Folha Online Ilustrada Mostra BR de cinema
Mostra BR de Cinema

Retrospectiva Aleksandr Sokúrov

A Pedra (Kamen)

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Produção: Rússia, 1992
Duração: 88 min

A narrativa está centrada no encontro de um jovem guarda do Museu Tchecov com o próprio Tchecov, que acaba de regressar ao mundo dos vivos após uma longa ausência _ só que ele encarna a um só tempo diversos papéis, surgindo às vezes como um doutor, padrasto do rapaz ou amante. É também um embate que coloca de um lado um homem que deixou um poderoso legado intelectual artístico e, de outro, seu herdeiro contemporâneo. Evocando os estados oníricos típicos de Sokúrov, o filme é de um preto-e-branco evanescente, acompanhado por uma trilha sonora repleta de silêncios, respirações, sons naturais e fragmentos de música clássica. "Esta é uma obra profundamente lírica, por conta de sua ‘atmosfera de câmara’ e sua modéstia na figuração das emoções", afirma Sokúrov. "A Pedra nunca irá procurar por seu público: seu grito é muito fraco. O filme vai encontrar seus espectadores apenas se eles saírem em busca dele.

A Voz Solitária Do Homem

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Produção: "Odinóki Golos Tcheloveka" - Rússia, 87min, 1978
Idioma: russo (legendas em português)

Filmado em 1978, mas banido até 1987, o primeiro longa-metragem de Sokúrov foi baseado na obra do escritor soviético Andrej Platonov, ele também um artista censurado em seu país. A narrativa, que se passa na década de 20, durante os anos pós-revolução, está centrada em Mikita, um homem solitário que foi profundamente traumatizado pela guerra civil. O filme acompanha os tortuosos caminhos de sua relação com a esposa, uma mulher de classe média, e as dificuldades que eles enfrentam para se adaptar à nova sociedade que se instaura na Rússia. A Voz Solitária do Homem já traz todas as marcas da poética de Sokúrov, como o uso não-realista da cor, as variações na velocidade de projeção e a trilha sonora expressionista.

Arca Russa (Rússki Kovtcheg)

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Produção: Rússia, 2002
Duração: 97 min
Idioma: russo (legendas em português)

Um museu como um ser vivo, uma entidade que respira e tem personalidade própria. Sokúrov empresta alma ao colossal palacete do Hermitage, em São Petersburgo, um dos maiores museus do mundo, testemunho da saga russa ao longo dos séculos. Arca Russa foi filmado em um plano-sequência único, sem cortes, que dura 97 minutos e atravessa 35 salas do museu, transformando a tela de cinema em um quadro vivo por onde desfilam três séculos de história: Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Catarina 2º; Nicolau e Alexandra; a última ceia dos Romanov que é contraposta à Santa Ceia; o baile que encerra o filme e funciona como metáfora para os últimos brilhos do império russo. Foram utilizados cerca de três mil figurantes na filmagem, que aconteceu em 23 de dezembro de 2001. Contudo, lembra Sokúrov, é um erro dizer que o filme foi feito em um único dia: a idéia surgiu há 15 anos e só a preparação levou sete meses. O filme ganhou o prêmio IFC Visions no Festival de Cinema de Toronto 2002 como melhor filme.

Dolce... (Niézhno...)

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Produção: Rússia, 1999
Duração: 60 min
Idioma: russo (legendas eletrônicas em português)

A vida, o trabalho e a dramática existência do célebre escritor japonês Toshio Shimao, morto em 1986, são relatados por sua viúva, Miho Shimao. Em dolce..., o diretor consegue utilizar os recursos do vídeo em prol de sua poética, dando origem a um retrato íntimo que descortina aos poucos o mundo interior da personagem. Mais uma vez em uma obra de Sokúrov, o "approach" documental funciona como uma moldura para um profundo e sensível registro biográfico. Miho Shimao vai tomando conhecimento de si mesma por meio de um lento processo de auto-análise, uma forma de catarse que vem à tona pelo desnudamento espiritual de sua existência. À sua maneira impressionista, o cineasta desenha os contornos da memória da mulher, os contrastes em seus sentimentos e nuances de sua psique. O filme foi exibido na 24a Mostra.

