Folha de S.Paulo Moda
* número 17 * ano 4 * sexta-feira, 7 de abril de 2006
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moda / internacional

A imagem em xeque



Definir a imagem da mulher no início do século 21 é o grande desafio dos estilistas. Não é tarefa fácil. As mulheres, hoje, já não cabem em arquétipos simples. Por isso mesmo, a temporada de outono-inverno 2006 revelou um incessante questionamento dos clichês que cercam a feminilidade, como o conformismo, a passividade sexual e o glamour nostálgico.

Na busca de um novo contorno do feminino, os estilistas exploraram o guarda-roupa dos homens, vasculharam os símbolos guerreiros, pesquisaram iconografias religiosas, desafiaram os volumes-padrões do corpo e até mesmo se aventuraram em simbologias selvagens, como se a mulher devesse despertar um feroz animal interior.

Uma coisa é certa: os principais designers buscaram uma imagem forte e impositiva da mulher. Alguns pararam a meio caminho, paralisados pela provocação ou pela expectativa. Outros chegaram bem perto de criar uma feminilidade contemporânea.

O americano Marc Jacobs, que fez dois dos principais desfiles da estação (para sua própria grife e para a Louis Vuitton), recorreu ao estilo grunge para definir a sua jovem inconformista. As duas surpreendentes coleções, trabalhadas em múltiplas sobreposições de peças e arranjos inesperados de tecidos e volumes, inspiram uma mulher mais interessada na liberdade do que na sedução. Não apenas para Jacobs, mas também para vários outros estilistas, o rock, com suas variantes, permanece uma das referências para a construção de uma imagem libertária da mulher.

O inconformismo também foi a tônica da coleção da Prada, que, como quase sempre ocorre, impulsionou o debate "intelectual" sobre a moda. "Já fomos longe demais no nosso conformismo", disse Miuccia Prada à imprensa e às mulheres. Sua garota estudiosa, carregando livros na passarela, deverá ficar como uma das imagens marcantes do inverno _e um sinal, também, do ocaso da "mulher burguesa", expressão com a qual Miuccia caracterizou uma importante coleção da Prada no passado.

Mas foi o estilista belga Raf Simons, da grife Jil Sander, que alcançou a definição mais completa de uma nova feminilidade. Em sua coleção _feita de peças muito leves, com uma simplicidade requintada e um design esplêndido_ ele parecia ter encontrado de antemão tudo que os outros ainda estavam buscando: a combinação perfeita entre luxo e naturalidade, sobriedade e desejo, beleza e autonomia, passado e futuro.

por Alcino Leite Neto
fotos AP / AFP / EFE / Reuters

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