convivência, senão fica tudo no meio, não se realiza."

Toda lógica que levamos às pessoas em regiões de pobreza, salienta, são pensadas numa lógica nossa: ou pelo PIB (Produto Interno Bruto) ou pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). "O IDH mede o lado vazio do copo, as carências. As políticas feitas a partir dele são compensatórias, não são transformadoras. Quero implantar o IPDH -Índice de Potencial de Desenvolvimento Humano, que pode ser o fundinho do copo, mas é uma transformação de dentro pra fora."

Educador popular e folclorista, Tião defende que é possível fazer educação sem escola, debaixo de um pé de manga, como o faz há mais de 25 anos no vale do Jequitinhonha (MG). Mas é impossível educar sem bons educadores, completa. "Educação só existe no plural. Só existe quando há o eu e o outro, em que um se completa ao outro. A gente troca o que tem pelo que não tem."

Para o antropólogo mineiro, a escola está isolada, num discurso da idade média, ao passo que deveria ter compromissos. "Primeiro, não poderia perder nenhum aluno, que tem de aprender custe o que custar. E não é custo, é investimento. Depois, tem de se perguntar qual é a melhor pedagogia. A que leva todos a aprenderem. Outra questão é trabalhar com referenciais, se ouvir e ouvir o entorno. É preciso ter um indicador. O objetivo é fazer com que alunos e professores protestem para que tenham aulas nos fins de semana e nos feriados", expõe.

Como linha geral de seu trabalho, Tião reforça a importância da criação do setor zero: degradação ambiental zero, fome zero, violência zero, analfabetismo zero, corrupção zero. "É uma questão ética, não econômica", conclui, sob aplausos consistentes da plateia.

Na avaliação do psicólogo José Ernesto Bologna, fundador e atual presidente da Ethos/SHN, a educação não tem se preocupado com o problema da sustentabilidade.

"Nós ainda não conseguimos convencer que a universidade e a escola que a sustentabilidade é a utopia já instalada para o século 21."

Para Bologna, é preciso seguir dois caminhos: o primeiro é trabalhar o conceito de sustentabilidade na educação de maneira transdisciplinar. "As escolas continuam segmentando conhecimento, tomado como objeto, não construído na interação e com crítica. É fundamental valorizar o conceito e colocá-lo de forma transdisciplinar dentro dos currículos, convencendo os jovens que há uma utopia: a da sustentabilidade, da carta da Terra." O segundo, completa, é que esse conhecimento precisa ser trabalhado de forma multimídia, não basta ser transdisciplinar. "É preciso acontecer de muitas formas de expressão. O desafio é que, para construir o mundo que temos que construir, temos de desconstruir o mundo que está aí."

Lia Diskin, cofundadora da Associação Palas Athena, reitera a necessidade de despertar a vocação pelo aprender. "Nossas escolas não estão oferecendo isso. Será essencial muito esforço para ressuscitar os conteúdos escolares. E nisso estamos todos: pais já formados, a própria família, as crianças."

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