Dolorosa Indiferença (Skórbnoie Bestchúvstvie)

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Produção: Rússia, 1983
Duração: 110 min
Idioma: russo (legendas em alemão e legendas eletrônicas em português)

Um homem decide permanecer em um esconderijo enquanto espera que os problemas de sua existência sejam resolvidos, que a história dê um basta nas tragédias e que a sociedade não produza novos horrores. Neste começo do século 21, o tema da natureza indefesa e frágil do ser humano -um dos mais caros ao cineasta- parece mais atual do que nunca. À sua maneira, Sokúrov parece nos dizer que a civilização, sua ciência, técnica e cultura, pode ruir a qualquer momento, levando consigo todo o orgulho narcisista do homem. O filme é uma antologia dos mais importantes recursos que posteriormente seriam desenvolvidos pelo cineasta, como cenas documentais justapostas a imagens distorcidas, dissonâncias na montagem e escolha de atores amadores para contracenar com profissionais. Dolorosa Indiferença escandalizou o governo russo e teve suas filmagens interrompidas em diversos momentos entre 1983 e 1987.

E Nada Mais (I Nitchego Bolche)

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Produção: Rússia, 1982
Duração: 70 min
Idioma: russo (legendas em português)

A partir de uma instigante colagem de imagens e sons, Sokúrov promove uma meditação visual sobre histórica coalizão entre Rússia, Reino Unido e Estados Unidos durante a Segunda Guerra. Baseado em material de arquivo, como fotos, documentos e antigos filmes, o diretor compõe um mosaico subjetivo, contrapondo imagens dos líderes aliados às de pessoas comuns. Desta maneira, questiona o papel do cidadão anônimo durante este período de exceção e tragédia na história mundial. Da edição de sons e imagens surgem momentos inesperados, fazendo com que o espectador contemporâneo volte a se perguntar sobre o sentido de cenas que, de tanto reiteradas ao longo de décadas, ficaram esvaziadas ou transformadas em um clichê de leitura unilateral e monolítica.

Elegia (Eléguia)

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Produção: Rússia, 1986
Duração: 30 min
Idioma: russo (legendas em português)

Segunda Elegia da série de ensaios poéticos e visuais com duração entre 20 e 90 minutos a que Sokúrov deu início em 1978. Tributo ao legendário cantor erudito russo Fiodor Shaliapin (1873-1938), centrado na remoção de seu corpo do cemitério Batignolles, em Paris, para Novo-Devitchye, em Moscou, no ano de 1986 -um evento de proporções diplomáticas, "beau geste" que visava comemorar o jubileu das relações entre a Rússia e a França. Quando vivo, Shaliapin foi censurado publicamente por imigrar da Rússia para o ocidente. Em uma operação tipicamente sokuroviana, a reprodução do arquivo de imagens pessoais do protagonista escapa completamente à ordem cronológica, sendo submetido à lógica de sua experiência individual, subjetiva. O conturbado contexto histórico do começo dos anos 20 não é apresentado de maneira objetiva, mas em consonância com o pequeno caos que rege as memórias do cantor. Sokúrov trabalhou sem algum financiamento estatal ou privado e, quando a Leningrad Documentary Films tentou legalizar o filme, o departamento estatal de cinema russo respondeu: "Shaliapin não foi perdoado".

Elegia da Rússia (Eléguia Iz Rossii)

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Produção: Rússia, 1992
Duração: 68 min
Idioma: russo (legendas em português)

Sétima elegia, desenhada por Sokúrov como uma linha única, de fluxo contínuo, cujo desenvolvimento revela uma nova e original maneira de olhar para o mundo. Inexistem costuras ou emendas e aqui, mais uma vez, o tempo não tem começo ou fim. As imagens se sucedem: às portas da morte, os espasmos finais de um corpo _ que não surge como um corpo humano, mas como um par de mãos e uma voz à míngua, vendo sua força se esvair. Enquanto uma mulher acorda em sua cadeira de rodas, preocupada com a perspectiva de perder a casa onde mora, um velho senhor remói sua solidão em um chalé perdido no campo, como se tivesse acabado de sair de um romance de Gorky. Apesar dos vários personagens surgirem em lugares diferentes, suas existências são igualmente trágicas.

