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Árabes viraram "turcos" no Brasil
DA REDAÇÃO
O número de muçulmanos no Brasil chega a 1,5 milhão, segundo a Federação Islâmica Brasileira. "Os muçulmanos se concentram nas cidades
que têm mesquitas e escolas islâmicas -ao menos 40. A maior
comunidade islâmica está no Paraná e no Rio Grande do Sul, mas
há grupos importantes em cidades de São Paulo, Minas Gerais e
Mato Grosso do Sul. A predominância é de sunitas, embora nos
anos 1980 tenha havido uma
grande imigração de xiitas devido
à Guerra do Líbano", diz o historiador André Castanheira Gattaz,
33, que defende uma tese de doutorado sobre emigração libanesa
para o Brasil na próxima terça, no
departamento de história da USP
(Universidade de São Paulo).
Os brasileiros aprendem a rezar
em árabe, pois as orações (cinco
por dia) devem sempre ser feitas
nessa língua. O país abriga a primeira mesquita da América Latina. Inaugurada em 1956, a Mesquita Brasil reúne em torno de
600 pessoas às sextas-feiras -dia
sagrado para o islamismo.
O brasileiro Muhammad Ragip
converteu-se ao islamismo em
1990, na Turquia. Antes, era católico. Os pais e a mulher dele também se converteram.
Sem ascendência árabe -o nome foi adotado após a conversão-, o xeque Ragip evitava falar
sobre o assunto no trabalho.
"Como existe um preconceito
muito forte contra o islã, durante
quase oito anos eu omiti. Quando
as pessoas sabem que você é muçulmano, normalmente demonstram forte reação negativa. Se perguntassem, dizia que minha religião é a submissão a Deus, que é o
significado de islã", afirma.
Segundo Ragip, "a ênfase do sufismo (denominação que segue,
marcada pela mística) é a busca
de Deus pelo caminho do amor".
"As três religiões [islamismo,
cristianismo e judaísmo" têm a
mesma origem, o mesmo fundamento, a mesma visão", afirma o
xeque Armando Hussein Saleh.
"A imigração árabe a rigor engloba outras nacionalidades, como egípcios, palestinos, sauditas,
iraquianos e outros, porém os libaneses respondem por cerca de
70% dos imigrantes árabes no
Brasil", afirma Gattaz.
"Nos primeiros 50 anos da imigração, isto é, dos anos 1880 a
1930, predominou a imigração de
libaneses cristãos. Até os anos
1920, o principal motivo que levou essas pessoas a emigrar, além
da falta de perspectivas econômicas num país pequeno e superpovoado, era a oposição ao governo
turco-otomano, que gerou um
grande movimento emigratório
de cristãos no início do século.
Muitos sírios e libaneses fugiram
para não ter de servir o Exército
turco. Como em seus papéis anotava-se a nacionalidade turca, ao
chegar ao Brasil começaram a ser
chamados de "turcos", o que para
eles era uma ofensa", diz.
"Em minha tese, revelo que a
imigração libanesa não se constituiu apenas de cristãos, como os
autores que estudaram o assunto
antes de mim deram a entender,
ao não considerar a imigração islâmica como parte da imigração
libanesa", explica o historiador.
(PAULO DANIEL FARAH)
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