ARIADNE ARAÚJO
colaboração para Livraria da Folha
Divulgação |
História de amor impossível entre casal que se reencontra na velhice |
A cena primeira é a de um duplo suicídio. Mas, as aparências enganam. Pois não é de morte a história desse casal de velhinhos, abraçados no chão da cozinha, vestidos os dois em branco virginal, ela de longo véu de tule e ele de cravo na lapela - uma marcha nupcial se repetia no toca-disco. O tema aqui é amor. Um amor de juventude, alimentado e fortalecido por uma vida inteira de separação e impossibilidade. Agora, juntos assim na morte, também juntos assim na eternidade.
Em "O Penúltimo Sonho" (Suma), a espantosa morte do casal de idosos leva Andreu Dolgut, filho do elegante senhor, e Aurora Villamarí, filha da bela senhora, a mergulharem em investigações paralelas sobre este amor secreto e inacreditável dos pais. No presente e no passado, a escritora Ângela Becerra puxa-nos por caminhos tortuosos onde debulha, como um pão de que se comem as migalhas, a verdade sobre a paixão incontrolável entre dois adolescentes. Depois de uma noite de beijos, ela diz: "vou me casar, vou me casar com Jean".
Jean Doulgut, um simples e pobre garçom. Ela, Soledad Urdaneta, filha única de um milionário. Pelas nuvens pesadas no céu deste enredo literário, o leitor já desconfia que o pacto de amor dos inocentes jovens foi cortado ao meio pelo muro das convenções. Assim, separados, eles não tinham escolha, seguiram mortos-vivos na vida: casaram-se, tiveram filhos, amargaram o fel e o mel. Até o reencontro, ambos na casa do 80 anos, para cumprirem, finalmente, a promessa de casamento feita um ao outro, em uma certa praia distante no tempo.
A morte dos pais ligou os respectivos filhos, estranhos um ao outro até então, de uma forma inesperada. Nas pegadas da história dos pais, aproximaram-se, olharam-se, e o amor de novo abriu suas longas asas sem que soubessem de imediato.
"Quem não amou, não viveu", diz ele para a mulher que acabara de entrar na sua vida. E quando se beijaram, ouviram nas suas cabeças a música que serviu de tema aos pais deles: "Tristesse", de Chopin.
O verdadeiro amor não tem idade e nem morre, dizem. Mas os dois amantes morreram de amor. A sua história de Romeu e Julieta, a escritora colombiana Ángela Becerra pincelou com toques irreais - a crítica chama o trabalho dela de idealismo mágico. E este amor que ela construiu no livro é indestrutível, passa de geração a geração. A coisa funciona mais ou menos como uma herança genética, da qual não se pode fugir, porque o amor sorrateiro e traiçoeiro lança sempre flecha certeira. E quem ama assim "vive junto até mais que o penúltimo sonho".
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"O Penúltimo Sonho"
Autoras: Angela Becerra e Eliana Aguiar
Editora: Suma
Páginas: 408
Quanto: R$ 49,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
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