Elegia de São Petersburgo (Peterbúrgskaia Eléguia)

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Produção: Rússia, 1990
Duração: 38 min
Idioma: russo (legendas em português)

Quarto filme da seqüência das Elegias. Concebido, segundo Sokúrov, "como uma análise do passado e da moderna Rússia, sua cultura e história", este Elegia de São Petersburgo consiste de duas partes, conectadas entre si: a trajetória errante da família Shaliapin e a vida dos habitantes da São Petersburgo contemporânea. O objeto do filme é o ex-ator hollywoodiano Fiodor Shaliapin, que volta para visitar sua cidade natal 60 anos depois de deixar o país, ainda criança, com a família. Shaliapin é filho do legendário cantor erudito russo Fiodor Shaliapin (1873-1938), que imigrou com a família para o ocidente na década de 20. O pai é o protagonista de Elegia (1986). De acordo com a crítica de cinema russa Alexandra Tuchinskaya, Sokúrov enxerga a vida privada e os problemas familiares de um artista em conexão com a sociedade de onde ele veio. "É a personalidade do artista que antecipa o futuro de seu povo, que determina seu ‘código genético’. O cuidado com a natureza humana da família, da nação e de um homem como Shaliapin deve ser o objetivo essencial da civilização."

Elegia de uma Viagem (Eléguia Dorógui)

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Produção: Rússia/Holanda/França, 2001
Duração: 47 min
Idioma: russo (legendas em português)

Inspirado por uma força maior que sua própria vontade, um homem embarca sozinho numa viagem. Cruza vastas planícies nevadas, fronteiras e mares para finalmente chegar a um país estrangeiro. Ele relata para o espectador tudo o que vê e aqueles que encontra. O mundo real ilumina seus desconhecidos caminhos. Em regiões industrializadas, como Alemanha e Holanda, o homem é carregado pela maré do tráfico nas ruas e avenidas. Inesperadamente, chega às portas de um palácio que parece abandonado. Ele entra: é o famoso museu Boijmans, em Roterdã. À luz da noite, ele descobre que o objetivo de sua misteriosa jornada é um quadro do mestre Peter Saenredam, "St. Mary’s Square". Para sua surpresa, tem a revelação de que ele próprio estava presente quando o retrato foi pintado, no século 17. Elegia de uma Viagem, seleção da 25a Mostra, é o nono filme da célebre série das Elegias, ensaios poéticos e visuais com duração entre 20 e 90 minutos a que Sokúrov deu início em 1978.

Elegia Moscovita (Moskóvskaia Eléguia)

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Produção: Rússia, 1986
Duração: 88 min
Idioma: russo (legendas em português)

Terceiro documentário da série Elegias, centrado na figura de Andrei Tarkovski (1932-1986), um dos mais importantes criadores da história do cinema, diretor de clássicos como Solaris (1972), O Espelho (1974), Stalker (1979) e O Sacrifício (1986). Tarkovski, impressionado com o longa de estréia de Sokúrov, A Voz Solitária do Homem (1978), enviou uma carta de recomendação ao estúdio Lenfilm, onde Sokúrov seria finalmente empregado, no ano de 1980. Tarkovski, por sua vez, se exilou em Florença, na Itália. "Minha tarefa neste filme foi criar uma aproximação humana em relação à memória e à personalidade deste grande cineasta. Não tive a pretensão de abarcar todos os aspectos de sua vida, mas de falar apenas sobre qual foi seu legado para a Rússia e o que aconteceu com ele no ocidente, onde se viu obrigado a trabalhar", conta Sokúrov. O lançamento de Elegia de Moscou havia sido planejado para coincidir com o aniversário de 50 anos de Tarkovski, em 1982, mas a produção foi por longo tempo interrompida devido à censura.

Elegia Oriental (Vostótchnaia Eléguia)

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Produção: Rússia, 1996
Duração: 45 min
Idioma: russo (legendas em português)

Oitava Elegia, viagem meditativa em direção a um insólito vilarejo japonês, onde paisagem, casas, objetos e pessoas surgem turvos, quase imateriais, deixando-se levar pela névoa. Mais uma vez, Sokúrov volta sua câmera para pessoas simples _ as quais não podemos chamar nem comuns nem representativas do Japão moderno. A marginalidade destas almas reside em uma certa aderência aos modelos do passado, ao cotidiano e às cores locais. Contudo, seus espíritos vibram em uma freqüência muito própria, em que poesia e mitologia significam muito mais que esmolas da realidade contemporânea. Na tela, ocidente e oriente são apenas facetas diferentes de um todo indivisível. Nas anotações pessoais que precedem cada roteiro, o cineasta escreveu: "Que sonho mais estranhoà Os contornos das casas escoam lentamente através das sombras brancas. Depois novamente se aconchegam, dançando com a neblina... Parece então que toda a cidade é uma pequena ilha, flutuando no espaço de um gigantesco oceano".

