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Nasce uma estrela
Hermila Guedes em "O Céu de Suely"
Não é todo dia que surge uma estrela no cinema, menos ainda no cinema brasileiro. Por aqui, é na televisão que as atrizes e os atores costumam se consagrar –e só depois os cineastas vão atrás deles, a fim de parasitar um pouco a sua fama.
Ocorre que descobrir ou criar uma estrela no cinema exige uma boa dose de coragem e de auto-confiança, sem falar na sensibilidade à flor da pele, capaz de perceber a graça inédita de um rosto, o encanto de um gesto ou a força de uma presença.
Tudo isso o diretor cearense Karim Aïnouz tem de sobra. Ele estreou com um longa arriscado e bem-sucedido, "Madame Satã", reconstituição barroca da vida do famoso marginal carioca. No final do ano passado, lançou seu segundo filme, o charmoso "O Céu de Suely", melodrama sobre uma jovem que resolve deixar São Paulo e voltar para a sua terra natal, no interior do Nordeste.
"O Céu de Suely" é um filme sobre a liberdade, o movimento e a busca interminável da felicidade. Nas imagens, Karim criou um Nordeste ao mesmo tempo arcaico e supercontemporâneo, como é, aliás, o Brasil inteiro. E criou também uma estrela: Hermila Guedes.
Não foi o primeiro trabalho de Hermila no cinema –ela fez um papel coadjuvante em "Cinema, Aspirina e Urubus". Mas "O Céu de Suely" é o primeiro filme que investiu toda a sua energia na presença fulgurante desta jovem atriz de 26 anos, colocando a câmera inteiramente a seu favor.
Hermila produz um milagre de interpretação no filme, ao converter uma garota banal da vida brasileira numa personagem deliciosa e comovente, movida por uma irrefreável liberdade interior.
Com Hermila, aconteceu o inverso de muitas das atrizes brasileiras. Foi o filme que a levou para a televisão. Recém-contratada pela TV Globo, há pouco interpretou Elis Regina num programa especial.
Hermila é a estrela desta revista
Moda, fotografada por seu diretor, Karim Aïnouz, num editorial que reinventa a imagem da atriz –transformando-a numa personagem poderosa e cercada de mistérios.
Juntos, Hermila e Karim têm muito coisa para ensinar à moda: a arte de criar um trabalho autoral, feito com emoção, aberto às contradições da vida brasileira e atento à dignidade e à liberdade da mulher.
Alcino Leite Neto