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"Os desafios da criação" foi o título do debate entre os escritores Milton Hatoun, Moacyr Scliar, Antônio Torres e Bernardo Ajzenberg, na quinta-feira (04), na Bienal do Livro. O encontro, que discutiu como surge a inspiração dos escritores, fez parte da programação do Salão de Idéias, realizado no Espaço Fnac/Zip.Net (Pavilhão Azul).
Moacyr Scliar, autor do livro "A Mulher Que Escreveu a Bíblia", um dos vencedores da categoria romance do Prêmio Jabuti deste ano, diz que já acreditou na idéia de que a inspiração surge de repente.
"Mas isso, comigo, é raro. Se a idéia é boa, ela realmente persegue o escritor. Se não é boa, ela é logo esquecida." Segundo ele, outras duas condições determinam a qualidade do texto: a reação do organismo _"os pêlos ficam arrepiados, o corpo aplaude"_ e "não escrever a primeira idéia, esperar amadurecer". "O resultado final é que mostra se o texto tem validade literária, não importam os caminhos para chegar até ele", reforça.
Para Bernardo Ajzenberg, autor de "Variações Goldman" e diretor de conteúdo da Folha Online, o ato de escrever é uma espécie de segunda natureza.
"Eu mergulho numa outra realidade, que tem muito de imprecisão e tentativa." Ajzenberg diz que enfrenta, ainda, outros desafios _juntar elementos da realidade e da ficção, sem permitir que o texto ultrapasse o campo literário.
"Durante toda a minha vida eu sonhei em ser escritor", relata Antônio Torres. "Eu sempre ouço meus alunos perguntando quando a gente sente que é escritor. E eu respondo: só na hora em que a gente apertar a tecla ‘foda-se’ para todas essas dúvidas que surgem", afirma, categórico. Torres é autor do livro "Essa Terra" (100 mil cópias vendidas), publicado há quase 24 anos.
O foco narrativo, ou o ponto de vista sob o qual é narrada a história é, na opinião de Milton Hatoun, a grande dificuldade da criação. "Dele depende toda a ficção. Se o ponto de vista fracassar, toda a narrativa sofre as consequências", diz. Milton Hatoun é autor de "Relato de um Certo Oriente".
Após o debate, os autores responderam às perguntas da platéia. Questionado se deve existir um planejamento prévio da história dos romances que escreve, Ajzenberg disse que já tentou fazer isso, mas não conseguiu. "Na verdade, não me dá prazer nenhum escrever sabendo qual é o desenrolar da história. Eu quero é escrever, deixando o personagem me levar. E, para isso, às vezes, já até sei qual vai ser o fim, aonde quero chegar, mas vou construindo a história aos poucos", afirma.
Segundo Milton Hatoun, não existe, também, a obrigatoriedade de conhecer técnicas de se escrever bem um romance. "Essa obrigação teórica inexiste, muitas vezes a criatividade é intuitiva", respondeu ele a outra questão dos espectadores.
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