Elegia Soviética (Soviétskaia Elégua)

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Produção: Rússia, 1990
Duração: 37 min
Idioma: russo (legendas em português)

Esta quinta Elegia é um retrato devastador, à beira da crueldade, de Boris Ieltsin, em que o líder russo é removido da arena pública dos discursos e da propaganda oficial para ser colocado no espaço sokuroviano por excelência: um lugar de silêncio, tempo contínuo e inação. O espectador, por sua vez, terá diante de si mais um espetáculo de ambigüidade visual, contraditório palco da imobilidade, à beira da paralisia e da morte. "Apesar de Ieltsin ter chegado ao poder pelos meios convencionais, sua personalidade é extraordinária e carrega altas doses de imprevisibilidade, o que eu atribuo a uma natureza humana incomum", afirma Sokúrov. "Nosso herói faz parte do amálgama trágico da civilização socialista soviética. Ele é um personagem do drama, do qual ele também é um dos autores."

Filme de Uma Sequência Só, de Michal Bukojemski (Rober. Stchastlívaia Zhizn)

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Produção: Polônia/Rússia, 2002
Duração: 28 min
Idioma: russo (legendas eletrônicas em português)

Este documentário mostra a preparação do filme A Arca Russa, de Aleksandr Sokúrov. O jornalista, roteirista, diretor e câmera Michal Bukojemski registrou em vídeo os momentos mais importantes e eloqüentes do filme, um prodígio técnico realizado em só take de 97 minutos. Maquiadores, contra-regras, decoradores e atores dão seu testemunho, bem como o diretor do Museu Hermitage, local que serviu de locação. Por fim, o cineasta explica como nasceu a idéia de unir as culturas da Rússia e da Europa Ocidental e das dificuldades enfrentadas.

Hubert Robert: Uma Vida Afortunada (Rober. Stchastlívaia Zhizn)

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Produção: Rússia, 1996
Duração: 26 min
Idioma: russo (legendas em português)

Convidado a realizar um documentário sobre os grandes mestres europeus presentes nas paredes do Hermitage, o mais importante museu russo, Sokúrov surpreendeu ao escolher um dos nomes menos célebres do valioso acervo: Hubert Robert, pintor francês que atuou na passagem para o século 19. A felicidade do artista, como a época em que vivia, chegou ao fim com o colapso do império napoleônico. A vida de Robert terminou em desastre e tragédia. Contudo, seu legado permaneceu nas nostálgicas paisagens e magníficas ruínas que pintou, temas especialmente populares na Rússia do século 19. Este é um filme sobre as telas de Hubert Robert, mas também e sobretudo sobre a fé de um artista obcecado pela idéia de harmonia estética. "Como em um sonho, eu entro no Hermitage e nada me impede de me aproximar de qualquer pintura. Os fantasmas vivos deste gigantesco palácio me ajudam a enxergar melhor as telas."

Mãe e Filho (Mat I Syn)

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Produção: Rússia/Alemanha, 1997
Duração: 70 min
Idioma: russo (legendas em português)

História de amor sobre os profundos sentimentos existentes na relação entre uma mãe, em seu último dia de vida, e seu filho. Quando ela adoece, ele se encarrega de tudo: a alimenta, a leva para tomar sol na frente da casa e lê cartões-postais em voz alta. Juntos, vivenciam momentos tocantes e sensíveis, recordando o tempo em que ele era um garoto. Sempre preocupada em protegê-lo, ela tenta esconder dele a iminência da morte. Pede que a leve para passear, mesmo sem poder andar. Ele a carrega pelo vilarejo vazio, um lugar deserto onde são os últimos habitantes. Assim, os dois se mantêm longe de qualquer sinal do mundo exterior, a não ser pela fumaça de uma locomotiva distante. Quando a mãe morre, o filho fica sozinho, num mundo que não lhe oferece nenhum conforto. Para acentuar os fortes laços entre eles e seu isolamento, o diretor criou o cenário inspirado nos quadros do pintor romântico alemão Caspar David Friedrich (1774-1840). O cantor Nick Cave, em sua crítica sobre Mãe e Filho publicada pelo jornal inglês "Independent", escreveu: "Após dez minutos de projeção, eu comecei a chorar e assim continuei até o final. Eu me lembro de já ter chorado em filmes antes, mas nunca de maneira tão forte, do começo ao fim, sem pausa".

