Livraria da Folha

 
27/09/2010 - 19h33

Autor de "1984" era misógino e homofóbico, revela livro

ARIADNE ARAÚJO
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação\Companhia das Letras
Orwell era progressista na visão política, mas conservador em questões individuais
Orwell era progressista na visão política, mas conservador em questões individuais

A verdade por trás do mito George Orwell. Diz-se, ele era misógino, visionário, antiamericano, anarquista, conservador. Mas, indo além do mito, o crítico literário Christopher Hitchens estudou a obra e vida deste homem que, no século 20, deu ao mundo dois grandes livros - "A Revolução dos Bichos", em 1945 e, quatro anos mais tarde, o célebre "1984". Para Hitchens, esse sujeito magricela e altivo, "dono de uma personalidade pertinaz e de uma máquina de escrever gasta", era, acima de tudo, um grande humanista.

Em "A Vitória de Orwell" (Companhia das Letras, 2010), o crítico literário e escritor diz que, sim, George Orwell foi conservador em muitas coisas, mas não em política. Se havia algo que ele mais prezava no mundo, era a liberdade e a igualdade. E o escritor defendeu essa crença nos seus artigos de jornais e combateu sem trégua o nazismo, o fascismo, o imperialismo. "Orwell ajudou a manter viva a imprensa socialista na Inglaterra", lembra Hitchens.

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Roteiro crítico para a compreensão do pensamento de George Orwell
Roteiro crítico para a compreensão do pensamento de George Orwell

Quando a Espanha se viu ameaçada pelo fascismo de Franco, ele apresentou-se como voluntário para deter o golpe direitista - no front da resistência, teve a garganta atravessada por uma bala. Filho de Ingleses, ele nasceu em Bengala, na Índia, e começou a vida como agente de polícia na colônia inglesa da Birmânia, mas deixou o trabalho por razões óbvias: "eu era a favor dos birmaneses e contra os opressores, os ingleses". Depois disso, passou a defender o fim das colonizações no mundo. Inclusive na Índia.

A acusação de misógino vem, talvez, pela dificuldade que Orwell tinha com as mulheres. Segundo Christopher Hitchens, não é mesmo exagero dizer que ele escrevia para um público masculino. Vale dizer, Orwell casou-se, mas a mulher morreu depois de uma cirurgia malfeita.

Também outra acusação, mas essa ele deixa claro em sua prosa: um preconceito contra homossexuais. "Ele se desdobrava para escarmentar os 'efeminados', 'os maricas' e a 'sodomia', o que, como acabamos aprendendo, pode ser um mau sinal", diz Hitchens.

O escritor, jornalista e ensaísta morreu cedo, vítima de tuberculose, e ainda pobre. No livro de Christopher Hitchens, ficamos sabendo que viveu tempos de miséria, lavou pratos em Paris e perambulou pela Inglaterra. Sua crítica implacável aos sistemas totalitários dominou o século 20, mas ele continua sendo muito atual. Seu olhar que conseguia ver longe no tempo, alcançou temas contemporâneos e seus textos expressam idéias muito importantes hoje em dia, como a linguagem, cultura de massa e ainda mantinha uma forte preocupação com o meio ambiente, uma atitude ecológica, como chamaríamos agora.

 
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