Maria (Elegia Camponesa) (Maria (Krestiánskaia Eléguia))

Produção: Krestiánskaia Eléguia)", Rússia, 1978
Duração: 41 min
Idioma: russo (legendas em português)

O primeiro documentário realizado por Sokúrov marca também a inauguração da célebre série das "Elegias", ensaios poéticos e visuais com duração entre 20 e 90 minutos _ o mais recente deles, nono filme da série, é Elegia de uma Viagem (2001), exibido na 25a Mostra. Este Maria (Elegia Camponesa) é um réquiem em memória de uma camponesa russa que cresceu e seguiu as tradições durante toda sua vida, da maneira mais convencional possível. A história de Maria é contada em duas partes. A primeira, colorida, cria uma atmosfera pastoral em torno da existência de Maria e mostra imagens dela trabalhando no campo , banhando-se em um rio, tirando férias na Criméia... A segunda, em preto-e-branco, se passa nove anos depois: Maria morreu e com ela as tradições e costumes de toda uma época.

Moloch (Mólokh)

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Produção: Rússia/Alemanha/França, 1999
Duração: 102 min
Idioma: russo (legendas em português)

Moloch é o nome dado a uma divindade maligna adorada por diversas culturas antigas _ gregos, cartagineses e judeus idólatras. Este ídolo pagão, no entanto, sempre foi associado a sacrifícios humanos, sendo conhecido também como "Príncipe do Vale das Lágrimas" e "Semeador de Pragas". Moloch foi o título escolhido por Sokúrov para fazer um estudo da vida cotidiana de Adolph Hitler e sua amante Eva Braun. O polêmico filme venceu o Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 99 e foi exibido pela 23a Mostra. Nos Alpes da Bavária, a solitária Eva Braun recebe a visita do temido Führer. Ele não está sozinho: Joseph Goebbels, ministro da Propaganda, e Martin Bormann, seu principal assessor, estão com ele. A ordem é não falar em guerra, apesar de se estar na primavera de 1942. Contudo, a tensão é evidenciada pela impaciência e inconformismo de Eva. Ela sabe que não pode competir com a dedicação de seu amante ao Reich e já não suporta seus discursos absurdos e sua hipocondria. Mesmo assim, somente ela é capaz de compreendê-lo e ser a única voz que ousa contradizê-lo.

O Segundo Círculo (Krug Vtorói)

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Produção: Rússia, 1990
Duração: 92 min
Idioma: russo (legendas em alemão e legendas eletrônicas em português)

"Um dia, todo filho tem de enfrentar uma triste tarefa: enterrar o pai. Este é o principal e único acontecimento deste filme, mas que é relatado em cada detalhe, com simplicidade épica." Desta maneira o cineasta russo define O Segundo Círculo, obra que traz à tona muitas das conexões perdidas em nossa vida, o esvaziamento que atingiu os antigos rituais que em um passado recente ainda guardavam seus conteúdos e significados. "Pais mortos, cidades mortas, tempos mortos... e eis que quase não distinguimos entre o dia e a noite, entre a vida e a não-existência." A herança que o filho vai receber do pai é da mesma ordem da que nos foi imposta por nossos antepassados: um punhado de falsas relíquias que desesperadamente tentamos usar para resumir toda uma existência, trágicas conseqüências das desilusões históricas em nossa civilização.

O Sonho do Soldado (Soldátski Son)

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Produção: Rússia, 1995
Duração: 12 min
Idioma: russo (legendas em português)

Um soldado no limite entre a paz e a guerra é um tema trágico e tipicamente russo. Este curta-metragem é uma espécie de esboço, de estudo lírico para o documentário Vozes Espirituais, sobre o militarismo e a onipresente ameaça de conflito que paira sobre a alma russa. O Sonho do Soldado foi filmado na fronteira do Tadjiquistão com o Afeganistão e mostra jovens combatentes em suas tarefas cotidianas de patrulhamento, carregando consigo o paradoxo de estar ali para garantir a tranqüilidade e a segurança. Sokúrov lembra que este filme foi criado como uma homenagem ao crítico de cinema e historiador Dr. Hans Schlegel. "Ele foi de extrema importância para minha formação e a de muitos outros cineastas da Europa Oriental."

Obediência Parte 1 (Povínnost)

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Produção: Rússia, 1998
Duração: 104 min
Idioma: russo (legendas em português)

Diário espiritual de um capitão, apresentado como uma sublime confissão. Esta é uma das mais ousadas e perturbadoras criações de Sokúrov. Estruturado em cinco episódios de mesma duração, o filme traça paralelos entre a travessia de um navio, os incertos destinos da Rússia e a viagem pessoal do capitão rumo à fronteira de seus mais profundos medos. Os dois primeiros episódios descrevem meticulosamente as tarefas cotidianas e a rotina a bordo da embarcação, ancorada em Murmansk para patrulhar o Ártico. As três partes finais caminham progressivamente para uma radical abstração, subjetiva e com fortes alusões políticas. Obrigação de um formalismo rigoroso, transformando dados documentais em puro lirismo, à maneira de Sokúrov. Como em Mãe e Filho, Moloch, Taurus e outras obras já clássicas do diretor, este filme também pode ser visto como uma análise profunda dos efeitos do isolamento sobre a alma humana.

Obediência Parte 2 (Povínnost)

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Produção: Rússia, 1998
Duração: 156 min
Idioma: russo (legendas em português)

Diário espiritual de um capitão, apresentado como uma sublime confissão. Esta é uma das mais ousadas e perturbadoras criações de Sokúrov. Estruturado em cinco episódios de mesma duração, o filme traça paralelos entre a travessia de um navio, os incertos destinos da Rússia e a viagem pessoal do capitão rumo à fronteira de seus mais profundos medos. Os dois primeiros episódios descrevem meticulosamente as tarefas cotidianas e a rotina a bordo da embarcação, ancorada em Murmansk para patrulhar o Ártico. As três partes finais caminham progressivamente para uma radical abstração, subjetiva e com fortes alusões políticas. Obrigação de um formalismo rigoroso, transformando dados documentais em puro lirismo, à maneira de Sokúrov. Como em Mãe e Filho, Moloch, Taurus e outras obras já clássicas do diretor, este filme também pode ser visto como uma análise profunda dos efeitos do isolamento sobre a alma humana.

Os Dias do Eclipse (Dni Zatménia)

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Produção: Rússia, 137 min,1988
Idioma: russo (legendas em alemão e legendas eletrônicas em português)

Um jovem doutor empreende uma viagem de trabalho a uma insólita e despovoada cidade da Ásia Central. Forças misteriosas interferem em suas pesquisas: um calor infernal, pessoas bizarras, previsões assustadoras, uma conversa com um amigo morto, intervenções de alienígenas. O filme é estruturado com base em contradições: a trilha sonora que não se ajusta às imagens (como na associação de uma mulher muçulmana rezando a uma música de desenho animado), cores e texturas que mudam drasticamente e de maneira aleatória. Em mais uma narrativa poética de Sokúrov, o tempo é suspenso e distorcido, desintegrando as relações entre os planos cinematográficos, entre o protagonista e o cenário do filme, entre o homem contemporâneo e o mundo.

Páginas Ocultas (Tíkhie Stranítsy)

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Produção: Rússia, 1993
Duração: 77 min
Idioma: russo (legendas em inglês e legendas eletrônicas em português)

Neste filme, Sokúrov flutua através das páginas de um dos maiores clássicos da literatura russa e mundial: "Crime e Castigo", de Dostoiévsky, valendo-se de suas questões ideológicas e ambientação histórica, mas por outro lado subvertendo totalmente o enredo, suprimindo os acontecimentos e os célebres personagens do romance original. As características históricas de um modo de vida _ sejam elas representadas pelo ambiente ou pelo figurino _ são exibidas às vezes de maneira concreta, em outras apenas sugerida. Páginas Ocultas é um "esboço psicológico" da cidade, transmutado em uma grotesca metáfora que revela a essência trágica das metrópoles _ além de remeter à sombria realidade do tempo presente.

Sacrifício Vespertino (Zhertva Vetchérniaia)

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Produção: Rússia, 1984
Duração: 20 min
Idioma: russo (legendas em português)

Retrato das comemorações de 1o de Maio em São Petersburgo (antiga Leningrado), este documentário exibe uma procissão de manifestantes exaustos, protagonistas patéticos de uma celebração sem motivos. Sokúrov estabelece assim um instigante diálogo com o modelo de representar as massas instaurado por Eisenstein, em que a parte funciona como metáfora do todo, o indivíduo toma o lugar do anônimo, símbolos se revelam nos detalhes da multidão. Aqui, todos estes postulados são revistos por meio de uma lente contemporânea: não há mais líderes e os movimentos sociais perderam seu sentido e estão à deriva.

Salvai e Protegei (Spassi I Sokhrani)

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Produção: Rússia, 1989
Duração: 167 min
Idioma: russo (legendas em alemão e legendas eletrônicas em português)

Sokúrov encontrou um argumento existencial na novela "Madame Bovary", de Flaubert, e fez dele a linha narrativa deste longa-metragem. Aqui, Emma Bovary fala em francês com todos seus amantes russos, tornando-se uma mulher totalmente estranha ao meio em que vive. O cineasta russo cria metáforas absolutamente cinematográficas e trágicas, neste caso adotando como palavra-chave "dever", termo caro a ele, e que assume em sua obra os mais diversos significados. Nos filmes de Sokúrov, todos os personagens têm um dever ao qual devem responder durante a vida. Sobre a pobre Emma sokuroviana pesa um dever erótico que fará dela uma espécie de demônio perdido e solitário. "Salvai e Protegei é um drama filosófico em que o sofrimento amoroso é visto como uma manifestação da natureza catastrófica da existência humana. O homem é apenas um ser cego, vagando por aí do nascimento à morte", diz Sokúrov.

Sonata para Hitler (Sonata Dliá Guítlera)

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Produção: Rússia, 1979
Duração: 11 min
Idioma: russo (falado em russo, com legendas em português)

Provocativo desde o título, este filme foi realizado em 1979, mas permaneceu banido por dez anos. Sonata para Hitler é baseado em uma montagem lírica com imagens de arquivo sobre o fim da guerra entre Alemanha e Rússia: generais nazistas e suas vítimas, paisagens devastadas, cenários de horror generalizado, a vitória soviética conquistada a um preço altíssimo. Na tela, surgem as datas de falecimento de Hitler e Stalin, forjando analogias entre os ditadores, dois homens responsáveis pela destruição em larga escala de corpos e almas da nação russa.

Sonata Para Viola (Dmítri Chostakovitch)

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Produção: Rússia, 1981
Duração: 80 min
Idioma: russo (legendas em português)

Iniciada pelo diretor Semen Aranovich, esta cinebiografia de Shostakovich ganhou a marca indelével de Aleksandr Sokúrov depois que ele foi convidado para fazer parte do projeto, editando material de arquivo para o filme. O resultado desta colaboração é uma meditação musical sobre o silêncio artístico, emoldurada por um amplo contexto histórico, mostrando como o célebre compositor foi obrigado a lidar com a repressão do regime de Stalin. Na montagem, Sokúrov incluiu imagens reais do cerco a Leningrado (hoje São Petersburgo), de paradas militares e de Shostakovich em meio a seus familiares. Este documentário, para além de uma reflexão profunda sobre a trágica existência do grande compositor, estabelece sutis conexões com os nebulosos destinos da Rússia. O filme foi banido imediatamente, em 1981, até ser finalmente liberado cinco anos depois, com o início da perestroika.

Taurus (Tieliéts)

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Produção: Rússia, 2001
Duração: 94 min
Idioma: russo (legendas em português)

Segundo filme da tetralogia que se detém sobre as personalidades mais poderosas do século 20 (o primeiro foi Moloch, sobre o romance de Hitler e Eva Braun), Taurus está centrado nos derradeiros momentos de Lênin, seu isolamento, suas questões existenciais e sua perplexidade diante do fim. O líder russo que mudou o curso da história e abalou o mundo aguarda a morte em uma casa cedida pelo Estado, solitário, vigiado, rodeado de pessoas estranhas, tralhas domésticas e desordem, um lugar que mais parece um museu. Seu corpo está impotente, sua consciência aos poucos vai se apagando, mas sua sede de luta e poder não o abandona. A seu lado, apenas sua mulher. Ao longe, ouvem-se os passos de seu sucessor, que aguarda sua morte. "A tragédia que posteriormente tomaria conta da Rússia e os acontecimentos que levaram a esta situação-limite não estão entre as preocupações deste filme", avisa o diretor. "Em primeiro plano está o autor, compositor e regente desta catástrofe, em um dos mais dramáticos momentos de sua vida."

Um Exemplo de Entonação (Primer Intonátsii)

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Produção: Rússia, 1991
Duração: 48 min
Idioma: russo (legendas eletrônicas em português)

Este é o segundo documentário centrado na figura de Boris Ieltsin (o primeiro foi Elegia Soviética, de 1990). Sokúrov conduz uma conversa entre o então presidente russo e membros de sua família, operação que acaba por revelar as inseguranças do grande estadista, suas vulnerabilidades e angústias, trazendo à tona seu lado humano. "Esta obra não deve ser vista como um exemplo de edificação para os espectadores ou meus colegas diretores. Não tenho a pretensão de ensiná-los a olhar, falar, pensar ou de que maneira devam mostrar algo. No título, por ‘um exemplo’ eu entendo uma experiência, uma tentativa, no sentido de correr riscos", afirma Sokúrov. "Não escondo minha simpatia pelo protagonista. Agora, se você distinguir um homem por trás do presidente da Rússia, isto já será suficiente para mim."

Uma Simples Elegia (Prostáia Eléguia)

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Produção: Rússia, 1990
Duração: 20 min
Idioma: russo (legendas em português)

Sexta parte do grupo das Elegias, este documentário consiste de cinco longos planos-sequências, que têm o poder de construir um retrato da Lituânia durante o período do bloqueio econômico imposto pela Rússia. Filmado nas ruas de Vilna e nos salões do parlamento, o pesado silêncio que domina Uma Simples Elegia só é quebrado pelos assombrosos acordes emitidos pelo piano do presidente Vitautas Landsbergis, trancado em seu gabinete, imerso em meditação profunda, tocando os "Noturnos" de Ciurlionis, famoso compositor russo. Lá fora, ecoam os gritos da multidão, tratada como o segundo personagem do filme, que Sokúrov faz contracenar com a figura do presidente. "Landsbergis recebeu uma educação clássica e se tornou um homem erudito, historiador da cultura e da música. Talvez toda nação devesse ter à frente um estadista com estas características", afirma Sokúrov.

Uma Vida Humilde (Smirênnaia Zhizn)

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Produção: Rússia, 1997
Duração: 75 min
Idioma: russo (legendas em português)

Uma contemplativa reportagem sobre uma antiga e solitária casa perdida nas longínquas montanhas do vilarejo de Aska, no Japão. Centrado na figura de uma velha senhora que vive sozinha, o diretor cria poéticas imagens a partir dos pequenos detalhes e da refinada simplicidade da vida japonesa. A mulher passa os dias ocupada por pequenas tarefas, silenciosamente costurando quimonos, cozinhando e comendo, mantendo o fogo aceso, penteando o cabelo. Como uma oração final, ela declama um singelo haicai sobre solidão e perda. Enquanto se ouvem músicas do folclore japonês e melodias de Tchaikovsky, Sokúrov afetuosamente reflete sobre a milenar cultura do Japão e seus próprios sentimentos nostálgicos em relação à sua Rússia natal.

Vozes Espirituais Parte 1

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Produção: "Dukhóvnyie Golossá", 1995
Duração: 158 min
Idioma: russo (legendas em português)

Verdadeiro tour-de-force empreendido por Sokúrov e sua equipe, este documentário foi filmado nas áridas fronteiras do Tadjisquistão com o Afeganistão, dura cinco horas e meia e está dividido em cinco partes. "Trabalhamos em lugares onde a guerra e seus exercícios são parte da rotina. Alguns dias passávamos em tensa espera pelo conflito; nos outros, em meio às batalhas de fato. Só existia uma certeza: sempre haveriam vítimas, parentes ou amigos. Sempre a mesma angústia e sensação de abandono", relata o diretor. "As pessoas aqui na Rússia são criadas para estarem sempre prontas a lutar. Nossos ídolos nacionais não são homens que, trabalhando em paz, criaram algo de genial ou inusitado para a humanidade. São todos heróis de guerra." Sokúrov considera este filme um "diário de guerra" em que os jovens combatentes são descritos, mas que também serve para trazer à tona os sentimentos íntimos de seu autor.

Vozes Espirituais Parte 2

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Produção: "Dukhóvnyie Golossá", 1995
Duração: 185 min
Idioma: russo (legendas em português)

Verdadeiro tour-de-force empreendido por Sokúrov e sua equipe, este documentário foi filmado nas áridas fronteiras do Tadjisquistão com o Afeganistão, dura cinco horas e meia e está dividido em cinco partes. "Trabalhamos em lugares onde a guerra e seus exercícios são parte da rotina. Alguns dias passávamos em tensa espera pelo conflito; nos outros, em meio às batalhas de fato. Só existia uma certeza: sempre haveriam vítimas, parentes ou amigos. Sempre a mesma angústia e sensação de abandono", relata o diretor. "As pessoas aqui na Rússia são criadas para estarem sempre prontas a lutar. Nossos ídolos nacionais não são homens que, trabalhando em paz, criaram algo de genial ou inusitado para a humanidade. São todos heróis de guerra." Sokúrov considera este filme um "diário de guerra" em que os jovens combatentes são descritos, mas que também serve para trazer à tona os sentimentos íntimos de seu autor.

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